Cena Política | Análise

Os cabos eleitorais improváveis de Lula para 2026. Bolsonaro incluso

Lula escapava do naufrágio político, até que Hugo Motta deu o empurrão e Trump ajudou a completar o roteiro improvável de uma recuperação eleitoral.

Por Igor Maciel Publicado em 11/07/2025 às 20:00

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Lula (PT) estava em situação difícil para sua popularidade, pensando em uma solução que não aparecia, começou a ser abandonado até pelos aliados no Congresso. Partidos como União Brasil, Progressistas, PSD e Republicanos, todos com bons assentos na Esplanada dos Ministérios, já estavam de malas prontas para declararem independência e rumavam à oposição de fato e de direito.

Mas o imponderável é um ser caprichoso que opera por onde pouco se espera, premiando os que muito lhe aguardam. Ele operou através do paraibano Hugo Motta e do americano Donald Trump exatamente sobre o público que Lula mais precisava.

Política como malabarismo

Uma das habilidades políticas essenciais é a de equilibrista. Para ter sucesso de verdade, você precisa ser capaz de pegar interesses conflitantes e colocar cada um deles alinhados ao ponto de acreditarem que lutam pelas mesmas coisas e que não é bom para um derrubar o outro. Sem isso, o sujeito vai ser sempre apenas um juntador de votos.

A diferença entre o juntador de votos e o político de sucesso é que o primeiro é capaz de ter boas votações que dependem sempre de um custo muito elevado, principalmente financeiro. Já o bom político é tão bom na tarefa de empilhar divergências que tudo converge para ele. O segundo tipo é cada vez mais raro no Brasil.

Lula já foi desse segundo tipo, com sua capacidade de articular, mas não conseguia entender a própria realidade nesses dois anos e meio e parecia perdido na missão de manter a própria base enquanto conquistava novos eleitores.

Esquerda se frustra

O maior desafio de Lula era que ele estava perdendo seus eleitores da esquerda, desestimulados com a distância do presidente de pautas que são caras a esse espectro ideológico, mesmo as mais utópicas.

O militante de esquerda, não raro, é o sujeito que anda de carro próprio “porque é o jeito”, mas defende o transporte público. Ele reclama do “imperialismo norte-americano”, mas gasta dinheiro com produtos norte-americanos todo dia. Há até os mais abastados que defendem a simplicidade da vida ao ar livre, em viagens internacionais cujas passagens custam milhares de reais.

Isso também acontece com a direita, que fala em patriotismo, mas venera os EUA. Defende a liberdade de expressão, mas apoia intervenções militares.

A questão aqui é que o discurso tem poder de aliviar consciências. E Lula não conseguia dar esse discurso ao seu público. Se o maior líder não os embala, há um problema. Aí surgiu o “pobres x ricos”.

Motta ajudou

Quando Hugo Motta (Republicanos) atuou para derrubar o aumento do IOF, estava pressionado pelo próprio partido e pelos aliados prestes a pular do governo. Mas só depois de embarcar no trem contrário aos impostos percebeu que tomou o transporte errado.

O governo iniciou outra viagem, em outro trilho, convocando a militância à esquerda a “lutar contra a desigualdade” e buscar “justiça tributária”, com ricos pagando mais do que pobres. O resultado foi uma avalanche de ataques coordenados nas redes sociais contra Motta e o Congresso “defensor dos super-ricos”.

Lula aproveitou a oportunidade, embalou o alívio de consciência de sua base outra vez e ganhou força dentro da esquerda em que já vinha sendo abandonado.

Trump completou

Mas ainda havia um problema. A narrativa é boa dentro do grupo que já possui tendência a apoiar Lula. E o resto do Brasil? E aqueles não bolsonaristas convertidos que podem se aproximar dependendo da conjuntura?

Quando parecia que o governo e o PT iriam ficar administrando esse discurso de ricos contra pobres até 2026, apareceu Donald Trump. E o melhor de tudo é que não foi uma atitude isolada do presidente americano. Ele foi provocado pela família Bolsonaro e citou Bolsonaro como motivo para taxar o Brasil em 50% a partir de agosto.

Foi como dar a Lula um presente, em caixa brilhosa e laço nas cores da bandeira americana. Agora ele pode sustentar a esquerda com o discurso de ricos contra pobres e o centro com a necessidade de “proteger o país”. Como bônus, ainda pode culpar o maior adversário.

Economia paga a conta

Tudo muito bom. Tudo muito bem. Mas e a economia? Quanto mais a relação se acirrar entre os governos Lula e Trump, com reciprocidade, ameaças e incerteza fiscal, pior será para os empregos, o PIB e a inflação. Lula culpará Trump e Bolsonaro, mas o prejuízo vai ficar com quem produz, com quem gera emprego e trabalha para produzir riqueza no país.

Um efeito já é evidente. Hoje ninguém mais fala em CPI do INSS, em escândalo e nem em PEC da Anistia. Ninguém está falando, nem mesmo, em deixar o governo, no caso dos partidos com ministério por lá. Na próxima quarta-feira haverá uma pesquisa Quaest com a popularidade do governo e a disputa pela presidência. Todo mundo anda muito curioso pelo resultado.

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