Estudantes cobram posição do MEC e Inep após comparação entre questões divulgadas antes da prova e itens oficiais do Enem 2025

Nesse domingo (16), os participantes responderam a 90 questões de Matemática e suas Tecnologias e Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química)

Por Mirella Araújo Publicado em 18/11/2025 às 15:11 | Atualizado em 18/11/2025 às 16:59

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 Muitos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 têm cobrado, desde a noite desta segunda-feira (17), um posicionamento do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) sobre as denúncias de um suposto vazamento de questões das provas aplicadas neste domingo (16).

A polêmica começou após a circulação de comparações entre questões apresentadas pelo estudante de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edcley Teixeira da Silva, em uma live no YouTube no dia 11 de novembro — divulgadas por ele como de sua autoria — e itens oficiais do Enem. Em alguns casos, os enunciados e comandos eram praticamente idênticos, com os mesmos números e apenas alterações na ordem das alternativas.

No segundo dia do exame, os participantes responderam a 90 questões de Matemática e suas Tecnologias e Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química). Dados preliminares apontam que 70% dos mais de 4,81 milhões de inscristos compareceram aos dois domingos do Enem. 

Diante das semelhanças, muitas pessoas passaram a questionar a isonomia do Enem 2025 e chegaram a pedir a anulação desta edição. "O próprio Inep afirma que fraudar o Enem é crime, então é mais do que justo que haja reaplicação para todos os estudantes que realizaram as provas nos dias 9 e 16", afirmou um usuário no perfil do Inep no Instagram.

De acordo com Edcley Teixeira, que comercializa serviços de mentoria on-line e afirma usar seus métodos para “democratizar a educação”, ele teria compreendido a lógica de elaboração do Enem e desenvolvido um algoritmo capaz de “prever” questões.

No seu perfil no Instagram, que já acumula mais de 19,1 mil seguidores, ele publicou uma sequência de stories em que tenta explicar como teria desenvolvido essa metodologia que o ajudaria a antecipar futuras questões do Enem, incluindo o uso do que chama de “engenharia reversa”.

“O Enem é ‘repetido’ e/ou reformulado. Basta usar engenharia reversa (estudo de provas anteriores) que você descobre as tendências do Enem”, afirmou o estudante.  Em outro momento, ele também cita ter ido em busca de artigos científicos produzidos por profissionais selecionados, por meio de chamadas públicas, para elaborar e revisar as questões do exame nacional.

“Tem o CPF delas nas chamadas públicas. Você facilmente descobre. Jogue no Google, siga a pessoa, veja os artigos científicos. Em geral, são professores universitários — tem lá um falando de endemias. Você imagina: essa pessoa vai querer reciclar seu próprio artigo. Aí consegue prever seguindo as pessoas", afirmou. Além disso, Texeira diz ter o TRI (Teoria de Resposta ao Item) oficial do Inep, o que também teria ajudado a construir suas análises sobre as provas. 

 

Reprodução do Instagram
Questão apresentada pelo estudante de medicina Edcley Teixeira e item correspondente aplicado no Enem 2025 - Reprodução do Instagram

Pré-teste do Enem

No material oferecido em sua monitoria, Edcley Texeira afirmou ter tido a oportunidade de participar do Prêmio CAPES Talento Universitário, onde algumas questões servem como um pré-teste do Enem.

“Com a colaboração de cinco amigos, conseguimos lembrar 90 questões inéditas e, inspirado por suas contribuições, desenvolvi questões exclusivas e originais.”

O material reforça ainda que, embora inspiradas em questões reais do pré-teste, as versões apresentadas seriam de autoria do estudante de Medicina. “Dessa forma, não há qualquer risco jurídico envolvido, uma vez que a inspiração nas questões do pré-teste não implica em cópia ou plágio, e o Inep não possui poder de censurar a memória do estudante.”

O Prêmio CAPES Talento Universitário é um reconhecimento ao desempenho de estudantes com destacado desenvolvimento de competências cognitivas. Os selecionados são convidados a contribuir com estudos e pesquisas do Ministério da Educação.

Durante quatro horas, eles respondem a uma prova com 80 questões de conhecimentos gerais. Conforme o edital, é proibido portar dispositivos eletrônicos ou anotações externas, e a entrega do rascunho é obrigatória, o que implica no impedimento da divulgação qualquer informação.

Para participar da edição deste ano, o estudante precisaria ter comparecido aos dois dias de aplicação do Enem e não ter sido eliminado nas edições de 2023 ou 2024, ser ingressante no ensino superior no segundo semestre de 2024 ou no primeiro semestre de 2025, estar regularmente matriculado em curso de graduação em qualquer área do conhecimento, na modalidade presencial ou a distância, em instituição pública, privada ou militar, e não estar em débito, de qualquer natureza, com a CAPES, o CNPq ou outras agências de fomento.

Inep afirma que irá cancelar três questões

Após a repercussão das denúncias, o Inep  anunciou que irá anular três questões da prova. A decisão foi tomada após análises da equipe técnica da comissão assessora responsável pela montagem do exame, que identificou “similaridades pontuais” entre itens divulgados nas redes sociais e questões do Enem 2025.

O órgão também informou, na tarde desta terça-feira, que a Polícia Federal (PF) foi acionada para apurar a conduta e a eventual autoria da divulgação, investigando possível quebra de sigilo ou ato de má-fé.

O Inep reafirmou a isonomia, a lisura e a validade das provas. “O Enem utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados. A metodologia demanda que os itens sejam pré-testados. Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens que podem vir a compor o Enem em alguma edição”, afirmou o instituto em comunicado.

O órgão também ressaltou que “nenhuma questão foi apresentada tal qual na edição de 2025 do exame. Na divulgação observada nas redes sociais, foram identificadas similaridades pontuais entre os itens”.

Por fim, o Inep destacou que promove diversas estratégias para calibrar as questões que compõem o Banco Nacional de Itens e podem ser utilizadas na elaboração das provas do Enem. “Os processos envolvem rigorosos protocolos de segurança, que foram cumpridos em todas as etapas do exame.”

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