Cena Política | Análise

A pesquisa ruim para Lula traz também uma má notícia para Bolsonaro

Quem não avaliza, perde influência. Se eu não precisar de você, nada lhe devo. Este é o drama de Bolsonaro se ficar insistindo em candidato familiar.

Por Igor Maciel Publicado em 05/06/2025 às 20:00

O brasileiro está cansado de Lula (PT) e de Bolsonaro (PL). Se dependesse do eleitor, em sua maioria, nenhum dos dois disputaria a eleição de 2026. A pesquisa Quaest publicada esta semana fez duas perguntas aos entrevistados para entender o que eles pensam do protagonismo dos dois na próxima eleição.

Para a pergunta “Lula deveria ser candidato a reeleição em 2026?”, 66% responderam que “não”. Os pesquisadores repetiram a pergunta, mas dessa vez relacionada a Bolsonaro, se ele deveria seguir insistindo em ser candidato em 2026. E 65% dos entrevistados também responderam que “não”. O eleitor está cansado dos dois.

Vão descansar

Esse cansaço não se restringe aos eleitores que antipatizam um dos dois políticos. A indicação de que eles não deveriam ser candidatos está presente também entre os eleitores que se dizem lulistas ou bolsonaristas.

No caso de Lula, são 15% dos eleitores que se declaram petistas ou lulistas e responderam que ele não deveria tentar a reeleição. Com Bolsonaro o número é ainda maior. Dos que se dizem especificamente bolsonaristas, 38% dizem que ele deveria abrir mão da candidatura e apoiar logo um outro candidato. Bolsonaro, como se sabe, está inelegível, e sua insistência em ser candidato tem ajudado a interditar a discussão sobre uma alternativa.

Família

Mesmo com essa interdição, há um crescimento dos nomes alternativos que, apesar de estarem mais próximos do bolsonarismo do que de Lula, estão fora da lista de candidatos preferidos do ex–presidente. É o caso de Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (UB-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR).

A subida desses nomes na pesquisa é uma má notícia para Lula e também para Bolsonaro. Ratinho, por exemplo, chega a empatar com o atual presidente, mesmo não tendo a indicação de Bolsonaro, que quer alguém da família em seu lugar.

Caiado e Zema

Nas simulações de segundo turno, que medem o potencial de cada candidato contra Lula, Ronaldo Caiado, governador de Goiás, passou de 20% em dezembro de 2024 para 33% no levantamento desta semana. No mesmo período, contra Caiado, Lula tinha 54% e caiu para 43%.

A diferença entre os dois, que há seis meses era de 34 pontos percentuais, agora é de 10 p.p., num movimento parecido ao que ocorreu com Romeu Zema, governador de Minas Gerais. A diferença de Lula para ele em dezembro de 2024 já foi de 17 p.p. e agora caiu para 9 p.p.

Ratinho

Ratinho Júnior foi o que mais chamou a atenção porque chegou a empatar tecnicamente com o atual presidente na simulação de um segundo turno. O governador do Paraná tinha, na última pesquisa da Quaest este ano, 35% contra 42% de Lula. Dois meses depois, Lula caiu para 40% e Ratinho subiu para 38%. Na margem de erro, os dois estão empatados.

A notícia é particularmente ruim para Bolsonaro, porque mostra um candidato extremamente competitivo na disputa contra o petista, mas que não recebe aval do bolsonarismo e, para completar, está no partido de Gilberto Kassab, com quem o ex–presidente não se dá muito bem.

Quem não avaliza, perde a influência. Se eu não precisar de você, nada lhe devo.

Jogo

O cenário para Lula é ruim, mas para Bolsonaro é péssimo. Se Ratinho insistir em ser candidato, mas não receber apoio do bolsonarismo, terá potencial para dividir os votos da direita, enfraquecendo qualquer candidato que Bolsonaro vier a lançar e apoiar, com possibilidade até de ir ao segundo turno e vencer.

Mas se Bolsonaro resolver apoiar Ratinho, ou qualquer outro candidato alternativo que não seja da sua própria cozinha, a chance de ser abandonado logo após a eleição é tão grande quanto a de Alexandre de Moraes querer prendê-lo até o fim deste ano.

Uma pesquisa em que Lula está enfraquecido deveria ser boa para o bolsonarismo e só, mas talvez o jogo tenha que ser lido de forma diferente.

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