Cena Política | Análise

Haddad, STF e o erro político que ameaça ampliar a crise de Lula

Estratégia de pedir ajuda ao Supremo pode agravar desgaste de Lula, ampliar crise com Congresso e expor magistrados em meio à crise de credibilidade.

Por Igor Maciel Publicado em 27/06/2025 às 20:00

Fernando Haddad (PT) está querendo briga e fala o tempo todo em judicializar a derrubada do aumento do IOF no Congresso. Comete um erro político, mesmo que tecnicamente esteja correto. Um erro grosseiro, inclusive.

É que na política a forma mais efetiva para bater de frente com alguém é nem raspar os ombros, quase como se fosse uma dança. O ministro da Fazenda pode até saber tocar violão, mas não sabe dançar e demonstra isso com a insistência em envolver o Supremo Tribunal Federal com a história.

Já faz algum tempo que o STF transformou-se na “mesa da tia da escola”. Todo menino birrento de Brasília, contrariado em votações no Congresso, corre para “contar tudo à tia”.

STF e Política

Começou há alguns anos, quando partidos da esquerda perdiam votações no Congresso durante a gestão Bolsonaro e algum deputado do grupo derrotado atravessava a Praça dos Três Poderes para pedir ajuda ao Judiciário. Os magistrados atendiam sempre e gostaram da atenção ao ponto de serem acusados, como são até hoje, de tentarem funcionar como um legislativo paralelo, misto de usurpador de atribuições e moderador do sistema de pesos e contrapesos. Uma jabuticaba das que o Brasil costuma produzir aos montes.

É basicamente isso que Haddad ameaça fazer. E, acredite, juridicamente ele tem razão.

Inconstitucionalidade

É que a derrubada do aumento do IOF, da maneira como foi feita, é inconstitucional segundo vários juristas que conversaram com a coluna, nem tanto pelo instrumento utilizado, um Projeto de Decreto Legislativo com o objetivo de sustar três decretos do Executivo, mas porque as alterações tributárias dos decretos do governo Lula são prerrogativas do Palácio do Planalto.

A questão, entretanto, não é essa. Dessa vez, nem os ministros do STF mais vaidosos e afeitos aos holofotes do poder querem essa confusão para eles. Acontece que se decidirem a favor do governo estarão batendo de frente com parlamentares que andam colocando água fria na fervura das tensões entre o Legislativo e o Judiciário. Não querem essa confusão.

STF evita conflito

Outro motivo para nem os ministros do STF desejarem participar da briga é que ninguém quer entrar ao vivo na TV Justiça anunciando, por força de lei, um aumento de impostos para os brasileiros. Haddad e Lula (PT), inclusive, deveriam ouvir os magistrados para entender o tamanho da bobagem. Eles querem mesmo sustentar uma guerra e um desgaste sem volta com os parlamentares quando o cerne da questão é aumentar ou não a carga tributária dos brasileiros?

Se acreditam realmente que a estratégia de dizer que “só estão aumentando os impostos para os ricos” vai funcionar, alguém precisa dar-lhes um sacolejo para que acordem. O Brasil não está dividido entre ricos e pobres e sim entre os que ainda acreditam no governo e os que nem perdem mais tempo com isso.

Desgaste com Congresso

A crise é de credibilidade, não de representação ou identificação. Enquanto Lula e sua equipe acreditarem que o seu grande problema é fazer com que os brasileiros se identifiquem com o presidente e seus anseios, o fundo do poço será moradia.

O brasileiro não está querendo um líder que os guie por um pântano desconhecido, como um salvador obstinado, que é o que Lula insiste em representar. O brasileiro só quer acreditar que o governo em voga é capaz de parar de atrapalhar e de cobrar taxas por isso.

Nesse ambiente, brigar ainda mais com o Congresso será uma das atitudes mais inférteis que o presidente e sua equipe já tomaram na vida.

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