Joelsonbiu transforma o Sertão em arte cerâmica na Número Galeria, no Recife
Exposição "Infinitamente Sertão" conta com esculturas que transformam espaço expositivo: 'Cerâmica é humanidade em forma de arte'

Natural de Vitória de Sonta Antão, o artista plástico Joelsonbiu tem criado colunas cerâmicas que evocam elementos da cultura popular e do realismo fantástico com uma visualidade autoral.
Em sua nova exposição, "Infinitamente Sertão", ele reúne esculturas que buscam um sertão imaginado, inspirado por narrativas orais, memórias, literatura, cinema e teatro.
A mostra tem abertura marcada para esta quinta-feira (15), às 19h, na Número Galeria, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A curadoria é de Joana D'Arc Lima.
Juntas, as dez esculturas cerâmicas transformam o espaço expositivo, cruzando o mítico, o bruto e o cotidiano.
Cerâmica como política
"Eu sou da zona da mata, de Vitória de Santo Antão, mas o que me contavam sobre o sertão era outra coisa. Eu inventei uma vegetação, um ambiente, a partir dessas histórias que ouvi quando criança. Era uma construção imaginária, uma fabulação minha do que seria o sertão", diz o artista.
Joelsonbiu presta uma homenagem à obra "Coluna Infinita", do artista romeno Constantin Brancusi, ressignificando o gesto construtivo a partir de suas pesquisas.
"O artista que se preza se coloca politicamente, mesmo sem levantar bandeira. A cerâmica conta a história do mundo. É feita de restos, de coisas que foram destruídas e depois reutilizadas. Os grandes museus estão cheios de peças coladas, reconstruídas, com marcas de guerras e erosões. Cerâmica é humanidade em forma de arte", diz.
"É como se você abrisse as portas e corresse desesperadamente e infinitamente em busca do que você nem sabe exatamente o que vai encontrar."
Curadoria
A curadora destaca também como a exposição é atravessada por múltiplas referências simbólicas e materiais, da força do barro à composição cromática das peças, passando pelo diálogo com a história da arte.
"Eu venho acompanhando a pesquisa e a poética de Joelsonbiu há muitos anos. Sua inquietude estética e seu envolvimento com a cerâmica como linguagem expressiva sempre me interessaram. O projeto 'Infinitamente Sertão' nasceu da pesquisa dele sobre forma, escultura e ocupação do espaço, que culminou na criação das colunas-totens, base da exposição, e no filme-documentário O Duque de Capuleto", diz Joana D'Arc.
"Queríamos ocupar a galeria com as colunas como se fossem pilares de sustentação, criando um ambiente ritualístico e contemplativo. A questão cromática, os caminhos entre as peças e a justaposição com outras séries do artista criaram um espaço simbólico e sensorial, quase labiríntico, que estimula errâncias, pausas e encontros."
Além das esculturas, a exposição apresenta também objetos como Matriz da Luz, trabalho que incorpora medalhões e cornucópias inspirados em imagens fotográficas de nus femininos e cenas eróticas do final do século 19 e início do 20.