Igor Maciel: Com cada fala, Eduardo Bolsonaro impulsiona Lula e o PT
A cada declaração, Eduardo Bolsonaro (PL) reforça a imagem do bolsonarismo como vilão da estabilidade institucional do Brasil e atrapalha a oposição.

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Questão rápida e simples para você: quem é, atualmente o maior aliado de Lula e do PT? Você pode pensar em vários nomes, desde integrantes dos partidos de esquerda até a China, se quiser ampliar os horizontes internacionalmente.
Mas a verdade é que o maior aliado de Lula e do PT atualmente é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho de Jair Bolsonaro (PL), que tem enveredado por um caminho cada vez mais patético na medida em que o processo judicial contra o pai vai avançando.
A última foi uma entrevista para a TV brasileira na qual resolveu rasgar qualquer fantasia de que busca algum benefício para o país. Deixou claro que está trabalhando para atrapalhar qualquer negociação de acordo entre Brasil e EUA. Isso faz dele o maior aliado de Lula, na medida em que afasta o centrão e o empurra para mais próximo dos lulistas e de seus esforços para "defender a soberania nacional".
Todo dia o presidente dá uma entrevista dizendo que o Brasil está sendo atacado e que a culpa é dos bolsonaristas. E todo dia, o "filho 03" dá mais motivos para que a narrativa se consolide.
Quem realmente ajuda Lula
A entrevista de Eduardo Bolsonaro ao SBT foi na segunda-feira (28). Ele escancarou o que já era perceptível: o deputado federal não atua mais como parlamentar, mas como um tipo de "filho em missão".
Ao afirmar que está disposto a atrapalhar as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos enquanto Jair Bolsonaro não for “salvo” da Justiça e do STF, Eduardo confirma que sua prioridade é blindar o pai, ainda que isso custe interesses estratégicos e econômicos do país.
A fala é mais um passo na tentativa de internacionalizar a narrativa de perseguição política contra o ex-presidente, agora com ameaças explícitas de sabotagem institucional.
Discurso sem base
Não foi um escorregão. Ao longo da entrevista, Eduardo repetiu que não aceitará ver o governo brasileiro estreitando laços com os EUA se a “injustiça” contra Jair Bolsonaro continuar. Insinuou que pode interferir inclusive para que os senadores brasileiros em missão nos EUA não consigam ser recebidos pela Casa Branca. O discurso não tem base jurídica nem peso prático direto, mas revela o voluntarismo de quem opera com base em chantagem política e no desprezo por qualquer lógica republicana.
Mas, além de tudo, é uma patetice do ponto de vista estratégico. E toda estupidez calculada é sempre impressionante.
Aliado involuntário do Planalto
Ao agir assim, Eduardo se torna o principal aliado do governo Lula na disputa simbólica pelo centro. Com cada nova declaração histriônica, ele empurra setores moderados para os braços do Planalto, alimenta o antipetismo caricato e fragiliza qualquer construção de uma oposição séria.
O PT não precisa se esforçar muito quando o bolsonarismo faz questão de interpretar o papel de vilão, todos os dias, em horário nobre. Daqui para frente, caso as taxas sejam implementadas no patamar das ameaças. Qualquer resultado positivo vai ser visto como fruto da resistência de Lula. E qualquer resultado negativo será enquadrado na atuação dos bolsonaro.
De qual lado os deputados e senadores do centrão, fisiológicos e necessitados de voto em 2026, vão ficar no caso de o cenário seguir desse jeito?
A bolha e o pai
Eduardo Bolsonaro está construindo um ambiente no qual apenas a sua própria bolha fica satisfeita e vibra com sua atuação. Essa bolha tende a ser cada vez mais desidratada na medida em que o apoio político for diminuindo.
O "filho em missão" também já fez o "favor" de brigar com Tarcísio de Freitas (Republicanos) e com o deputado Nikolas Ferreira (PL). Ambos se tornaram alvos exatamente por não estarem, segundo Eduardo, defendendo o pai dele suficientemente. Na prática, o pecado deles é querer uma solução para os empregos que serão perdidos no Brasil sem citar a salvação do pai dele como "condição para isso".
É a versão atualizada do slogan bolsonarista: "Brasil acima de tudo, mas primeiro meu pai".