Uso de caneta emagrecedora pode impactar saúde bucal e alterar produção de saliva

Medicamentos como a semaglutida têm sido associados à boca seca, alterações salivares e halitose; avaliação odontológica é fundamental

Por Maria Clara Trajano Publicado em 30/06/2025 às 16:15

A popularização das chamadas canetas emagrecedoras — medicamentos originalmente indicados para controle do diabetes tipo 2 e, mais recentemente, usados no tratamento da obesidade e sobrepeso — vem trazendo à tona efeitos colaterais além da perda de peso. Um deles atinge diretamente a saúde bucal, com impacto relevante na produção e qualidade da saliva.

Segundo a cirurgiã-dentista Débora Heller, integrante do Grupo de Trabalho de Saliva do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), há um padrão claro de alteração salivar em pacientes que fazem uso da medicação.

Medicamentos como a semaglutida (caneta emagrecedora) têm sido associados a alterações salivares significativas, boca seca (xerostomia e hipossalivação), saliva espessa e espumosa, sensação de ardência na língua e halitose.

A especialista alerta que esses efeitos não são raros. “Casos clínicos publicados recentemente relatam boca seca significativa em pacientes em uso de caneta, sem outras causas sistêmicas aparentes. No consultório, temos observado esse mesmo padrão, com queixas crescentes entre pacientes em uso das chamadas canetas emagrecedoras”.

Videocast Saúde e Bem-Estar — ‘Canetas emagrecedoras’: tudo o que você precisa saber

Por que a saliva é tão importante?

A saliva desempenha funções essenciais para o equilíbrio da saúde bucal. Ela limpa a cavidade oral, facilita a mastigação e a deglutição, protege os tecidos contra micro-organismos, ajuda na fala, regula o pH da boca e contribui para a prevenção de cáries.

A redução desse fluido compromete todas essas funções. A saliva exerce uma função protetora essencial contra a cárie e lesões não cariosas, problemas comuns em pacientes com hipossalivação. A redução da saliva afeta diretamente a saúde dos tecidos orais e a qualidade de vida dos pacientes, que relatam dificuldades para comer, engolir, falar, usar próteses e manter uma boa higiene oral.

Além da boca seca, a hipossalivação pode levar a infecções frequentes, como a candidíase, e sensação constante de queimação. Em casos opostos, a hipersalivação também pode surgir, provocando desconforto funcional, dificuldades na fala e no uso de próteses, além de possíveis lesões nos lábios.

Acompanhamento odontológico é essencial

A avaliação odontológica regular se torna ainda mais necessária para quem usa medicamentos como as canetas emagrecedoras.

“O ideal é que o paciente passe por um protocolo validado de avaliação salivar, que pode ser o exame clínico de secura oral, questionário de xerostomia, e teste de fluxo salivar (em repouso e estimulado) e pH salivar”, orienta a dentista.

O plano de cuidados deve ser individualizado e pode incluir medidas como educação sobre hidratação, uso de saliva artificial, estimulantes salivares naturais ou com xilitol, dentifrícios com flúor, enxaguantes sem álcool e escovação suave da língua.

“A caneta emagrecedora não é a vilã, mas sem acompanhamento clínico, pode comprometer a saúde bucal silenciosamente. É papel do cirurgião-dentista estar atento às mudanças no estilo de vida, uso de medicamentos e novas tendências de saúde e estética. A saliva é uma ferramenta valiosa, acessível e baseada em ciência — capaz de guiar um cuidado mais seguro, preventivo e individualizado”, finaliza Débora Heller.

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