Jarbas Vasconcelos e a eleição em que todos perderam, até quem ganhou
Na eleição do MDB não valeram a pena a vitória nem a derrota, pela maneira como ocorreu. A eleição do MDB foi pírrica, do primeiro ao último voto.

O resultado da eleição do MDB neste sábado (24) foi lamentável. Não pelo que as urnas entregaram, mas por tudo o que aconteceu antes disso. Independente de quem ficasse na presidência do partido, haveria um vencedor constrangido e um perdedor constrangido.
Constrangimento não é algo que acontece de repente, como um espirro. É construção lenta, de vários fatores. Antes se tomou chuva, passou o dia com roupa molhada, levando vento frio e no fim veio o espirro. Ao fim da eleição, a alegria de Raul Henry, mantido no comando do partido, era mais de sobrevivência que de vitória. A tristeza de Jarbas Filho era mais de dúvida que de derrota.
As expressões dos dois falam. Um respirava ainda tenso e o outro questionava se valeu a pena.
Jarbas Vasconcelos
E no pensamento dos dois, certamente, estava uma figura central que foi a única, realmente, injustiçada nesse processo todo: Jarbas Vasconcelos. O ex-governador e ex-senador da República não merecia o processo de exposição em que essa eleição interna se transformou. Nessas horas não interessa quem começou ou quem terminou. O resultado é o mesmo, independente da origem.
Depois de tantas eleições, vitórias fragorosas e derrotas honradas, depois de abrir mão do cargo de Senador porque pretendia se afastar da política para cuidar da própria vida. Terminar envolvido numa disputa entre um filho e outro que era tratado como se filho fosse, para que um capítulo tão importante de sua história com o MDB em Pernambuco e no Brasil carregue para sempre as linhas que vão explicar essa eleição, é triste.
Respeito
Quando o ex-governador foi envolvido pela primeira vez nessa disputa, com fotos, cartas de lado a lado, declarações covardes e levianas, esta coluna publicou um texto em defesa da única coisa que importa na vida de um homem público com bons serviços prestados quando ele está afastado da vida pública: respeito ao legado construído com suor e trabalho.
Depois, não se deu aqui mais nenhuma linha sobre o assunto, porque era preciso dar o exemplo e Jarbas, depois de tudo o que aconteceu, merecia voltar à rotina de tranquilidade, longe dos holofotes. Era também uma forma de evitar que a repercussão levasse a qualquer reclamação de interferência na eleição.
Nem todo mundo fez isso e veio um novo problema.
Constrangimento
O ex-governador continuou sendo exposto por um dos candidatos e seguiu sendo utilizado numa linha de frente eleitoral da qual ele próprio havia decidido se ausentar quando deixou o cargo de senador para descansar pouco tempo atrás.
Não é por acaso que o constrangimento assaltou a todos quando a eleição acabou. Vitórias conquistadas sobre justas bases são consagradoras dos indivíduos como grandes lideranças. Derrotas como fim de uma trajetória justa são consagradoras também. A única diferença é que a vitória entrega seu prêmio no curto prazo e a derrota demora um pouco mais.
Pela maneira como Jarbas foi tratado, nem a vitória e nem a derrota construíram nada neste sábado entre os emedebistas de verdade.
Pirro
Em 280 A.C, o rei Pirro venceu os romanos na Batalha de Heracleia e, depois de um ano, voltou a vencê-los na Batalha de Ásculo. Quando terminou, triste e constrangido, respondeu assim a um súdito que comemorou o sucesso das lutas: “Outra vitória dessa e estamos acabados”.
Acontece que ele havia perdido uma parte enorme das forças que levara à guerra e, o pior, quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes morreram. Essa passagem histórica deu origem à expressão “Vitória de Pirro”, quando a vitória não vale a pena pela forma como foi construída.
Na eleição pelo comando do MDB não valeram a pena a vitória e nem a derrota. A eleição emedebista foi pírrica, do primeiro ao último voto. Sem exceção.