MÚSICA | Notícia

Las Bibas From Vizcaya, recifense que virou diva global das pistas, faz retorno à noite da capital

DJ e drag queen, residente do Circuit Festival, toca no aniversário de 23 anos do Club Metrópole: 'Mercado brasileiro está muito voltado ao pop'

Por Emannuel Bento Publicado em 16/05/2025 às 18:57

Las Bibas From Vizcaya é, por si só, uma personagem envolta em mistério. Para quem não a conhece a fundo, pode soar como um grupo ou coletivo artístico - e isso não é por acaso.

"Coloquei um nome no plural para confundir as pessoas", afirma, com a ironia afiada que lhe é característica, a DJ, produtora musical e drag queen recifense que se tornou a única brasileira residente no prestigiado Circuit Festival, em Barcelona.

Neste sábado (17), ela é uma das atrações do aniversário de 23 anos do Club Metrópole, no Centro do Recife, a partir das 22h. A noite marca também a inauguração da nova Pista New York, localizada no térreo da casa.

Pioneirismo digital

Fazendo jus ao nome no plural, Las Bibas criou diversas personagens ao longo de sua trajetória, especialmente nos podcasts que produziu entre 2005 e 2014 — quando esse formato ainda era praticamente inexplorado no Brasil.

Muitos também a conhecem pelas redublagens satíricas de novelas, como a célebre paródia de Vale Tudo (1989), da TV Globo, publicada há quase duas décadas.

Seu trabalho, entre o deboche e a crítica, tornou-se referência na cultura de memes — mas sempre serviu a um propósito maior: destacar sua verdadeira paixão, a música eletrônica.

Com uma carreira marcada por produções que transitam entre vertentes como o house e o tribal, Las Bibas já assinou remixes para nomes como Pabllo Vittar e a cantora norte-americana Ava Max.

Recife

ALAN RODRIGUES/DIVULGAÇÃO
Fachada do Club Metrópole, no Recife - ALAN RODRIGUES/DIVULGAÇÃO

Recifense de nascimento, Las Bibas começou sua trajetória justamente no endereço que hoje abriga o Club Metrópole, há cerca de 30 anos, quando o espaço era ocupado pela boate Misty — um nome que permanece na memória afetiva da noite local.

Também foi presença constante na Doktor Froid, primeira empreitada da produtora cultural Maria do Céu. "Por tudo isso, esse lugar tem uma energia carregada (risos). Foi na Misty que eu literalmente me criei", relembra.

A apresentação deste sábado marca seu retorno à cidade após sete anos sem se apresentar por aqui. "É surreal. Sou residente do maior selo da Espanha, o Circuit Barcelona, mas não toco na minha terra. Sempre tem essa coisa de que santo de casa não faz milagre", brinca.

Na sua avaliação, a cena da música eletrônica no Brasil vive um momento de retração: "O mercado aqui está muito voltado para o pop".

Origem da personagem

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Imagem de Las Bibas From Vizcaya, drag queen, DJ e produtora recifense - DIVULGAÃ?Ã?O

Las Bibas From Vizcaya nasceu no início dos anos 2000, em Barcelona, onde a artista viveu por cerca de 14 anos. "Surgiu por acaso, numa festa em que os homens iam vestidos de mulher", conta.

Na época, ela já discotecava na boate, mas os outros DJs eram heterossexuais. "Comecei a pensar que estava envelhecendo, e as novas gerações são muito etaristas. Então percebi que precisava congelar a minha idade. Não existia essa cultura atual das drag queens. Existia a RuPaul, mas ainda não o Drag Race", explica.

O nome, assim como a personagem, é uma fusão bem-humorada e inventiva de referências culturais: "'Las' vem do espanhol, 'Bibas' do pajubá, 'from' do inglês, e Vizcaya é uma região do norte da Espanha, na fronteira com a França. Misturei quatro idiomas e achei sonoro", explica.

Discografia para as pistas

Desde então, Las Bibas lançou 15 álbuns e acumulou hits como Master & Slave, House Music, Divadrag, Então Tá e Não Se Dorme na Europa. As duas últimas músicas, inclusive, se apropriam de áudios que viralizaram na internet — uma mostra do faro da artista para explorar elementos da cultura digital.

"Comecei a fazer os vídeos de paródia porque queria me comunicar com o público brasileiro, num momento em que a internet ainda engatinhava. Não sou humorista, mas tenho um humor ácido, uma velocidade de raciocínio rápida", define.

Suas produções autorais tocam em clubes da Europa, Ásia e América Latina, muitas delas reverberando como hinos nas pistas LGBTQIA+ e festas como a antiga The Week e Hell & Heaven, no Brasil. Seu trabalho já foi resenhado na coluna de música da revista "Time Out", em Nova York.

O retorno de Las Bibas From Vizcaya às pistas do Recife é como um gesto de afirmação do Club Metrópole, que, assim como a artista, celebra a longevidade e a reinvenção sem deixar de dialogar com o seu tempo

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