Menopausa e endometriose: reposição hormonal exige avaliação individualizada

Especialista alerta que, em mulheres com histórico de endometriose ou adenomiose, terapia hormonal pode reativar a doença e requer monitoramento

Por Maria Clara Trajano Publicado em 05/12/2025 às 16:12

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A terapia de reposição hormonal (TRH), indicada para aliviar sintomas da menopausa, deve ser adotada com cautela em mulheres com histórico de endometriose ou adenomiose. A orientação é do ginecologista Jardel Pereira Soares, especialista em endometriose, que destaca o papel do estrogênio como um dos principais motores da doença.

Segundo o médico, o receio entre ginecologistas é justificado: oscilações hormonais podem favorecer tanto o retorno da condição (recidiva) quanto, em casos raros, a transformação maligna de lesões residuais.

“Relatórios recentes mostram que a recidiva em pacientes que fazem TRH varia de 1,5% a 5,5%. Já a malignidade é baixa, mas ocorre em frequência maior do que na população geral, especialmente para câncer de endométrio e ovário”, explica.

Por que a reposição hormonal pode reativar a endometriose

A endometriose é altamente dependente do estrogênio. Por isso, a TRH, especialmente se usada de forma inadequada, pode estimular implantes residuais da doença. A falta de estudos robustos sobre o manejo pós-menopausa aumenta a necessidade de uma abordagem personalizada.

“O diagnóstico, tratamento e acompanhamento devem ser individualizados, considerando sintomas, riscos, preferências e uma discussão clara sobre benefícios e possíveis complicações”, afirma Soares.

O especialista reforça que a avaliação multidisciplinar e o acompanhamento contínuo são essenciais para reduzir riscos.

Quando a TRH é contraindicada ou deve ser adiada

Algumas situações exigem intervenção prévia antes da reposição hormonal. Entre elas:

  • Endometriose profunda sintomática (dor intensa, compressão intestinal/urinária, nódulos ativos): recomenda-se avaliar cirurgia antes da TRH, por risco de reativação de implantes.
  • Adenomiose extensa com sangramento persistente: ginecologistas podem indicar histerectomia antes da reposição, já que o estrogênio exógeno estimula o tecido.
  • Lesões residuais assintomáticas e estáveis: a TRH pode ser iniciada, desde que com vigilância clínica e por imagem.

Em mulheres que passaram por cirurgia completa e têm controle total da doença, a reposição hormonal tende a ser segura.

“A recidiva é rara, menos de 3%, quando há ressecção completa e uso de terapia combinada”, destaca o ginecologista.

Como deve ser feita a TRH nesses casos

O principal cuidado é evitar estrogênio isolado, devido ao risco maior de reativação e transformação maligna. Jardel recomenda:

  • Esquemas combinados contínuos de estrogênio + progestagênio, mesmo em mulheres que já retiraram o útero;
  • Acompanhamento regular, com monitoramento clínico e por imagem;
  • Evitar fitoterápicos com ação estrogênica, pois podem imitar o efeito do hormônio no organismo.

Opções não hormonais para aliviar sintomas da menopausa

Para mulheres que não podem ou preferem não fazer TRH, existem alternativas eficazes:

1. Sintomas vasomotores (fogachos e suores noturnos)

  • Antagonistas do receptor de neurocinina-3
  • ISRS e IRSN
  • Gabapentina
  • Clonidina

2. Sintomas geniturinários

  • Hidratantes e lubrificantes vaginais
  • Ospemifeno
  • Laser vaginal

3. Saúde óssea e prevenção da osteoporose

  • Suplementação de cálcio e vitamina D
  • Bisfosfonatos (para mulheres de alto risco)

Estilo de vida também influencia a evolução da doença

Além de medicamentos, mudanças comportamentais ajudam tanto na menopausa quanto no controle da endometriose.

  • Alimentação anti-inflamatória: rica em antioxidantes, vitaminas D, C e E e ácidos graxos poli-insaturados; com baixa ingestão de ultraprocessados e carnes vermelhas.
  • Exercício físico regular, essencial para saúde óssea e metabolismo.
  • Fisioterapia pélvica e acupuntura, que ajudam na dor crônica.
  • Apoio psicológico, com destaque para terapia cognitivo-comportamental e mindfulness.

“O objetivo é aliviar sintomas, modular inflamação e promover qualidade de vida. Cada decisão deve ser compartilhada entre médica e paciente, de forma informada e segura”, conclui o especialista.

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