Vacina contra herpes zoster pode reduzir risco de Alzheimer, apontam estudos

Pesquisas observacionais em diferentes países indicam associação entre imunização e menor incidência de demência, mas especialistas pedem cautela

Por Maria Clara Trajano Publicado em 20/06/2025 às 11:50

Estudos recentes vêm apontando uma possível relação entre a vacinação contra o herpes zoster e a redução no risco de desenvolver demência, incluindo a doença de Alzheimer.

Os dados, ainda preliminares, foram obtidos por pesquisas observacionais em países como Austrália, País de Gales e Estados Unidos, e sugerem que a imunização pode ter efeitos protetores sobre o cérebro.

Um dos estudos mais citados, realizado na Austrália com mais de 100 mil pessoas, identificou uma redução de quase 30% no risco de demência entre os vacinados com Zostavax.

No País de Gales, uma análise com cerca de 280 mil indivíduos observou queda de 20% na incidência da doença entre os imunizados. Pesquisas norte-americanas apontam dados semelhantes: até 21% de redução no risco de demência em pessoas que receberam a vacina contra herpes zoster.

Uma meta-análise internacional publicada em 2024 na revista Brain and Behavior reforça esses achados. O levantamento, com dados de mais de 100 mil pacientes, estimou uma redução média de 16% na probabilidade de demência em vacinados com Zostavax ou Shingrix.

Possíveis explicações para a relação

Embora não se possa afirmar que a vacina previne diretamente a demência, cientistas estudam três hipóteses principais para a associação:

  • Prevenção de inflamações no sistema nervoso: o vírus da catapora pode se reativar anos depois e provocar inflamações crônicas, o que contribui para doenças neurodegenerativas. A vacina previne esse processo;
  • Modulação imunológica: vacinas com vírus vivos atenuados podem estimular o sistema imunológico de forma mais ampla, fortalecendo a defesa do organismo contra diversos agentes;
  • Menor risco de complicações neurológicas: ao evitar a infecção, a imunização também reduz quadros como encefalites e neuralgias, que podem agravar ou desencadear sintomas cognitivos.

Especialistas recomendam cautela

Apesar dos resultados consistentes, os estudos são observacionais e não provam relação de causa e efeito. Para o neurocirurgião funcional Marcelo Valadares, da Unicamp, os dados merecem atenção, mas exigem aprofundamento.

“É um momento promissor na pesquisa sobre doenças neurodegenerativas, mas precisamos de estudos clínicos controlados para confirmar se a vacina realmente oferece proteção direta contra a demência”, afirma.

Hoje, a vacina contra o herpes zoster é recomendada para pessoas com 50 anos ou mais para prevenir as dores e complicações da doença. Ela está disponível na rede privada e deve ser incorporada ao SUS. Se os efeitos neuroprotetores forem comprovados, novas diretrizes de saúde pública poderão ser discutidas.

Prevenção do Alzheimer: o que já se sabe

Mesmo com avanços nas pesquisas, não há cura para o Alzheimer. A prevenção ainda depende de escolhas cotidianas:

  • Alimentação saudável
  • Prática de exercícios físicos
  • Sono de qualidade
  • Estímulos cognitivos
  • Controle de doenças como hipertensão e diabetes

O tratamento busca retardar o avanço dos sintomas e preservar a autonomia do paciente, com uso de medicamentos, acompanhamento multiprofissional e apoio à família.

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