Poluição do ar aumenta risco de demência como Alzheimer, revela estudo com 30 milhões de pessoas
Meta-análise, estudo de alta evidência científica, compilou dados de 32 análises anteriores, com envolvimento de quase 30 milhões de participantes

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A exposição crônica à poluição do ar, comum em grandes centros urbanos, está diretamente associada a um risco aumentado de desenvolver demência, incluindo a doença de Alzheimer.
A conclusão é de um novo e robusto estudo, uma meta-análise publicada na prestigiada revista científica The Lancet Planetary Health, que compilou dados de 32 análises anteriores, envolvendo quase 30 milhões de participantes. Meta-análise é considerada padrão-ouro em medicina baseada em evidências, por sintetizar resultados de múltiplos estudos sobre o mesmo tema.
A meta-análise, liderada por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, mostra que a poluição do ar deve ser considerada um fator de risco modificável - ou seja, que pode ser prevenido. A neurologista Elisa de Paula França Resende, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), ressalta a relevância da pesquisa para a saúde pública.
"Este é um estudo de alta evidência científica, uma meta-análise de 32 estudos que compilaram dados de quase 30 milhões de participantes. Os resultados são claros: existe uma associação significativa entre a exposição crônica a poluentes específicos do ar e a incidência de demência", afirma Elisa.
"O risco aumenta entre 8% e 12%, o que é relativamente alto e reforça a importância de políticas ambientais e de saúde que visem à melhoria da qualidade do ar."
O estudo identificou três poluentes com forte associação com o aumento da incidência de demência, que podem desencadear processos inflamatórios e estresse oxidativo no cérebro:
- Material particulado fino (PM2,5): Para cada aumento de 10 microgramas por metro cúbico, o risco de demência sobe 17%.
- Dióxido de nitrogênio (NO?): Aumento de 10 microgramas por metro cúbico eleva o risco em 3%.
- Fuligem (black carbon): A cada micrograma por metro cúbico a mais, o risco de demência sobe 13%.
Para Elisa de Paula, a principal implicação do estudo é a possibilidade de mitigar o risco de demência com ações concretas.
"Se conseguirmos diminuir a poluição do ar, ou viver em lugares menos poluídos, podemos diminuir a incidência de demência. Isso transforma a questão em algo que vai além da saúde pública, pois envolve urbanismo e regulação ambiental, como sugerem os autores do estudo. Combater a poluição atmosférica é uma das estratégias mais eficientes de saúde a longo prazo, beneficiando não apenas o cérebro, mas a saúde geral da população."
O estudo também reforça a necessidade de mais pesquisas em países de baixa e média renda, onde a exposição à poluição tende a ser maior e os dados sobre a demência são menos abundantes.
A demência afeta hoje mais de 57 milhões de pessoas globalmente, um número que a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que quase triplique até 2050, o que torna urgente a busca por estratégias de prevenção.