'O Agente Secreto' empolga crítica internacional após estreia em Cannes; confira impressões
Veículos destacam apuro estético e originalidade da narrativa, apontando Kleber Mendonça como "um dos grandes nomes do cinema contemporâneo"

"O Agente Secreto", novo longa-metragem de Kleber Mendonça Filho, teve uma recepção entusiasmada da crítica internacional após estreia na mostra competitiva do Festival de Cannes no último domingo (18).
Ambientado no Brasil da década de 1970, o filme mistura suspense político e memória afetiva. A produção foi ovacionada por mais de dez minutos no prestigiado Grand Théâtre Lumière.
Veículos como Variety, The Hollywood Reporter, Deadline e IndieWire destacaram o apuro estético, a atuação de Wagner Moura e a originalidade da narrativa, apontando o diretor pernambucano como "um dos grandes nomes do cinema contemporâneo" (Hollywood Reporter).
De acordo com os textos, Mendonça Filho mais uma vez entrelaça referências da história pernambucana com suas próprias vivências, numa ficção complexa e original, que deve reforçar - com orgulho - o lugar do Recife no mapa do cinema mundial. A seguir, confira um resumo das impressões de alguns principais portais de cinema do mundo.
Variety
Para o crítico Peter Debruge, "O Agente Secreto" é uma imersão vívida na atmosfera política e climática do Recife de 1977, construída com um estilo que homenageia mestres como John Carpenter, Brian De Palma e Martin Scorsese.
O texto elogia o modo como Kleber transporta o espectador para a época com autenticidade e destaca o uso de tecnologia digital combinada a lentes vintage para recriar o visual do período.
"Mendonça começou sua carreira como repórter e crítico, e essa sensibilidade permeia cada quadro, alcançando um equilíbrio atraente entre originalidade e homenagem", diz.
The Hollywood Reporter
David Rooney chama atenção para a forma como elementos inusitados (como a lenda da "perna cabeluda", que aparece no filme) se integram ao enredo sem quebrar a tensão dramática.
A atuação de Wagner Moura, interpretando Marcelo, é celebrada como um retorno marcante ao cinema brasileiro.
"Apesar de seus floreios humorísticos e personagens cômicos, 'Agente Secreto' é um filme profundamente sério sobre uma época dolorosa do passado brasileiro, quando inúmeras pessoas desapareciam, assassinos de aluguel negociavam preços e até mesmo cidades remotas, onde a ditadura era praticamente invisível, sentiam seu longo alcance", escreve.
Para o crítico, Kleber atinge aqui o ponto mais alto de sua carreira e "o filme merece colocá-lo no ranking dos maiores cineastas contemporâneos do mundo".
Deadline
Pete Hammond descreve o filme como uma obra densa e estilosa, com uma trama de suspense que inclui um número elevado de mortes e personagens sombrios.
Apesar de considerar o roteiro longo e por vezes confuso, o crítico reconhece o impacto visual e emocional do filme, especialmente no retrato de um Brasil em transformação.
"O elenco de apoio, bastante numeroso, incluindo o personagem regular de Filha, Udo Kier, preenche todas as lacunas neste roteiro excessivamente longo - de 158 minutos - às vezes confuso, que Filho, no entanto, conseguiu infundir com estilo e emoção em tela grande", diz.
IndieWire
David Ehrlich define "O Agente Secreto" como um thriller belíssimo e memorável, que evita os clichês do gênero para construir um drama introspectivo e impregnado de estilo.
O crítico aponta a força da ficção como ferramenta de verdade e elogia a forma como o diretor transforma uma narrativa política em um vibrante "palácio da memória".
"Mendonça exuma o passado como base para uma história puramente ficcional e, ao fazê-lo, articula como a ficção pode ser ainda mais valiosa como veículo para a verdade do que como ferramenta para encobri-lá", escreve.