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Mercado imobiliário residencial apresenta estabilidade no primeiro trimestre de 2025

No segmento de médio e alto padrão, o impacto dos aumentos seguidos da taxa de juros Selic nos últimos meses vem sendo mais sentido

Por JC Publicado em 26/06/2025 às 18:37

Apesar de leve desaceleração frente a um 2024 de forte aumento nos índices, a percepção dos empresários de construtoras e incorporadoras sobre procura e venda no mercado imobiliário residencial brasileiro foi de manutenção da estabilidade no primeiro trimestre de 2025.

O Minha Casa, Minha Vida (MCMV) seguiu aquecido, mesmo com os dados ligeiramente inferiores neste 1T25, na comparação com os trimestres anteriores.O produto teve recorde de novos empreendimentos no ano passado, desde seu lançamento em 2009, e vem propiciando a ampliação do acesso das famílias com menor renda à moradia. É o que mostra a pesquisa Indicador da Confiança do Setor Imobiliário Residencial, da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), feita em parceria com a Deloitte.

O levantamento, um termômetro do mercado imobiliário residencial, considera dados obtidos junto a construtoras e incorporadoras dos segmentos do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), de Médio e Alto Padrão (MAP) ou de ambos. De acordo com o reporte, a média geral de procura por imóveis residenciais ficou em 1,95 (manutenção) pontos no primeiro trimestre do ano, e a média geral de vendas, em 1,96 (manutenção), na régua de até 3 pontos possíveis da metodologia Deloitte. Isso significa conservação dos índices de interesse e comercialização dos produtos.

“No ano passado, registramos um crescimento de 11,8% nas vendas gerais. Trata-se do melhor desempenho anual desde que iniciamos nosso levantamento junto a incorporadoras, em 2014. Esse resultado histórico foi impulsionado, principalmente, pela força do Minha Casa, Minha Vida, que alcançou, em 2024, seu recorde de lançamentos desde a criação do programa, em 2009. A demanda segue consistente e tem sido fundamental para sustentar os níveis de procura e venda no setor imobiliário residencial”, ponderou Luiz França, presidente da ABRAINC.

MÉDIO E ALTO PADRÃO

No segmento MAP, o impacto dos aumentos seguidos da taxa de juros Selic nos últimos meses vem sendo mais sentido. As expectativas sobre as vendas neste segmento ficaram em 1,69 pontos, o que significa queda de 0,09 pontos no 1T25 em relação ao trimestre anterior. Em termos práticos, foi percebida uma redução no interesse e no volume de comercialização dos produtos, segundo a metodologia Deloitte.

Apesar dos altos índices de saque da Poupança nos últimos meses, e do aumento na taxa de financiamento habitacional no segmento MAP, a intenção de compra de imóveis em geral segue em bom nível. “Isso se dá muito em função das altas consecutivas do aluguel e da maior percepção de poder de valorização dos imóveis, mesmo entre os consumidores das faixas mais econômicas”, frisou Luiz França. A resiliência da demanda se deve também ao alto déficit habitacional e bônus demográfico favorável - de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022, nos últimos 10 anos a população com idade entre 35 e 40 anos, que é a faixa etária que mais compra imóvel, cresceu 16%.

“A desaceleração da performance em MAP, nos últimos seis meses, está relacionada principalmente à alta taxa de juros. Além disso é preciso considerar que os indicadores estão em um alto patamar relativo, com 3 anos seguidos de aumento. Agora, os compradores estão mais receosos quanto aos investimentos diante da taxa de juros mais alta, e consequentemente do financiamento mais caro”, analisou Claudia Baggio, sócia de Financial Advisory e líder da prática de Real Estate da Deloitte.

O levantamento também mostrou que construtoras e incorporadoras ficaram mais divididas do que em outras ocasiões quanto à oscilação dos preços dos imóveis residenciais no 1T25. Para 46% dos executivos do setor houve percepção de aumento no valor para o consumidor - esse índice é o menor desde o início de 2024. Para outros 48% não houve majoração, enquanto 6% informaram redução.

Dos representantes de construtoras e incorporadoras entrevistados de MCMV, 98% destacaram que pretendem trazer a público lançamentos de empreendimentos nos próximos 12 meses. Em MAP, 89% foram na mesma linha.

No 1T25, 93% das construtoras e incorporadoras de MCMV informaram intenção de adquirir terrenos nos próximos 12 meses, dado semelhante ao expressado no trimestre anterior do levantamento. Em MAP, 63% mostraram ter o mesmo apetite, frente a 51% na versão precedente. Esse aumento de 12 pontos percentuais demonstra que no fim do 1T25, o empresário do segmento MAP melhorou seu apetite por investimentos, se comparado ao fim de 2024.

EXPECTATIVA PARA OS PRÓXIMOS MESES

Para os próximos meses, a pesquisa ABRAINC/Deloitte revela expectativa positiva das vendas em MCMV e sequência do arrefecimento da comercialização em MAP.

Recentemente foram aprovadas novas regras para o Minha Casa, Minha Vida, que ampliam o acesso ao programa e favorecem especialmente a classe média. A principal novidade é a criação da Faixa 4, voltada para famílias com renda mensal entre R$ 8.600 e R$ 12 mil. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2024, do Ministério do Trabalho e Emprego, analisados pela ABRAINC, esse grupo representa cerca de 1,4 milhão de trabalhadores em todo o país.

“Com juros de 10% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), as condições dessa nova faixa são significativamente mais vantajosas do que as praticadas atualmente no mercado, que giram em torno de 13% ao ano mais TR. Essa diferença pode representar uma redução de até 27% no valor das parcelas mensais, facilitando o financiamento da casa própria para milhares de famílias”, destaca Luiz França, presidente da ABRAINC.

“A entrada da classe média no programa do governo federal era muito aguardada. A regulamentação pode impulsionar cadeias de negócios da construção civil e do mercado imobiliário, promovendo emprego, renda e desenvolvimento econômico no País”, concluiu Claudia Baggio, sócia de Financial Advisory e líder da prática de Real Estate da Deloitte.

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