Greve de ônibus: Após anos enfrentando paralisações, pela primeira vez o Grande Recife não terá greve de motoristas de ônibus
Categoria fez assembleia nesta quarta-feira (2) e aprovou, por unanimidade, as propostas apresentadas pelos empresários de ônibus

Após anos enfrentando greves anuais - e, às vezes, movimentos pontuais mais de uma vez por ano -, o transporte público por ônibus da Região Metropolitana do Recife não sofrerá com a paralisação dos motoristas em 2025. Nesta quarta-feira (2/7), a categoria aprovou, por unanimidade, a proposta apresentada pelos empresários do setor, eliminando qualquer possibilidade de greve.
A aprovação aconteceu em assembleia geral da categoria realizada em dois turnos (manhã e tarde), na sede do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, em Santo Amaro, área central do Recife. Motoristas, mecânicos e fiscais de ônibus concordaram com o que foi proposto pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE).
A proposta prevê um reajuste de 75% no tíquete alimentação, que passará de R$ 400 para R$ 700; plano de saúde integral para todos os rodoviários a partir de janeiro de 2026; manutenção do pagamento da dupla função no valor de R$ 180; e liberação do cartão rodoviário (que dá direito a oito passagens por dia) para os profissionais que estiverem afastados pelo INSS.
Segundo o diretor de comunicação do Sindicato dos Rodoviários, Lucas Lima, o reajuste salarial, que a categoria reivindicava acima da inflação, será a única solicitação que ficará para ser discutida em novembro. Os rodoviários também pediram que o tíquete alimentação fosse para R$ 800, conseguindo R$ 100 a menos.
Mas o entendimento é de que os trabalhadores saíram ganhando com a proposta aprovada e, principalmente, sem o desgaste de um movimento grevista. “O nosso plano de saúde hoje custa R$ 330 para cada trabalhador e passará a ser integralmente pago pelas empresas para todos os rodoviários, a partir de janeiro de 2026. Foi uma grande conquista, sem dúvida, principalmente porque, diferentemente da campanha do ano passado, a cobertura total estará oficializada na convenção da categoria”, explicou.
FIM DA DUPLA FUNÇÃO DOS MOTORISTAS FICOU DE FORA DAS REIVINDICAÇÕES
A dupla função dos motoristas - que começou em 2015 e se mostrou um caminho sem volta nos últimos anos - não foi questionada na campanha salarial deste ano, como vinha acontecendo sob a antiga gestão sindical. A dupla função, inclusive, era um ponto crucial nas reivindicações dos rodoviários, mas tem perdido força porque a circulação de dinheiro nos coletivos tem sido reduzida ano após ano.
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De acordo com números da Urbana-PE, apenas 5% das tarifas são pagas em dinheiro atualmente nos coletivos do Grande Recife. O VEM Trabalhador responde por 32,8%, o VEM Estudante por 6,8%, o VEM Comum por 11,6%, enquanto os passageiros com gratuidades ou benefícios tarifários representam 50%.
A categoria e os empresários de ônibus tiveram três rodadas de negociação antes da realização da assembleia nesta quarta. A Urbana-PE não quis se posicionar sobre o acordo.
CLIMA APARENTEMENTE MAIS TRANQUILO COM NOVA GESTÃO DO SINDICATO DOS RODOVIÁRIOS
Em dezembro de 2024, os rodoviários derrubaram o comando do sindicato no Grande Recife, que por cinco anos ficou sob a gestão do motorista Aldo Lima. Num resultado que não era esperado - esse foi o sentimento no setor -, a Chapa 2 (Chapa da Mudança), que fazia oposição à atual direção, venceu a eleição da categoria. E com uma boa margem de votos: 635 votos contra 411 da Chapa 1 (O Guará), que buscava a primeira reeleição de Aldo Lima.
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O novo presidente eleito do Sindicato dos Rodoviários foi o também motorista Roberto Carlos Torres, que trabalhava na empresa Globo e presidia a Associação dos Rodoviários de Pernambuco (Abirpe). Roberto Carlos foi eleito para um mandato de quatro anos porque o estatuto do sindicato foi alterado para que houvesse uma redução de um ano no período.
Aldo Lima, originalmente motorista da empresa Caxangá, chegou no setor de transporte com a missão, conquistada em 2014, de retirar Patrício Magalhães do poder após mais de 30 anos à frente do sindicato. Não conseguiu assumir em 2014 porque teve a candidatura impugnada, mas foi o responsável por eleger a chapa na época, que teve Benilson Custódio como presidente.
Mas, de parceiros, os dois viraram rivais. Em 2019, Aldo Lima se candidatou pela oposição e foi eleito, com a expectativa de que cumprisse, ao menos, dois mandatos. Mas não foi o que aconteceu.