Cena Política | Análise

Igor Maciel: A importância dos prefeitos em 2026 e como isso pode favorecer Raquel

A importância dos prefeitos para a eleição de 2026 pode ser um dos motivos pelos quais o Palácio vem represando o pagamento de emendas aos deputados.

Por Igor Maciel Publicado em 29/05/2025 às 20:00 | Atualizado em 30/05/2025 às 6:48

Os prefeitos são importantes numa eleição estadual. Importantes, não. São essenciais. Em Pernambuco há os que se apressam em falar numa eleição de Miguel Arraes, na qual ele tinha muitos gestores municipais e foi derrotado como prova de que ter esse apoio não é garantia de nada. Mas o exemplo só reforça a importância dos prefeitos e explico melhor o motivo adiante neste mesmo texto.

O fato é que a governadora Raquel Lyra (PSD) acaba de filiar ao seu partido mais um chefe de executivo municipal. Elias Meu Fii deixou o MDB após a vitória de Raul Henry na eleição pela presidência da sigla e migrou para o PSD. O prefeito de Pombos até fez foto com a governadora. Raquel já filiou 64 prefeitos ao partido no qual entrou este ano.

Está perto do recorde do PSB que, ainda sob a comoção da morte de Eduardo Campos, alcançou 70 prefeituras em 2016 e hoje tem menos de 30 prefeitos.

2022

No primeiro turno da eleição de 2022 em Pernambuco, um movimento das votações chamou a atenção. Pessoas que analisaram os números das pesquisas feitas em cada município naquela época, chegaram a uma constatação que comprova a força dos grupos locais nessa disputa.

Nas pesquisas, feitas diretamente com os eleitores, Marília Arraes (SD) aparecia com grande vantagem em cidades nas quais, abertas as urnas, acabou tendo bem menos votos do que era esperado. As análises feitas por pessoas que trabalharam ativamente na campanha da candidata chegaram a uma conclusão impressionante: em em boa parte dos municípios nos quais Marília liderava, quem acabou vencendo foi o “candidato apoiado pelo prefeito”.

É que, na reta final, o grupo local faz um esforço concentrado e direciona a votação para entrar em sintonia com a administração de cada prefeitura.

Força

Os prefeitos são, sim, muito fortes. Não é ao acaso que Raquel repete que é municipalista a cada discurso, que gosta de governar a partir dos municípios e, apesar dos números em pesquisas ainda apontarem uma desvantagem dela em relação a João Campos (PSB), cerca de 130 prefeitos de um total de 184 têm feito questão de elogiá-la e aparecer em fotos no Palácio.

Embate

A importância dos prefeitos para a eleição de 2026 pode ser um dos motivos pelos quais o Palácio vem represando o pagamento de emendas impositivas aos deputados da Assembleia Legislativa de Pernambuco.

Um leitor da coluna com certa influência nos bastidores da política do estado levantou essa questão. E se o governo estiver segurando ao máximo o pagamento das emendas, mesmo as que são obrigatórias, para evitar concorrência no coração dos prefeitos? Quanto menos dinheiro os deputados da oposição tiverem para distribuir com as prefeituras, mais eles vão precisar do Palácio para suas realizações.

Dinheiro

Os deputados não são bobos e já perceberam isso, mas não podem dizer que querem o dinheiro das emendas para fazer política ou trocar suas indicações por voto, então implicam com os projetos do Palácio, tentando inviabilizar obras que dariam força à gestão estadual.

Não é por acaso que surgiu a ideia na Comissão de Orçamento, sem lastro na realidade jurídica e burocrática do país, de dividir metade do valor do empréstimo que está travado na Alepe com os prefeitos do estado. São os deputados querendo fazer média com os municípios, já que não conseguem mandar dinheiro de emendas para lá.

Sobre Arraes

Agora, porque o contexto de 2026 é completamente diferente do que existia na época de Miguel Arraes quando dizem que ter “uma infinidade de prefeitos não o elegeu”?

O então governador socialista estava na oposição ao presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), faltava dinheiro para tudo, salários atrasavam por meses. Foi nesse ambiente em que foi anunciado o apoio de mais de 130 prefeitos a Arraes.

A verdade é que os gestores não ficaram com o governador e foram apoiar Jarbas. Arraes perdeu exatamente porque não conseguiu segurar os gestores municipais em seu grupo. Os prefeitos não eram irrisórios, pelo contrário, eram tão fortes que sua debandada decidiu aquela eleição.

A situação do Palácio, inclusive a financeira, será completamente diferente em 2026. Quem menosprezar as prefeituras, vai ter uma surpresa.

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