Adrenalina autoinjetável ainda é inacessível no Brasil, apesar de ser essencial no tratamento da anafilaxia

Associação de Alergia reforça que o medicamento pode salvar vidas, mas está disponível apenas por importação e a preços elevados

Por Maria Clara Trajano Publicado em 07/07/2025 às 14:38

Reações alérgicas graves, como a anafilaxia, representam uma emergência médica que requer tratamento imediato. A forma mais eficaz de conter esse tipo de reação potencialmente fatal é com o uso de adrenalina autoinjetável, um medicamento essencial que ainda não está disponível no Brasil, exceto por meio de importação direta, com alto custo e burocracia para os pacientes.

Entre os principais gatilhos da anafilaxia estão alimentos, medicamentos, ferroadas de insetos e até o látex. A reação costuma surgir de forma rápida, podendo envolver diversos sistemas do corpo ao mesmo tempo — como a pele, sistema respiratório, gastrointestinal, cardiovascular e neurológico.

“A anafilaxia é uma reação alérgica sistêmica que, se não tratada a tempo com adrenalina, pode levar o paciente a óbito. Medicamentos, alimentos, ferroadas de insetos e látex são as principais causas”, explica a alergista Marisa Rosimeire Ribeiro, coordenadora do departamento científico de anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

O que é a caneta de adrenalina autoinjetável?

O dispositivo, também conhecido como autoinjetor, permite que o próprio paciente ou um familiar aplique adrenalina intramuscular, geralmente na coxa, ao primeiro sinal de anafilaxia. Isso reduz drasticamente o risco de complicações e aumenta a chance de sobrevivência.

“O dispositivo autoinjetável de adrenalina é um item obrigatório do kit de emergência de pacientes com reações de hipersensibilidade graves. Os pacientes e familiares devem ser treinados para reconhecer os sintomas de anafilaxia e aplicarem adrenalina imediatamente”, alerta a médica.

Porém, a caneta ainda não é produzida nem comercializada no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aguarda o pedido formal de registro de algum laboratório fabricante para que o medicamento possa ser avaliado e, possivelmente, aprovado para comercialização no País.

Projeto de lei quer ampliar acesso gratuito

Diante da urgência, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 85/2024, que propõe a distribuição gratuita da caneta de adrenalina autoinjetável pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em junho, o relator da proposta, deputado Zé Vitor (PL-MG), apresentou parecer favorável à matéria.

O texto também inclui uma emenda que obriga espaços públicos de grande circulação, como academias, supermercados e parques, a manterem unidades do autoinjetor disponíveis para atendimento emergencial.

Em audiência pública realizada pela Comissão de Saúde da Câmara, especialistas reforçaram a importância da aprovação do PL. Para a ASBAI, a medida é uma questão de saúde pública, com potencial para salvar milhares de vidas em casos de reações alérgicas inesperadas.

A importação individual de canetas, em geral, custa mais de mil reais, valor fora do alcance de grande parte da população.

Conhecer os sintomas e agir rápido salva vidas

Mesmo diante das dificuldades de acesso ao medicamento, especialistas reforçam a importância da educação em saúde.

Saber reconhecer os sinais da anafilaxia — como coceira na pele, inchaço no rosto, falta de ar, queda de pressão e confusão mental — e procurar atendimento médico imediato pode ser determinante.

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