Selic a 15% preocupa Construção Civil; entenda alerta de risco para empregos e moradia
No final de outubro, a CBIC já havia revisado drasticamente sua projeção de crescimento do setor para 2025, passando de 2,3% para 1,3%
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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, anunciada na quarta-feira (5), de manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, foi recebida com forte preocupação pelo setor da construção civil e pelo mercado imobiliário. Embora o Copom justifique a manutenção pela persistência da inflação de serviços, o prolongamento da Selic em patamar elevado ameaça frear investimentos, comprometer novos lançamentos e impactar a geração de empregos.
CBIC revisa projeção de crescimento para 1,3%
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) reagiu, alertando que o ciclo de juros altos torna muitos projetos inviáveis. O presidente da entidade, Renato Correia, explica que "a construção é um dos setores mais sensíveis ao custo do crédito e à confiança do consumidor. Uma Selic de 15% por um ciclo longo traz desafios, porque o setor depende de financiamento de longo prazo".
No final de outubro, a CBIC já havia revisado drasticamente sua projeção de crescimento do setor para 2025, passando de 2,3% para 1,3%. A retificação reflete os efeitos do ciclo prolongado, que tem limitado o ritmo das atividades da construção, cujo Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,6% no primeiro trimestre e 0,2% no segundo, na comparação com os períodos imediatamente anteriores.
"O setor da construção gera emprego e renda. Manter os juros nesse nível por muito tempo é apostar numa desaceleração prolongada da economia real", afirma Correia. A economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, prevê que a Selic deve se manter em 15% na próxima reunião do colegiado, em dezembro, indicando que o aguardado ciclo de queda dos juros poderá ter início somente a partir de meados de 2026.
Juros elevados afastam famílias
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC) avalia que a manutenção da taxa Selic prolonga um cenário de custos financeiros elevados que impactam diretamente a sociedade e o acesso à moradia, destacando que o Brasil segue com a segunda maior taxa de juros reais do mundo.
Os juros elevados representam um obstáculo intransponível para milhares de famílias no sonho da casa própria. Um estudo da ABRAINC aponta que, nos últimos cinco anos, o aumento das taxas retirou cerca de 800 mil famílias do mercado de crédito para aquisição de imóveis de R$ 500 mil, o que representa uma redução de 50% no público elegível. A estimativa da associação é que cada ponto percentual de aumento nas taxas elimina, em média, 160 mil famílias do financiamento.
A ABRAINC reconhece o papel da Selic no controle da inflação, mas enfatiza que o prolongamento de juros elevados tem freado a atividade econômica e comprometido o crescimento da geração de empregos. A entidade clama por uma redução responsável e gradual dos juros, considerada essencial para restabelecer a confiança, destravar novos projetos e ampliar o acesso à moradia digna no País.