Mais de 50 cidades de Pernambuco ficam abaixo da meta de alfabetização e escancaram desigualdades na educação

Recife não só ficou abaixo da meta de alfabetização em 2024, com 54%, como também caiu em relação a 2023, quando o índice foi de 62,4%

Por Mirella Araújo Publicado em 22/07/2025 às 11:42 | Atualizado em 22/07/2025 às 11:54

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Em Pernambuco, a realidade da alfabetização é preocupante e revela disparidades significativas entre as regiões do estado. Apesar de uma tendência de avanço — com 59% dos estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental sabendo ler e escrever em 2023 e 60,79% em 2024 — o índice ainda está abaixo da meta de 62,4%.

Dos 184 municípios avaliados, 51 não alcançaram a meta estabelecida para 2024 e, além disso, apresentaram resultados piores que os de 2023, que já eram considerados baixos. O retrato dessa desigualdade no acesso à aprendizagem na fase inicial da vida escolar se evidencia quando se observa o desempenho de uma cidade do porte do Recife.

A capital não apenas ficou abaixo da meta do Indicador Criança Alfabetizada — alcançando 54%, frente aos 65,29% previstos para 2024 — como também apresentou uma queda significativa em relação ao ano anterior, quando o índice foi de 62,4%.

Esse percentual representa a proporção de crianças de 7 anos capazes de escrever bilhetes e convites simples, ler textos do cotidiano, histórias em quadrinhos, além de reconhecer sílabas e relacionar sons e letras da Língua Portuguesa.

“Existia uma expectativa de que Recife melhorasse, até em função dos resultados anteriores. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de que o desempenho de Recife é praticamente igual ao de Manari, que já teve o menor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] do Brasil. Manari teve 52% das crianças alfabetizadas, com um PIB per capita de R$ 5 mil, enquanto Recife, com um PIB per capita de R$ 33 mil, alcançou apenas 54% das crianças alfabetizadas no 2º ano do Ensino Fundamental”, afirmou Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE, em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta terça-feira (22). 

Ao analisar os dados da Região Metropolitana do Recife, o professor destaca que o cenário da alfabetização é desastroso. “Quando olhamos para Ipojuca, com um PIB per capita de R$ 135 mil, vemos que o município ainda está em um patamar muito baixo de alfabetização. Depois observamos o Cabo de Santo Agostinho, Abreu e Lima, Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes... A Região Metropolitana requer um olhar atento e preocupado em relação à alfabetização, porque ela é o alicerce de todo o processo educacional”, completou Ramos.

No ranking da RMR, Itapissuma lidera a região, com 82,95% de crianças alfabetizadas, superando os 78,03% projetados. Igarassu também ultrapassou a meta estipulada (66,97%, ante 65,47%). Já Ipojuca (64,15%, frente aos 70,24%) e Olinda (62,29%, diante de 62,95%) ficaram abaixo do previsto.

Na sequência, os índices seguem se distanciando das metas previstas pelo MEC: Camaragibe teve 57,57% de crianças alfabetizadas, frente a 62,2%; Paulista, 55,54% (55,98%); Jaboatão dos Guararapes, 54,98% (61,03%); Recife, 54,36% (65,29%); Araçoiaba, 53,49% (51,26%); São Lourenço da Mata, 53,32% (49,84%).

Seguindo o ranking, estão Cabo de Santo Agostinho com 50,72% (59,25%), Itamaracá com 50,60% (57,61%), Abreu e Lima com 46,40% (52,75%) e Moreno, com apenas 43,93% de crianças alfabetizadas, atrás dos 57,79% esperados.

Mais colaboração e recursos para alfabetização nos municípios

A presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação de Pernambuco (Undime/PE), Andreika Asseker Amarante, reforça que a alfabetização não é um processo simples. No caso dos municípios que enfrentam situações de vulnerabilidade socioeconômica, a participação integrada das esferas federal e estadual podem contribuir para a reversão dos cenários alarmantes da Educação.

“Muitas redes enfrentam precariedade de financiamento, o que dificulta até a aquisição de material pedagógico, por exemplo. Há municípios que utilizam 100% dos recursos do Fundeb apenas para o pagamento da folha dos professores e demais profissionais da educação. Por isso, precisamos de um regime de colaboração que olhe com mais atenção para os municípios”, afirmou à Coluna Enem e Educação.

Secretária de Educação de Igarassu — cidade que superou a meta de alfabetização para 2024, alcançando 66,97%, acima dos 65,47% previstos —, Andreika também chama atenção para outro desafio que impacta diretamente os investimentos na área: a merenda escolar. “A gente recebe R$ 0,56 por aluno, mas o município precisa gastar três vezes esse valor para garantir uma alimentação minimamente adequada”, destacou.

"Precisamos de um olhar mais atento ao financiamento, para que os municípios consigam instituir sua própria avaliação de rede e acompanhar, com regularidade, os resultados ao longo do ano. Nem todos têm recursos para realizar avaliações em larga escala ou manter uma equipe técnica de formadores dentro das secretarias de Educação", pontuou.

Em Igarassu, a secretária destacou algumas ações que contribuíram para o avanço nos índices de alfabetização, como a adoção de uma política de avaliação continuada. Os alunos da rede são avaliados três vezes ao ano, o que permite o acompanhamento do desempenho individual e coletivo, fornecendo dados que subsidiam a formação dos professores.

O município também desenvolve um trabalho sistemático de monitoramento pedagógico, voltado à melhoria das práticas escolares e do planejamento nas unidades de ensino. Além disso, foram feitos investimentos estruturais nas salas de aula e no acolhimento dos professores, promovendo melhores condições para o processo de ensino e aprendizagem.

Confira os municípios com os melhores e os piores índices de alfabetização em 2024

Thiago Lucas/ Design SJCC
Alfabetização - Thiago Lucas/ Design SJCC

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Thiago Lucas/ Design SJCC
Alfabetização - Thiago Lucas/ Design SJCC

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