A aposta de Raquel Lyra para 2026 na saúde pública com seus riscos e possíveis marcos

Promessa de reformar toda a rede hospitalar até 2026 amplia entregas, mas expõe o governo a uma cobrança sem precedentes na Saúde Pública

Por Cinthya Leite Publicado em 23/12/2025 às 19:09

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A inauguração da nova sede da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, nesta quarta-feira (23), poderia ser tratada como mais um ato administrativo, com mudança de endereço, prédio novo, fotos oficiais. O discurso da governadora Raquel Lyra, no entanto, desloca o evento para um campo mais ambicioso: o de reposicionar a Saúde Pública como eixo central do governo e, mais do que isso, como um sistema em que decisões macro e soluções cotidianas disputam o mesmo nível de prioridade. 

Quando questionada por esta coluna Saúde e Bem-Estar, do JC, sobre prioridades para 2026, a resposta foi direta: "todas". Ao dizer que tudo é prioridade, Raquel assume um risco político evidente. Governos, em geral, escolhem vitrine, elencam ações estratégicas e deixam outras para depois. Mas para a governadora, não existe reforma parcial possível quando o problema é estrutural.

Uma sede que simboliza gerenciamento

A nova casa da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) é apresentada como símbolo dessa virada. A governadora Raquel Lyra descreve um ambiente inspirado em grandes empresas globais, com "gestão à vista" (modelo de gerenciamento que torna metas, indicadores e status de projetos visíveis e acessíveis a todos, a fim de promover transparência e agilidade). 

"Trabalhamos aqui como as grandes empresas do mundo: com gestão à vista, onde todos se enxergam para diminuir distâncias e retirar as paredes que, muitas vezes, atrapalham os processos e criam burocracia. É um novo momento em que trabalhamos para ser mais eficientes, assertivos e com mais entregas", disse Raquel ao falar sobre a nova sede da SES-PE, ao lado da secretária de Saúde de Pernambuco, Zilda Cavalcanti

A ideia de retirar barreiras arquitetônicas aparece como metáfora para um problema antigo da máquina pública: processos lentos, setores que não se conversam e decisões que se perdem nos corredores.

Com a nova sede, o governo não quer apenas mostrar que há uma nova estrutura na Saúde, mas afirmar que o setor entra em 2026 "com o pé no acelerador", como bem mencionou a governadora. A expressão dela é forte porque sugere continuidade.  

"Todas" como resposta política

Quando afirma que todos os hospitais pernambucanos estão sendo reformados e que são prioridade, a governadora não faz escolha entre áreas, mas sela um compromisso simultâneo com todas elas. Hospitais da Região Metropolitana, unidades do interior e o Mestre Vitalino (em Caruaru, no Agreste) entram no mesmo pacote. A estratégia começa pelos de maior demanda, mas o compromisso declarado é entregar todos reformados até o ano que vem.

"Todas as reformas são prioritárias. A gente vai entregar todos eles (reformados) até o ano que vem; não tenha dúvida nenhuma disso. E a gente vai entregando por partes, vai ficando pronto e a gente vai entregando, e a população já começa a perceber isso de maneira muito clara", ressaltou Raquel. 

Os números ajudam a sustentar o discurso. "Já fizemos contratação de mais de 14 mil profissionais de saúde ao longo do nosso tempo, abrimos mais de 750 leitos no Estado de maneira descentralizada, batemos recordes de cirurgias eletivas, reduzimos filas de exames de alta complexidade em diversas Gerências Regionais de Saúde. E o nosso trabalho não vai parar um minuto sequer."

Ainda assim, mesmo "com o "pé no acelerador", Raquel evita a promessa fácil do "fila zero". Ao afirmar que "o zero absoluto na Saúde não existe", a governadora reconhece que novas demandas surgem todos os dias e que o objetivo não é eliminar a espera, mas torná-la aceitável - algo que ela compara ao padrão da saúde privada.

"A redução drástica, daquelas pessoas que esperavam um ou dois anos, isso já foi feito. Agora, a gente poder manter um tempo que seja um aceitável para que as pessoas possam ter a oportunidade de diagnóstico e cura quando possível, e o tratamento quando indicado."

Esse realismo funciona como "vacina" contra cobranças futuras. Ao mesmo tempo, estabelece um novo parâmetro de avaliação: não mais o da fila de espera, mas o tempo que se espera e se esse tempo compromete ou não a chance de cura. Isso exige transparência, dados constantes e comunicação clara: algo que, nem sempre, acompanha grandes reformas.

Um discurso que cobra resultado

Ao dizer que, dentro dos pacotes de reforma dos hospitais, tudo é prioridade, Raquel Lyra assume que não haverá desculpas seletivas. Se tudo importa, tudo será cobrado: do grande equipamento ao micro, do hospital de grande porte ao de menor complexidade.

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