SBI alerta para falhas na prescrição de antibióticos em hospitais brasileiros

Pesquisa em mais de 100 hospitais revela falhas na dosagem e descarte de antibióticos, ampliando riscos de infecções resistentes no país

Por JC Publicado em 20/08/2025 às 16:47

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A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançou nesta quarta-feira (20) uma campanha nacional para chamar atenção sobre falhas na prescrição de antibióticos em hospitais públicos e privados. A ação faz parte da campanha “Será que precisa? Evitando a resistência antimicrobiana por antibióticos e antifúngicos”.

O alerta vem após uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualisa de Gestão (IQG) em 104 hospitais brasileiros, que revelou um dado preocupante: um em cada cinco hospitais não ajusta corretamente a dosagem de antibióticos. Além disso, 87,7% dos hospitais ainda utilizam antibióticos de forma empírica, ou seja, sem base em exames específicos, por tentativa e erro.

A pesquisa também apontou a ausência de protocolos de descarte e análise de efluentes hospitalares em todos os hospitais avaliados, o que transforma o uso inadequado de antibióticos em um problema também ambiental.

“Todos os indicadores reforçam a urgência de políticas públicas robustas. Precisamos combater urgentemente o uso indiscriminado de antibióticos”, afirmou Mara Machado, presidente do IQG.

Especialistas alertam que a prescrição incorreta desses medicamentos aumenta o risco de infecções hospitalares e contribui diretamente para o surgimento de bactérias resistentes — um problema que já mata cerca de 48 mil pessoas por ano no Brasil e pode causar mais de 1,2 milhão de mortes até 2050, caso nenhuma medida seja tomada.

Segundo Mara Machado, a resistência antimicrobiana dificulta o controle eficaz das infecções e ameaça a eficácia de tratamentos que hoje são comuns. Infecções como urinárias, pneumonias e complicações pós-cirúrgicas estão entre as que mais sofrem impacto com a resistência crescente.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera a resistência antimicrobiana uma “crise silenciosa”, com potencial para superar o câncer em número de mortes até 2050 — podendo causar mais de 5 milhões de óbitos anuais no mundo.

Para a infectologista Ana Gales, coordenadora do Comitê de Resistência Antimicrobiana da SBI, o uso empírico sem evidência científica é uma ameaça à saúde pública. “A resistência aos antibióticos é um fator agravante em muitos casos de morte, especialmente em UTIs. São riscos desnecessários que poderiam ser evitados com maior controle. Apesar de existirem comissões de controle de infecção hospitalar, há muitas falhas na aplicação dos protocolos”, afirmou.

Para a presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (AHOSP), Anis Ghattás, defende uma resposta coordenada e imediata.

“Os hospitais têm papel central nesse combate. Estamos trabalhando na implementação de protocolos rigorosos e na capacitação de equipes para o uso racional de antimicrobianos. O compromisso é com a orientação técnica e a preservação da eficácia desses medicamentos no futuro”, concluiu.

Com informações da Agência Brasil.

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