O alto preço das mentiras!
As vacinas, antes de serem disponibilizadas para a população, têm a sua segurança e eficácia demonstradas em estudos clínicos bem conduzidos.

As redes sociais constituem importantes ferramentas de comunicação, devido ao seu potencial de benefícios, como a comunicação instantânea, a facilidade de conexão, o acesso a informações e as oportunidades para empresas e indivíduos. Portanto, elas propiciam engajamento comunitário, marketing e networking. No entanto, esses poderosos veículos de informação, além do isolamento virtual, que implica na saúde mental das pessoas, infelizmente, também, estão sendo inapropriadamente utilizados como palco de mentiras e notícias falsas, conhecidas como fake News. Essas mentiras podem ter consequências graves, desde danos à saúde e a reputação de pessoas até a manipulação de opiniões públicas e a incitação ao ódio, alimentado por ideologia política. Não se pode desprezar, ainda, a constatação de que a inteligência artificial (IA), ramo da ciência da computação que se dedica a criar máquinas capazes de realizar tarefas que normalmente exigem inteligência humana, pode aprender a identificar vulnerabilidades em hábitos e comportamentos de pessoas e usá-las para influenciar a tomada de decisões. Esse poderoso armamento tecnológico, pode, portanto, entrar em campo para semear desinformações.
Na área médica, um dos alvos preferidos das "gangues" cibernéticas, são as inverdades com relação ao uso de vacinas, algumas delas, fantasiosas: "podem transformar o imunizado em jacaré", "podem causar autismo", "podem transmitir AIDS e outras doenças", "podem causar infarto do miocárdio", "podem veicular chips para vigilância", "servem para controle populacional", dentre outas tantas. Depois da introdução do saneamento básico e da água potável, a vacinação é considerada uma das intervenções em saúde pública mais eficazes, responsáveis pelo aumento da nossa expectativa de vida e, sobretudo, pela diminuição da mortalidade infantil. Elas salvam cerca de 3 milhões de pessoas por ano, ou cinco pessoas a cada minuto. Os imunizantes são desenvolvidos com base na necessidade de proteger a população de doenças fatais e que provocam incapacitação.
Conversando com o expert em imunização e colega do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Prof. Dr. Ricardo Gurgel, ele asseverou que um baixo nível de vacinação, especialmente entre crianças, geralmente por questões culturais e ideológicas, pode levar ao retorno de doenças erradicadas, aumento da vulnerabilidade da população a doenças preveníveis, e comprometimento da imunidade de rebanho. Todavia, o referido profissional, tem observado, esperançosamente, que a intensificação das campanhas de vacinação nos últimos meses, sobretudo em escolas, tem logrado êxito, provocando um tênue, mas consistente, incremento no número de vacinados, comparativamente ao ano anterior.
A previsibilidade do futuro, na área da saúde é muito difícil, porque existem inúmeros fatores, cujas influências e controles ainda estão fora de nosso alcance. Portanto, devemos fazer o melhor, com a quantidade limitada de elementos, que podemos controlar. Quando dois fatos ocorrem simultaneamente, como, por exemplo, tomar uma determinada vacina e apresentar convulsões, não é possível afirmar que houve uma relação entre causa e efeito. A menos que se observe um padrão de repetição, com frequência e em larga escala, o mais provável é que seja coincidência, a ocorrência ao mesmo tempo, dos fatos. Vale ressaltar que, o benefício de tomar uma vacina é sempre muito maior que o risco. Porém, elas não são 100% seguras, como, aliás, nada na vida; dirigir ou mesmo caminhar, não são isentos de risco. Recentemente, a sociedade sergipana ficou consternada com o acidente, que resultou no passamento precoce, de um querido cardiologista, Dr. Eduardo Ferreira, que estava pilotando seu jet-ski, para o qual possuía habilitação. Este esporte é considerado de baixo risco de morte.
As vacinas, antes de serem disponibilizadas para a população, têm a sua segurança e eficácia demonstradas em estudos clínicos bem conduzidos. Além do mais, a sua segurança a longo prazo é monitorizada, continuadamente, mediante múltiplos mecanismos de vigilância, como o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas: https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/safety-availability-biologics/cber-biologics-effectiveness-and-safety-best-system. A célebre frase de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista, "Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade" é uma frase que nos permite refletir que fake News podem "custar vidas". Segundo o imperador romano estoico, Marco Aurélio: "Tudo o que fazemos em vida ecoa pela eternidade".
Antônio Carlos Sobral Sousa, professor titular da UFS e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras, de Educação, Estanciana de Letras e Riachuelense de Letras, Ciências e Artes