Menopausa e endometriose: reposição hormonal exige avaliação individualizada
Especialista alerta que, em mulheres com histórico de endometriose ou adenomiose, terapia hormonal pode reativar a doença e requer monitoramento
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A terapia de reposição hormonal (TRH), indicada para aliviar sintomas da menopausa, deve ser adotada com cautela em mulheres com histórico de endometriose ou adenomiose. A orientação é do ginecologista Jardel Pereira Soares, especialista em endometriose, que destaca o papel do estrogênio como um dos principais motores da doença.
Segundo o médico, o receio entre ginecologistas é justificado: oscilações hormonais podem favorecer tanto o retorno da condição (recidiva) quanto, em casos raros, a transformação maligna de lesões residuais.
“Relatórios recentes mostram que a recidiva em pacientes que fazem TRH varia de 1,5% a 5,5%. Já a malignidade é baixa, mas ocorre em frequência maior do que na população geral, especialmente para câncer de endométrio e ovário”, explica.
Por que a reposição hormonal pode reativar a endometriose
A endometriose é altamente dependente do estrogênio. Por isso, a TRH, especialmente se usada de forma inadequada, pode estimular implantes residuais da doença. A falta de estudos robustos sobre o manejo pós-menopausa aumenta a necessidade de uma abordagem personalizada.
“O diagnóstico, tratamento e acompanhamento devem ser individualizados, considerando sintomas, riscos, preferências e uma discussão clara sobre benefícios e possíveis complicações”, afirma Soares.
O especialista reforça que a avaliação multidisciplinar e o acompanhamento contínuo são essenciais para reduzir riscos.
Quando a TRH é contraindicada ou deve ser adiada
Algumas situações exigem intervenção prévia antes da reposição hormonal. Entre elas:
- Endometriose profunda sintomática (dor intensa, compressão intestinal/urinária, nódulos ativos): recomenda-se avaliar cirurgia antes da TRH, por risco de reativação de implantes.
- Adenomiose extensa com sangramento persistente: ginecologistas podem indicar histerectomia antes da reposição, já que o estrogênio exógeno estimula o tecido.
- Lesões residuais assintomáticas e estáveis: a TRH pode ser iniciada, desde que com vigilância clínica e por imagem.
Em mulheres que passaram por cirurgia completa e têm controle total da doença, a reposição hormonal tende a ser segura.
“A recidiva é rara, menos de 3%, quando há ressecção completa e uso de terapia combinada”, destaca o ginecologista.
Como deve ser feita a TRH nesses casos
O principal cuidado é evitar estrogênio isolado, devido ao risco maior de reativação e transformação maligna. Jardel recomenda:
- Esquemas combinados contínuos de estrogênio + progestagênio, mesmo em mulheres que já retiraram o útero;
- Acompanhamento regular, com monitoramento clínico e por imagem;
- Evitar fitoterápicos com ação estrogênica, pois podem imitar o efeito do hormônio no organismo.
Opções não hormonais para aliviar sintomas da menopausa
Para mulheres que não podem ou preferem não fazer TRH, existem alternativas eficazes:
1. Sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos)
- Antagonistas do receptor de neurocinina-3
- ISRS e IRSN
- Gabapentina
- Clonidina
2. Sintomas geniturinários
- Hidratantes e lubrificantes vaginais
- Ospemifeno
- Laser vaginal
3. Saúde óssea e prevenção da osteoporose
- Suplementação de cálcio e vitamina D
- Bisfosfonatos (para mulheres de alto risco)
Estilo de vida também influencia a evolução da doença
Além de medicamentos, mudanças comportamentais ajudam tanto na menopausa quanto no controle da endometriose.
- Alimentação anti-inflamatória: rica em antioxidantes, vitaminas D, C e E e ácidos graxos poli-insaturados; com baixa ingestão de ultraprocessados e carnes vermelhas.
- Exercício físico regular, essencial para saúde óssea e metabolismo.
- Fisioterapia pélvica e acupuntura, que ajudam na dor crônica.
- Apoio psicológico, com destaque para terapia cognitivo-comportamental e mindfulness.
“O objetivo é aliviar sintomas, modular inflamação e promover qualidade de vida. Cada decisão deve ser compartilhada entre médica e paciente, de forma informada e segura”, conclui o especialista.