Igor Maciel: O que um garoto de seis anos é capaz de aprender e o governo Lula não
O menino de seis anos entendeu a complexidade das coisas e está tranquilo com suas obrigações. O governo Lula não consegue aprender e não cresce.

Havia um garoto que pretendia, com tijolinhos de brinquedo, fazer a mais rápida construção de uma casa no mundo. Ao invés de apoiar uma peça na outra com cuidado, ele tentava amontoar os tijolinhos com velocidade, eles ficavam desalinhados e a construção desmoronava antes de se parecer com uma casa.
Na tentativa seguinte ele buscava apoiar as peças na mão de uma forma diferente, segurar entre os dedos, apoiar com o antebraço e com o cotovelo. Mas nada dava certo e a construção não se firmava.
Após um dia inteiro de trabalho intenso, embora sem sucesso, cansou e foi dormir frustrado. Não demorou muito e aquele menino aprendeu que o cuidado com o processo é mais importante que o resultado. Porque o segundo só será aproveitável se o primeiro for respeitado.
Quando começou a apoiar os tijolinhos com mais cuidado, com precisão e não com pressa, rapidamente a casa ficou pronta, o telhado foi improvisado com uma folha de papel ofício pintada a lápis de cera e o menino foi embora jogar bola com a sensação de dever cumprido e pensando em ser engenheiro no futuro.
O governo Lula poderia tomar umas lições com esse menino. E talvez o país sofresse menos com a pressa de um grupo que está ávido por resultados, mas não se dispõe a respeitar o processo e nem agir com planejamento ao invés de gastar dinheiro e aumentar impostos.
Depende da verba
O governo Lula é um menino de seis anos querendo fazer a casa mais rápida do mundo, esquecendo que o telhado precisa se apoiar em uma base de tijolos bem postados. Desde que assumiu, em 2023, a equipe de Lula tenta encontrar a fórmula mágica para ter resultados rápidos na economia que resolvam a questão da baixa popularidade.
A impressão que persiste é de que a diferença pequena de votos em relação a Jair Bolsonaro (PL) nas eleições deixou a gestão perturbada. “Como assim, Lula quase perdeu?”. Tem um tanto de arrogância na frase, mas é algo orientado pela ideia de que o petista era imbatível nas urnas. Por isso, todo mundo surgiu com ideias que pretendiam resolver isso rápido.
E quando se fala em solução fácil para problema difícil, é natural que o meio seja o dinheiro. Lembra bem aqueles cartazes colados em postes: “trago seu amor de volta em sete dias”. No setor público pode haver um complemento do tipo “dependendo da verba, ele volta antes”.
É assim que pensa o governo Lula. Libera todo o dinheiro que puder e espera a popularidade subir de novo. Mas como fazer isso sem dinheiro no cofre?
A tesoura e a mágica
Agora, por exemplo, apesar de a equipe de “tesouras e tributos” dizer que não sabe como vai pagar as contas, integrantes da equipe de “realizações mágicas” andam espalhando que já têm um plano para salvar os números nas pesquisas. A ideia é concentrar tudo em três programas de grande impacto social. O primeiro é o Pé de Meia, o segundo é o que vai deixar a luz de graça para a baixa renda e o terceiro é o que vai distribuir botijões de gás.
Para qualquer crítica que for feita, Lula dirá que “só um rico desalmado seria contra distribuir um botijão de gás para uma família pobre”, dirá que é a luta dele pelo povo e contra as elites, entre outras pérolas da cartilha demagógica de sempre.
Mas não explicará como vai gastar R$ 13,6 bilhões com o programa, enquanto seu ministro da Fazenda afirma que não terá dinheiro para pagar nem o básico do governo nos próximos meses.
Pesado
Sim, o gás parece um custo pequeno mas vai significar um impacto estimado de R$ 13,6 bilhões, porque a ideia é distribuir até seis botijões por família, ao ano. E são milhões de famílias.
Se não for feito o novo programa eles ficarão sem nada? Errado. Eles já recebem Auxílio Gás. A ideia é ampliar mesmo. Hoje o custo que o governo tem com o gás é de R$ 3,7 bilhões. São quase R$ 10 bilhões de diferença. Somando os três programas, o investimento que Lula pretende fazer na recuperação de sua popularidade ultrapassa R$ 30 bilhões.
Como essa conta será paga é um problema para o qual, depois, vai se tentar outra solução. O pagador de impostos que aguente.
Aprendizado
A busca por soluções rápidas não funcionou no primeiro ano, nem no segundo e não está funcionando no terceiro ano. Nessa reta final, ao invés de aprender que não adianta ser rápido e que o sucesso está em respeitar o processo e o cuidado no planejamento das ações, Lula está preocupado em mais soluções rápidas, usando o antebraço, o cotovelo e até a testa na tentativa de empilhar os tijolinhos.
A diferença é que o menino de seis anos entendeu isso e está tranquilo com suas obrigações antes de ir jogar bola. O governo Lula não consegue aprender.
E antes fossem tijolinhos de brinquedo. Porque a conta vai ficar cara e os brasileiros, principalmente os mais pobres, são os que acabam pagando.
Basta lembrar do esforço de Dilma Rousseff (PT) para se reeleger em 2014. No fim ela perdeu o cargo, mas deixou umas das maiores crises das últimas décadas como legado. E os mais pobres acabaram pagando.