O PSDB nacional e sua dificuldade para entender a própria situação
O PSDB e seus integrantes buscam sobrevivência pura e simples, carregando álbuns de fotografia, sem projeto de futuro, sem plano de crescimento.

O PSDB é um jogador de futebol famoso, celebrado em seus melhores tempos que, depois de ter ido à falência porque sempre gastou mais do que ganhava, bate à porta de um clube e se oferece para ser contratado.
“Olá, boa tarde. Vou dar a vocês a chance de contar comigo em seus quadros. Eu fiz mais gols que o Pelé, driblava melhor que o Garrincha e ganhei seis copas do mundo. Se vocês me pagarem bem e deixarem eu mandar no clube de vocês, eu deixo vocês aproveitarem meu passado”, afirma com segurança.
O clube, precisando de um reforço no campeonato que está para começar faz a pergunta óbvia: “Você ainda tem condições de jogar?”. A resposta vem com uma expressão esperançosa de que “o joelho não permite correr, mas só a presença no banco já impõe respeito”.
Fazem um acordo, apertam as mãos, mas assim que passa a soleira da porta, o novo contratado começa a dar ordens, fazer exigências e dizer a todos que agora quem manda em tudo é ele.
O jogador aposentado é o PSDB e o clube precisando de reforço é o Podemos. E esta é a história do motivo pelo qual os tucanos aprovaram uma fusão com a legenda da presidente nacional Renata Abreu (Podemos), mas ela não lhes deu nem um suspiro sobre o assunto. Nem mesmo uma palavra de força ou boas vindas.
Gasolina velha
Numa entrevista esta semana ao programa Passando a Limpo, na Rádio Jornal, o cientista político Henrique Curi, doutorando na Fesp com uma pesquisa sobre o PSDB, brincou que os colegas fazem piada, dizendo que ele começou o doutorado no departamento de Ciência Política e vai concluir no departamento de História. A questão é que o PSDB, da maneira que era conhecido, acabou. E os caminhos que tomou nos últimos meses empurraram sua caminhada já errática por vales ainda mais obscuros e sombrios.
Poucas coisas são tão perigosas quanto agir de acordo com o que se foi e não com o que se pretende ser. Não faz mal ter orgulho do que se viveu e construiu quando isso é um impulso para novas ideias, mas tentar viver abastecido somente do passado limita o futuro. Em resumo, sendo bem direto: gasolina velha prejudica o motor.
PSD
O PSDB esteve muito próximo de fechar com o PSD uma fusão, por exemplo. Mas o projeto, quando já estava bem encaminhado, esbarrou nos interesses pessoais de alguns dos integrantes, inclusive de Aécio Neves. O ex-governador de Minas Gerais pretende disputar o cargo novamente e como no PSD está Rodrigo Pacheco (PSD), pré-candidato ao governo, provavelmente o neto de Tancredo seria barrado.
Desfazer as conversas com o PSD teve repercussão negativa internamente. A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, saiu do PSDB para o PSD e levou com ela mais de 30 prefeitos. Em seguida, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tomou o mesmo caminho e levou com ele mais algumas dezenas de prefeitos.
O PSDB só tinha três governadores. Quase 70% do comando que eles tinham nos estados debandaram.
Podemos
Na nova negociação, agora com outro partido, tudo caminhou bem, mas só até que se começou a perceber um problema da realidade: na fusão, o Podemos estava entrando com toda a estrutura, um número maior de parlamentares e até com mais dinheiro. O PSDB estava entrando com um museu e muitas histórias para contar sobre a época em que comandou o país.
O PSDB busca sobrevivência pura e simples, carregando álbuns de fotografia, sem projeto de futuro, sem plano de crescimento.
Ainda assim, os tucanos começaram a fazer exigências sobre os estados em que ficarão no comando e as chapas que serão formadas em cada unidade federativa do país, como se estivessem em condições de dar ordem ao Podemos.
A presidente Renata Abreu (Podemos) arqueou as sobrancelhas, arregalou os olhos e agora, mesmo com o PSDB tendo aprovado entre os seus a fusão, há bastante dúvida se ela realmente vai acontecer porque o partido ficou dividido com as imposições tucanas.
Pernambuco é um dos pontos de discórdia, apenas para citar um exemplo. O presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB), recebeu a garantia do seu partido que comandará a fusão aqui. Mas os integrantes locais do Podemos estão tranquilos afirmando que isso não irá acontecer.
Mesmo que vire realidade, tudo indica que a fusão será marcada por tanta desunião quanto a que deu tom (ironicamente) ao partido hoje chamado de União Brasil.