'The White Lotus' segue interessante, mas tem fôlego reduzido em terceira temporada
Criada por Mike White, série da HBO segue seu estilo contemplativo e 'lento', mas com narrativas menos cativantes e clímax apressado

Em um cenário de produções cada vez mais aceleradas e moldadas para o consumo rápido no streaming, "The White Lotus" nadou contra a corrente.
Criada por Mike White ("Escola do Rock", "Meu Malvado Favorito 2"), a série da HBO apostou em um ritmo contemplativo, personagens complexos e uma tensão que se estende por episódios sem pressa.
A fórmula funcionou. Vencedora de 15 Emmys e dois Globos de Ouro, a produção se consolidou como um dos fenômenos recentes da televisão norte-americana. A terceira temporada, encerrada nesta semana, foi assistida por mais de 18 milhões de pessoas — e a quarta já está confirmada.
O conceito permanece: cada temporada acompanha novos hóspedes em um resort de luxo pertencente à fictícia rede White Lotus. Trata-se de uma antologia com novas tramas, locações e elencos a cada ano. Depois de estrear no Havaí e de conquistar a crítica com a instigante temporada passada, ambientada na Sicília, a série agora se desloca para Koh Samui, na Tailândia.
Tailândia como cenário
A partir daqui, o texto contem spoilers.
A temporada se organiza em três núcleos principais. Um deles envolve a apresentadora Jaclyn Lemon (Michelle Monaghan) e Laurie Duffy (Carrie Coon) e Kate Bohr (Leslie Bibb), amigas de longa data que carregam mágoas mal resolvidas. Apesar de diálogos que tocam em temas relevantes, a narrativa pouco avança e carece de impacto dramático.


Em outro núcleo, Timothy Ratliff (Jason Isaacs) é um executivo em decadência que descobre, já durante as férias, que está falido por envolvimento em um esquema de corrupção. Ele lida com a tentação de tirar a própria vida e a da família — dilema que se estende sem grandes surpresas até um desfecho em que sequer vemos o momento da revelação.
A tentativa de criar choque surge mais forte em uma controversa cena entre os filhos do personagem, Saxon (Patrick Schwarzenegger) e Lochlan (Sam Nivola), que protagonizam um momento de incesto. A sequência repercutiu, mas soa deslocada, mais como provocação do que peça coerente do enredo.
Vingança


Outro o arco foca em Rick Hatchett (Walton Goggins), que se hospeda com sua companheira (Aimee Lou Wood) para vingar a morte do pai, supostamente assassinado pelo dono do hotel (Scott Glenn).
A tensão se resolve em um clímax violento, já esperado pela lógica da série, mas que aqui chega de forma apressada, sem o mesmo peso das temporadas anteriores.
Há também núcleos subaproveitados, como o do segurança Gaitok (Tayme Thapthimthong) e da funcionária Mook (Lalisa Manobal, do grupo Blackpink), que não encontram espaço para se desenvolver.
Apesar das fragilidades, The White Lotus segue como uma das produções mais originais da televisão atual, trazendo uma certa banalidade da vida em meio a tanta riqueza.
A pergunta que agora se impõe é se a série deve continuar apenas por sua popularidade — mesmo que o frescor criativo pareça começar a se dissipar. É uma questão que cada espectador pode responder por si.