Questões válidas no gabarito oficial do Enem foram antecipadas por estudante oito meses antes da prova

Mensagens revelam que respostas de duas perguntas de matemática, quase idênticas às aplicadas no Enem 2025, foram divulgadas por estudante de medicina

Por JC Publicado em 25/11/2025 às 18:39

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Uma investigação divulgada pelo g1, em reportagem exclusiva, mostra que o estudante de medicina Edcley Teixeira antecipou respostas de duas questões de matemática praticamente idênticas às aplicadas no Enem 2025, oito meses antes da realização da prova.

Prints de mensagens enviadas em março, em um grupo de WhatsApp com centenas de alunos, indicam que ele compartilhou as soluções de um problema de probabilidade e de outro sobre concentração de soluções — ambos com alternativas corretas que, posteriormente, apareceram no exame oficial.

Segundo o g1, Edcley havia enviado ao grupo a resposta “125/216” para uma questão sobre lançamento de dados e o número “5” para um problema envolvendo substâncias em solução. Ao final da prova do Enem, em novembro, ele recuperou as mensagens antigas e comemorou o acerto das perguntas, dizendo que seus alunos “gabaritaram”.

O Inep manteve válidas essas questões no gabarito oficial e anulou apenas três perguntas que Edcley havia resolvido em uma live no YouTube cinco dias antes do exame.

Como funcionava o esquema

De acordo com a investigação conduzida por Luiza Tenente, Edcley montou um sistema para construir um “banco de itens” que poderiam aparecer no Enem.

O g1 relata que ele identificou que o concurso Prêmio Capes de Talento Universitário utilizava questões como pré-teste para o exame. A partir disso, passou a incentivar universitários a participar do concurso e a memorizar as perguntas, oferecendo, inclusive, pagamento para quem entregasse o conteúdo.

Com esse material, Edcley elaborava aulas e mentorias vendidas a estudantes.

Procurado pelo g1 e pelo Fantástico, o estudante negou qualquer conhecimento de que as questões seriam usadas no exame oficial e disse que as semelhanças foram “coincidência”.

O que diz o Inep e o Ministério da Educação

O Inep afirmou que “não há risco técnico de fraude” e que nenhum candidato foi prejudicado. O órgão também confirmou que os gabaritos oficiais foram divulgados normalmente.

O ministro da Educação, Camilo Santana, declarou que o resultado final do Enem será divulgado em janeiro de 2026.

Relembre o caso

A controvérsia em torno do Enem 2025 teve início após a circulação de vídeos nas redes sociais, transmitidos dias antes da aplicação da prova, onde questões idênticas ou muito semelhantes às do exame foram apresentadas.

O caso levou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) a anular três itens da prova e solicitar a abertura de um inquérito pela Polícia Federal (PF).

No centro das investigações está Edcley Teixeira, estudante de medicina e proprietário de um curso de monitoria no Ceará. Alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF no âmbito da "Operação Profeta", deflagrada no dia 23 de novembro, Teixeira é suspeito de antecipar o conteúdo do exame.

Segundo apurações preliminares, o modus operandi envolveria o pagamento de colaboradores para realizarem pré-testes do Inep (como a prova do Prêmio Capes de Talento Universitário) e memorizarem as questões, que posteriormente eram reproduzidas em materiais didáticos vendidos online.

Em sua defesa, veiculada em entrevista ao programa Fantástico, Teixeira alegou que as semelhanças foram "coincidência" e negou ter conhecimento prévio de que aquelas questões específicas cairiam na edição oficial de 2025.

Ele argumentou que não agiu de má-fé ao utilizar informações de pré-testes, citando a inexistência de termos de sigilo explícitos para os participantes dessas avaliações.

Apesar da gravidade das denúncias, o Ministro da Educação, Camilo Santana, assegurou que o exame não será cancelado, garantindo a lisura do processo seletivo. O presidente do Inep, Manuel Palacios, reforçou que o episódio não compromete a segurança geral da prova nem a isonomia da nota dos candidatos, mas reiterou a necessidade de investigar possíveis tentativas deliberadas de prejudicar a imagem do Enem.

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