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Pernambucano Cícero Dias tem obras inéditas expostas no Brasil

Reunindo 42 trabalhos, mostra abrange produções de 1920 a 1980 e destaca a inédita 'Cabaré', adquirida por um colecionador francês nos anos 1930

Por Emannuel Bento Publicado em 08/04/2025 às 15:14

A exposição "Cícero Dias - com açúcar, com afeto", com 42 obras do grande expoente modernista de Pernambuco, está em sua reta final no Farol Santander, centro de cultura, lazer, turismo e gastronomia em São Paulo.

Entre destaques da exposição estão obras como "Cabaré" (déc. 1920), uma aquarela sobre papel inédita no Brasil, e a conhecida "Casa grande do Engenho Noruega" (1933), que ilustrou muitas edições do livro "Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freyre.

CÍCERO DIAS ©/DIVULGAÇÃO
Imagem da obra "Cabaré", de Cícero Dias, pintada na década de 1920 e inédita no Brasil - CÍCERO DIAS ©/DIVULGAÇÃO

Com curadoria de Denise Mattar e consultoria de Sylvia Dias (filha do artista), a mostra realça a história do artista, contextualizando sua trajetória e evidenciando a sua relação com tradições pernambucanas.

Embora tenha vivido a maior parte de sua vida em Paris, onde foi amigo de Pablo Picasso, Paul Éluard, Alexander Calder entre outros, Cícero Dias nunca deixou de fato o Engenho Jundiá, onde nasceu.

A exposição entrou em cartaz em janeiro de 2025, sendo a primeira do ano. O público pode visitá-la no 22º andar do espaço até 27 de abril (domingo).

Percursos

RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da exposição 'Cícero Dias - Com açúcar, com afeto', montada no Farol Santander, em São Paulo - RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO
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Imagem da exposição 'Cícero Dias - Com açúcar, com afeto', montada no Farol Santander, em São Paulo - RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO
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Imagem da exposição 'Cícero Dias - Com açúcar, com afeto', montada no Farol Santander, em São Paulo - RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO

O percurso circular da mostra apresenta as aquarelas oníricas da década de 1920. Exibe também as pinturas memorialistas dos anos 1930, atravessa o surrealismo dos anos 1940 e aponta a abstração da década de 1950.

"Cícero Dias - com açúcar, com afeto" ainda traz sua produção dos anos 1960 a 1980, quando ele retorna à figuração, incorporando toques nostálgicos dos anos 1930, acentos surrealistas da década de 1920 e as conquistas estruturais da abstração.

"Lírico, agressivo, caótico, sensual, poético e emocionante, o trabalho de Cícero Dias, no final dos anos 1920, era muito diverso de tudo o que se produzia na época. Ele sacudiu os nossos incipientes modernistas, estonteados pela força, a estranheza e a espontaneidade de sua obra", diz Denise Mattar, curadora da mostra.

A curadoria e a expografia organizaram a exposição em núcleos, intitulados de "Sonhos" (1925-1933); "Recordações" (1930-1939); "Cronologia" (1937); "Novos Caminhos" (1948-1964); e "Reminiscências" (1950-1980).

Destaques

Um dos destaques da exposição é a obra inédita "Cabaré" (déc. 1920), uma aquarela sobre papel com dimensões de 49,5 x 29,5 cm. Este trabalho foi adquirido por um colecionador francês nos anos 1930, após uma exposição de Cícero Dias em Paris, permanecendo na Europa desde então. Recentemente, a obra foi adquirida pelos colecionadores brasileiros que a cederam para esta mostra.

Outro significativo trabalho de Cícero Dias exibido nesta exposição é a tela aquarelada "Casa grande do Engenho Noruega" (1933). Esta obra é uma das principais da carreira do artista e ilustrou a capa de diversas edições do livro Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, um marco na literatura brasileira.

CÍCERO DIAS ©/DIVULGAÇÃO
Imagem da obra "Casa grande do Engenho Noruega", de Cícero Dias, pintada em 1933 - CÍCERO DIAS ©/DIVULGAÇÃO

O ambiente também conta com duas obras táteis, com recurso de acessibilidade, incluindo Baile no Campo (1937), da Coleção Santander Brasil, e Sem Título (s.d.), da Coleção Marcos Ribeiro Simon, São Paulo, SP.

Entre as telas que integram o espaço, há peças provenientes de algumas das principais instituições, como o Santander Brasil, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ), o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu de Arte Brasileira da FAAP (SP), o Instituto São Fernando (RJ), além de colecionadores particulares, como Gilberto Chateaubriand (RJ), Waldir Simões de Assis (PR), Marta e Paulo Kuczynski (SP), Leonel Kaz (RJ), Marcos Simon (SP), entre outros.

"O Farol Santander tem orgulho em apresentar ao público a obra de Cícero Dias, artista emblemático do modernismo brasileiro, cujo trabalho transcende fronteiras e dialoga com as vanguardas internacionais. Sua arte, marcada por uma paleta de cores vibrante, reflete as paisagens e a cultura nordestina, evocando a essência lírica do Estado de Pernambuco", comenta Maitê Leite, Vice-presidente Executiva Institucional Santander.

O artista

RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da exposição 'Cícero Dias - Com açúcar, com afeto', montada no Farol Santander, em São Paulo - RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO
RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO
Imagem da exposição 'Cícero Dias - Com açúcar, com afeto', montada no Farol Santander, em São Paulo - RAQUEL SILVA/DIVULGAÇÃO

Nascido em 1907, no Engenho Jundiá, Pernambuco, Cícero Dias ingressou nos cursos de Arquitetura e Belas Artes no Rio de Janeiro, mas não os concluiu. Em 1937, mudou-se para Paris, onde viveu até o fim da vida, integrando-se plenamente à vanguarda artística europeia. Apesar da distância, o Brasil permaneceu presente em sua obra, assim como ele nunca foi esquecido por seu país natal.

Em 1938, durante sua primeira exposição em Paris, o crítico francês André Salmon descreveu Cícero Dias como um "selvagem esplendidamente civilizado", uma definição que acompanhou toda a carreira do artista, de sua estreia em 1928 até seu falecimento em 2003.

Com uma trajetória longa e prolífica, Cícero Dias manteve uma fidelidade rara a si mesmo, sempre ousando criar livremente, sem temer críticas.