Cena Política | Análise

Medo do incerto e rejeição a Bolsonaro mantêm líder um Lula desaprovado

Após três mandatos como presidente do Brasil, o medo pode vir a ser o maior aliado de Lula. Embora ele pareça não ter mais nada para oferecer.

Por Igor Maciel Publicado em 18/09/2025 às 20:00

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A nova pesquisa Quaest sobre intenções de voto para 2026 confirma o que já vinha sendo percebido nas ruas e nos números: existe um cansaço generalizado com Lula e com Bolsonaro. Então, por qual motivo o petista lidera todos os cenários do levantamento divulgado nestaterça-feira (18)? Você pode perguntar.

É que o desgaste não abre espaço para alternativas sólidas. Ao contrário, reforça a ideia de que, na falta de opções confiáveis, o eleitor tende a se apegar ao que já conhece.

A liderança de Lula é um movimento que não nasce da convicção, mas do medo de errar e apostar no desconhecido. Uma campanha eleitoral pode mudar isso, sim, mas por enquanto o atual presidente terá grande vantagem.

Liderança desconfortável

Lula aparece à frente em todos os cenários de primeiro turno, mesmo com a maioria desaprovando seu governo. Isso não é entusiasmo, é resignação. O eleitor olha o quadro e não enxerga alguém que consiga simbolizar uma mudança real.

Esse tipo de comportamento já ocorreu em Pernambuco, em 2018, quando Paulo Câmara foi reeleito no primeiro turno mesmo com altíssima rejeição (chegava a mais de 60%).

A explicação não estava em uma súbita aprovação repentina ao seu governo, mas na ausência de concorrentes que convencessem a população de que podiam fazer algo diferente. No fundo a expressão que melhor caracteriza isso é: "ruim por ruim, melhor o que eu já conheço".

Números da disputa

Nos cenários testados, Lula lidera de forma consistente. Contra Bolsonaro (PL), tem 32% a 24%, com Ciro Gomes (PDT) em 11%, Ratinho Júnior (PSD) em 8% e outros nomes ainda menores.

Com Michele Bolsonaro (PL), Lula sobe a 33% contra 18%.

Quando o adversário é Tarcísio de Freitas (Republicanos), Lula vai a 35%, o melhor desempenho nesse recorte.

Com Eduardo Bolsonaro (PL), Lula mantém 32%, enquanto Ciro cresce e empata com 14% contra Eduardo.

E em simulações em que Tarcísio e Eduardo aparecem juntos, Lula chega a 40%. O patamar máximo registrado é de 43%, em cenários contra Eduardo Bolsonaro e Ronaldo Caiado (União).

O peso da falta de opção

A rejeição aos dois principais nomes não significa que o eleitor encontrou alternativa. Significa apenas que, diante de opções vistas como frágeis ou comprometidas com o passado, a escolha recai no que já é conhecido e está no cargo atualmente.

O bolsonarismo aparece marcado por confusão, brigas e rejeição, enquanto Lula é criticado pela falta de entregas claras e ausência de visão de futuro.

O eleitor, cansado, tende a preferir a estabilidade imperfeita do presente ao risco do incerto.

Desejo de novidade

A Quaest mostra ainda que 59% dos brasileiros não querem Lula candidato em 2026, contra 39% que apoiam sua reeleição. Geraldo Alckmin aparece como o mais lembrado para sucedê-lo, mas com apenas 9%. Simone Tebet e Fernando Haddad surgem em níveis ainda menores.

Do outro lado, a pressão sobre Bolsonaro cresce: 76% defendem que ele desista e apoie outro nome, contra 65% no mês anterior. Há desejo por renovação, mas ninguém preenche esse espaço e é difícil imaginar que consiga preencher.

Medos que crescem

O eleitor também expressa seus temores de forma equilibrada. Em agosto, 47% diziam ter mais medo da volta de Bolsonaro e 39% temiam a continuidade de Lula. Agora, ambos cresceram: 49% temem o retorno do ex-presidente e 41% temem a permanência do atual.

A soma desses sentimentos mostra que nenhum dos dois lados consegue se consolidar como resposta para o futuro.

Entre o conhecido e o desconhecido

Trata-se muito do receio de apostar no desconhecido, de colocar o país em mãos de aventureiros ou repetir a instabilidade dos últimos anos. Por isso, o eleitor, mesmo desconfortável, tende a se apoiar no que já sabe como funciona, embora não veja futuro.

Até 2026, o grande desafio é o surgimento de um nome que consiga transmitir confiança sem cair no oportunismo. Do contrário, a escolha será feita não pela esperança, mas pelo medo de mudar.

Quem é mais antigo lembra das campanhas que eram feitas contra Lula usando o medo do que ele poderia fazer se fosse presidente. Após três mandatos, o medo pode ser o maior aliado do petista. Embora ele pareça não ter mais nada para oferecer.

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