Brasil registra 440 transplantes de coração em 2024, com alta taxa de sucesso

Mais de 26 mil transplantes de órgãos foram realizados no país no último ano, a maioria pelo SUS; falta de doadores ainda é desafio

Por Maria Clara Trajano Publicado em 03/07/2025 às 14:40

O Brasil realizou 440 transplantes de coração em 2024, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT).

O número integra o total de 26.368 transplantes de órgãos feitos no país no ano passado, com 88% deles realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que reforça a posição do Brasil como um dos maiores sistemas públicos de transplante do mundo.

Entre os procedimentos mais realizados estão os de rim (6.297), fígado (2.449), pulmão (93) e córneas (17.089). No caso do transplante cardíaco, o procedimento exige estrutura hospitalar de alta complexidade e equipes multidisciplinares especializadas.

Transplante cardíaco: quando é indicado e como é a recuperação

O cardiologista Fernando Bacal explica que a principal indicação para o transplante é a insuficiência cardíaca avançada, geralmente causada por miocardiopatia dilatada, doença cardíaca isquêmica ou doença de Chagas. “Antes era visto como algo arriscado, mas isso é um mito. Hoje, a taxa de sobrevida após o procedimento ultrapassa 90%”, afirma.

Após a cirurgia — que dura entre quatro e oito horas e conta com o auxílio de uma máquina coração-pulmão — os pacientes permanecem internados por cerca de 10 a 15 dias. Depois da alta, é necessário o uso contínuo de medicamentos imunossupressores, para evitar rejeição ao órgão transplantado.

Avanços, desafios e perspectiva de futuro

O Brasil tem histórico de protagonismo nesse tipo de cirurgia: o primeiro transplante de coração na América Latina foi feito aqui em 1968, pelo cirurgião Euryclides de Jesus Zerbini.

Em 2024, um marco global veio dos EUA, com o primeiro transplante parcial de coração — técnica que envolve a substituição de uma parte do coração doente por uma porção saudável de um coração doado e pode aumentar a disponibilidade de órgãos e acelerar a recuperação dos pacientes.

Apesar dos avanços técnicos, o principal entrave segue sendo a baixa taxa de autorização familiar. Mesmo que o doador manifeste o desejo em vida, a doação só ocorre com consentimento da família, como determina a legislação brasileira na Lei nº 9.434/1997, regulamentada pelo Decreto nº 9.175/2017.

Outro desafio é o tempo: o coração precisa ser transplantado em até quatro horas após a retirada do corpo do doador. O sucesso do procedimento, portanto, depende não apenas da estrutura hospitalar, mas também de logística e agilidade na tomada de decisão.

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