SEGURANÇA VIÁRIA | Notícia

Mortes no trânsito: rua onde ciclista morreu atropelado e criança ficou ferida no Recife tinha ciclofaixa apagada pela falta de manutenção

Rua 21 de Abril, em Afogados, era conhecida como Ciclorrota Tiradentes e está completamente abandonada. Denúncia foi feita pela Ameciclo

Por Roberta Soares Publicado em 30/04/2025 às 12:06 | Atualizado em 30/04/2025 às 17:01

A mais recente morte de ciclistas no Recife, a de um homem de 39 anos que foi atropelado no dia 24/4 por um caminhão em Afogados, na Zona Oeste da capital, deixando uma criança ferida, é mais uma que poderia ter sido evitada se a infraestrutura ciclável da cidade fosse eficiente e, principalmente, bem conservada.

O local onde o ciclista foi morto é a Rua 21 de Abril, onde foi implantada uma das primeiras infraestruturas do Recife, ainda nas gestões do PT, mas que foi completamente abandonada pelo atual governo municipal. A denúncia desse descaso e omissão do poder público foi feita pela Associação Metropolitana dos Ciclistas do Recife (Ameciclo).

Em uma nota de pesar e repúdio, a entidade alerta que a Rua 21 de Abril, antes conhecida como Ciclorrota Tiradentes, possuía ciclofaixa e fazia parte de uma rede de mobilidade ativa. Com o tempo e falta de manutenção, a sinalização desapareceu e a infraestrutura foi simplesmente ignorada, mesmo com a Prefeitura do Recife chamando o trecho de “rota ciclável”.

“Na prática, isso significa ausência total de proteção para quem pedala, em uma via com limite de 30 km/h, mas sem qualquer controle de velocidade, fiscalização efetiva ou elementos de acalmamento de tráfego”, alerta a Ameciclo.

PLANO DIRETOR CICLOVIÁRIO PREVÊ CICLOVIA NO LOCAL

AMECICLO/DIVULGAÇÃO
Bicicletas são penduradas como forma de protesto e também para homenagear ciclistas mortos no trânsito - AMECICLO/DIVULGAÇÃO

A Ameciclo destaca, ainda, que a negligência da gestão municipal é ainda mais grave porque o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife - criado em 2014 - previa a implantação de uma ciclovia no local até 2024, o que não aconteceu.

“Já estamos em 2025, sem projeto, sem obras e sem qualquer perspectiva de execução”, afirma. Para justificar os argumentos, a Ameciclo usa dados da contagem de ciclistas na Rua 21 de abril, conhecida por todos e pela própria prefeitura como uma das áreas da cidade com maior volume de pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte.

Por isso, a entidade alerta que a omissão da Prefeitura do Recife em não implantar uma ciclovia ou até mesmo fazer a manutenção do pouco existente contrasta com a realidade do uso da via. “Em contagens recentes, a própria prefeitura registrou 4.200 ciclistas em apenas um cruzamento da Rua 21 de Abril.

A Ameciclo, em contagem independente na interseção com a Rua Cosme Viana, contou 4.433 ciclistas, dos quais 5% levavam passageiros — muitas vezes crianças ou adolescentes — e 10% eram mulheres, índice superior à média da cidade”, afirma.

E segue com mais críticas e alertas: “Essa é uma via viva, com movimento intenso, parte do cotidiano de centenas de famílias. O descaso institucionalizado transforma cada trajeto em uma roleta russa. Não é acidente. É projeto. Um projeto que permite o desaparecimento de infraestrutura, ignora seus próprios planos e transforma dados alarmantes em estatísticas frias”.

PEDALAR NO RECIFE TEM SIDO TEMEROSO. FORAM NOVE MORTES EM SETE MESES. NA RMR, SÃO 15 ÓBITOS

Gabriel Ferreira/JC
Mais dois ciclistas atropelados e mortos em ruas e rodovias do Recife - Gabriel Ferreira/JC
Reprodução
Ciclistas estão entre as vítimas do trânsito assassino do Brasil. Dois morreram no Recife na segunda-feira (16/9) e uma terceira no dia 24/9 - Reprodução

A morte do ciclista em Afogados foi a 9ª morte de ciclistas apenas em vias do Recife no período de sete meses. Na Região Metropolitana, foram 15 atropelamentos com óbitos no mesmo período. O levantamento é com base nas estatísticas da Ameciclo.

Segundo dados da prefeitura analisados pela entidade, morreram mais ciclistas que usuários de automóvel nas vias da cidade e as mortes no trânsito aumentaram 37% de 2022 a 2023. E praticamente dobraram de 2022 para 2024, segundo dados da própria prefeitura. “A capital se torna, a cada dia, um ambiente mais hostil e inseguro para quem se desloca de forma ativa — e mais uma vez, quem paga com a vida são os mais vulneráveis”, finaliza a Ameciclo.

A Prefeitura do Recife se pronunciou sobre o assunto por nota oficial e garantiu que a infraestrutura da 21 de Abril passará por manutenção. "A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) lamenta o ocorrido e informa que toda a política viária do município é voltada para a preservação da vida e redução de sinistros de trânsito. A sinalização da ciclorrota da Rua 21 de Abril, em Afogados, está dentro do cronograma de manutenções e deverá acontecer no início do segundo semestre".

LEVANTAMENTO APONTA EXPLOSÃO DE SINISTROS DE TRÂNSITO COM VÍTIMAS EM GERAL NO RECIFE

Divulgação
Ciclistas atropelados no Recife ganham ‘bicicletas fantasmas’ em protesto contra a insegurança para quem pedala - Divulgação

Levantamento sobre os sinistros de trânsito com vítimas no Recife revelam um crescimento impressionante nos últimos três anos. A capital pernambucana teria tido um aumento superior a 100% nos registros de colisões, quedas, atropelamentos e outros tipos de sinistros no trânsito com vítimas de 2022 para 2024.

Quando o recorte é feito de janeiro a maio de cada ano, o aumento é de 116,5% comparando 2022, 2023 e 2024. Mas quando a análise é de mês a mês, o crescimento chega a 139%, como aconteceu entre os meses de maio dos três anos analisados. De 2024 em relação a 2023, o aumento foi de 53,9%.

Os registros com vítimas no trânsito recifense aumentaram 62,66% em 2023 em comparação com 2022. O levantamento foi realizado pela Ameciclo com os dados abertos da Prefeitura do Recife.

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