'O Agente Secreto' estreia em Cannes com frevo, 13 minutos de aplausos e presença da 'perna cabeluda' no longa
Novo filme de Kleber Mendonça Filho, com Wagner Moura e Maria Fernanda Cândido, estreou como parte da Competição Oficial do festival

Com cenas rodadas no Recife, o aguardado "O Agente Secreto", novo longa-metragem do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, teve sua estreia mundial neste domingo (18), no Festival de Cannes, na França.
Segundo a distribuidora Vitrine Filmes, a produção foi ovacionada por mais de dez minutos no prestigiado Grand Théâtre Lumière, como parte da Competição Oficial do festival.
Além do diretor, estiveram presentes os atores Wagner Moura, Maria Fernanda Cândido e Gabriel Leone, além da produtora Emilie Lesclaux.
Frevo no tapete vermelho
A presença brasileira se fez notar já na chegada da equipe: o tapete vermelho foi tomado pelo frevo, com uma apresentação vibrante do grupo Os Guerreiros do Passo, ao som da Orquestra Popular do Recife. A ação contou com incentivo do Governo de Pernambuco.
Também foi levado um estandarte em homenagem ao Cinema São Luiz, um dos últimos cinemas de rua do país, que serviu como locação para o filme.
Trama
Ambientado no Brasil de 1977, O Agente Secreto é descrito como um thriller político. A narrativa acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que retorna ao Recife após anos afastado, em busca de paz. Aos poucos, ele percebe que a cidade natal guarda mais mistérios e perigos do que imaginava.
Marcelo aceita um trabalho temporário em um cartório de registro de identidade — parte como disfarce, parte em busca de documentos que revelem algo sobre o passado de sua mãe.
Recepção da crítica
A crítica internacional recebeu o longa com entusiasmo. Portais como Variety, IndieWire e Deadline destacam a forma como Kleber Mendonça Filho continua a explorar temas ligados à memória e à construção do passado, recorrentes em sua filmografia.
"Um dos temas explorados pelo filme é a forma como a riqueza e o privilégio impactam desproporcionalmente o legado histórico de uma pessoa - algumas vidas deixam marcas substanciais, outras são apagadas; algumas vozes são ouvidas, outras silenciadas", escreveu Wendy Ide, do Screen Daily.
Carlos Aguilar, crítico do The Playlist, comparou o escopo do filme ao de Roma, de Alfonso Cuarón: "Pode-se apreciar O Agente Secreto tanto pela forma como trabalha o contexto histórico quanto pela recriação precisa de uma cidade num momento específico."
O folclore e o fantástico


Entre os elementos que mais chamaram atenção da crítica está uma cena fantástica em que uma "perna cabeluda" (figura do folclore recifense) ataca homens envolvidos em encontros sexuais num parque. A cena é interpretada como uma metáfora da repressão durante a ditadura militar.
Com a chegada do Carnaval, o número de mortes por causas misteriosas aumenta, até chegar a 100 vítimas. Em dado momento, um tubarão é encontrado com uma perna humana, evocando elementos do horror popular.
Enquanto isso, o sogro de Marcelo é o arquiteto do Cinema São Luiz, onde ocorrem diversas cenas do filme. O protagonista tenta evitar, a todo custo, que seu filho assista ao longa Tubarão, de Steven Spielberg — sucesso à época nos cinemas de rua do Recife.
Narrativa fragmentada
A trama se desdobra ainda em outra temporalidade, no ano de 2025, em que duas estudantes universitárias recebem a tarefa de transcrever fitas cassete ligadas ao caso de Marcelo. Essa linha narrativa contribui para montar o quebra-cabeça de memórias e documentos que atravessa o filme.
Com O Agente Secreto, Kleber Mendonça Filho mais uma vez entrelaça referências da história pernambucana com suas próprias vivências, numa ficção complexa e original, que deve reforçar - com orgulho - o lugar de Recife no mapa do cinema mundial.