Vacina BCG continua essencial para bebês no Brasil: entenda por que ela é aplicada logo ao nascer
Imunizante protege contra formas graves de tuberculose e deve ser aplicado nas primeiras horas de vida da criança

Lembrado em 1º de julho, o dia da vacina BCG reforça a importância do imunizante que inaugura o calendário vacinal de muitos brasileiros.
Aplicada preferencialmente ainda na maternidade, a BCG (Bacilo de Calmette e Guérin) protege contra formas graves de tuberculose e continua essencial em países como o Brasil, onde a doença é considerada endêmica. O imunizante é administrado logo após o nascimento porque o sistema imunológico do bebê ainda está em desenvolvimento.
“A vacina é aplicada preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida, ou até, no máximo, antes dos 5 anos, pois quanto mais cedo, maior a proteção contra as formas graves de tuberculose, especialmente a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar”, explica a infectopediatra Alexsandra Costa.
Imunizante protege contra complicações graves
Diferente do que muitos pais pensam, a BCG não impede que a criança se infecte com o Mycobacterium tuberculosis, bactéria causadora da tuberculose. Mas isso não diminui sua relevância.
“A BCG não evita a infecção nem impede a forma pulmonar. Mas é muito eficaz contra as formas mais graves da doença em crianças pequenas, por isso continua sendo fundamental nos países com alta carga de tuberculose, como o Brasil”, ressalta a médica.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou cerca de 70 mil novos casos de tuberculose em 2023, com maiores taxas entre populações vulneráveis e regiões urbanas. A vacinação em massa ajuda a reduzir significativamente os casos graves entre crianças pequenas.
Falta de cicatriz significa que a vacina não funcionou?
Uma das características mais conhecidas da BCG é a pequena cicatriz deixada no braço, normalmente no lado direito. A presença da marca é um indicativo de que o corpo reagiu à vacina, mas não é condição obrigatória para a eficácia.
“A formação da cicatriz indica que houve resposta local à vacina. Cerca de 90% das crianças vacinadas desenvolvem essa cicatriz, mas não tê-la não significa que a criança não está protegida. No entanto, a ausência da cicatriz pode sugerir falha vacinal em alguns casos, especialmente se a criança for imunossuprimida”, diz Alexsandra Costa.
A infectopediatra Regina Coeli reforça: “Caso não haja formação da cicatriz, não significa que a vacina não foi eficaz. A proteção está garantida mesmo sem a marca visível. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde não recomendam revacinar crianças que não apresentam a cicatriz. Mas é importante que o carimbo da aplicação conste no cartão de vacina”.
Efeitos adversos da BCG
Em geral, a BCG causa apenas reações leves, como vermelhidão e a formação de uma pequena ferida no local da aplicação, que evolui até cicatrizar em semanas. Mas os pais devem estar atentos a sinais que indicam a necessidade de avaliação médica.
Reações esperadas incluem uma pápula no local da aplicação, que pode evoluir para úlcera, crosta e cicatriz. É comum também aparecer um pequeno linfonodo axilar.
Mas é preciso atenção se houver linfadenite supurativa (inflamação e infecção de um ou mais linfonodos, com formação de pus ou abscesso), abscesso frio ou úlcera maior que 1 cm persistente após 12 semanas.
“Caso haja persistência dos sintomas ou estes forem mais intensos, ou se ocorrerem outros sintomas incomuns, como febre alta, irritabilidade, vômitos ou dor intensa no local da aplicação, é importante procurar atendimento médico”, ressalta Regina Coeli.
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Brasil mantém vacinação enquanto outros países suspenderam
Em alguns países, como Estados Unidos e Canadá, a vacina BCG foi retirada do calendário vacinal. Isso ocorre porque a incidência da tuberculose nesses locais é muito baixa, e a estratégia de controle da doença é diferente.
“No Brasil ainda há elevada prevalência da doença, com surtos e formas graves em crianças. Por isso, a BCG é mantida como obrigatória e gratuita no SUS”, destaca Alexsandra Costa.
Regina Coeli complementa: “A decisão de países desenvolvidos de suspender a vacinação de rotina com BCG e a manutenção dessa imunização no Brasil se baseia em diferenças na incidência da tuberculose e nas estratégias de controle da doença”.
Outros possíveis usos da BCG
Embora tenha sido desenvolvida para combater a tuberculose, a BCG vem sendo estudada para outros usos. Um dos exemplos mais consolidados é no tratamento do câncer de bexiga.
“Além da prevenção da tuberculose, a BCG tem sido estudada e utilizada em outras situações. É a forma mais eficaz de imunoterapia intravesical contra o câncer de bexiga não invasivo”, afirma Alexsandra Costa.
Regina Coeli acrescenta que a vacina pode ter efeitos benéficos sobre o sistema imunológico, ajudando na defesa contra outras infecções e até doenças autoimunes. “Estudos demonstraram que a BCG pode reduzir a gravidade de formas mais graves de hanseníase, nos comunicantes dessa doença”, diz.
O que os pais devem fazer para garantir que a criança receba a BCG corretamente
A orientação dos especialistas é clara: a vacina deve ser aplicada ainda na maternidade. Se isso não ocorrer, os pais devem levar o bebê o quanto antes a um posto de saúde.
“É importante observar se a aplicação foi feita no braço direito, via intradérmica, e não intramuscular. Não se deve aplicar pomadas no local. Se não houver reação nenhuma até seis meses, ou se houver uma reação exagerada, o pediatra deve ser informado”, recomenda Alexsandra Costa.
No cartão de vacinação, deve constar o registro da aplicação da BCG com o carimbo da unidade de saúde. Isso garante o controle vacinal mesmo que não haja cicatriz.