A alucinação coletiva do Governo Federal que vai além do IOF e de Lula
O comportamento do governo Lula, se fosse encontrado num individuo, seria suficiente para se indicar a ele que buscasse um bom psiquiatra

O Planalto tem vários “governos Lula”. Tem o de Haddad e Tebet, que busca responsabilidade fiscal e quer cortar gastos. Tem o de Gleisi Hoffmann que quer gastar tudo o que for possível em programas sociais. Tem o de Rui Costa que quer turbinar com gastos mais altos os projetos do PAC. Tem o governo de Marina Silva que busca atrapalhar a perfuração de poços pela Petrobras. Tem o governo de Alexandre Silveira que quer perfurar poços com a Petrobras. Tem o governo de Janja, que não se cansa de viajar o mundo.
E há quem diga que tem até o governo do presidente Lula, cansado de governar e de administrar essa loucura em que se transformou sua própria gestão. Seria para ter pena, se ele não fosse o maior culpado disso.
Alucinação coletiva
Se todos esses governos dentro de uma mesma gestão só operassem sobre uma mesma faixa, com objetivos que se encontrassem, não haveria problema. A gestão pública no Brasil, desde sempre, é uma alucinação coletiva mesmo e, enquanto for possível fingir normalidade, tudo acaba funcionando.
Mas a administração atual é como um condomínio de interesses, vivendo no mesmo espaço e lutando entre si.
Essas crises, normalmente, não tem nem um dedo da oposição. Não precisa. As dificuldades são criadas pela própria equipe puxando a corda em direções mais diversas que os pontos cardeais.
Governos Lula
Esta semana, por exemplo, o “governo Silveira” anunciou isenção da conta de luz com impacto de R$ 3,6 bilhões em custo para os cofres.
Horas depois, o “governo Tebet/Haddad” anunciou um contingenciamento de R$ 30 bilhões, porque não há dinheiro para pagar as contas.
Para não cortar tanto e também cobrir o buraco que outras medidas, como a isenção da energia, provocaram, anunciou ainda que iria aumentar o IOF. Isso fez o dólar pipocar. O dólar pressiona a inflação.
Bastaram poucas horas para o governo anunciar que desistiu de aumentar o IOF, no mesmo dia. E na manhã seguinte foi explicado que a desistência não era completa, dizia respeito apenas a um aspecto das transferências internacionais.
Psiquiatra
Recapitulando o escrito acima, quando você coloca tudo na perspectiva de que só existe um governo, o de Lula, temos o seguinte: a gestão estava com dinheiro sobrando ao ponto de isentar as contas de luz, mas estava com dinheiro faltando ao ponto de congelar o orçamento, não faltava tanto assim porque iria aumentar o IOF, mas desistiu de aumentar e, depois, desistiu de desistir parcialmente. Se o último período deste parágrafo fez algum sentido para você, é aconselhável procurar ajuda psiquiátrica.
Com uma gestão dessas, quem precisa de oposição?
Fora da realidade
Para além de tudo isso, ainda existe outro problema, que diz respeito à ausência de sensibilidade e ignorância dos petistas com a realidade dos brasileiros hoje em dia.
Da mesma forma que o Ministério do Trabalho acreditava que estava fazendo o gol quando propôs criar um sindicato para os motoristas de aplicativo, quando isso era o que eles menos queriam, aumentar o IOF acreditando que só gente muito rica (a “elite”) faz transferência internacional, é um equívoco político e social imenso.
Por volta das 15h da sexta-feira (23), usuários de aplicativos que fazem compra e venda de dólares, como Wise e Nomad, receberam um aviso de que a tributação na conversão, antes em 1,1% , iria passar para 3,5%. Os maiores usuários desses aplicativos não são investidores abastados da Faria Lima, mas trabalhadores. Eles são muitos, são variados, muitos votam em Lula. E eles não são ricos.
Fora de tempo
Há um número imenso de brasileiros que trabalham para empresas internacionais, mas atuam fisicamente no Brasil, de suas casas. Eles são, principalmente, do setor de tecnologia, programadores e designers são alguns exemplos. A maioria deles recebe em dólar ou Euro e quando forem fazer a conversão para o real, pagarão mais. Isso sem falar em quem planeja bastante e compra moeda estrangeira para viajar.
A ideia de que somente investidores ricos fazem transferências internacionais é tão ultrapassada quanto a ideia dos sindicatos para os motoristas de aplicativo. É o governo Lula dos anos 1980 atuando impávido em 2025 como se o tempo não houvesse passado. É o tipo de atitude que também demanda uma consulta ao psiquiatra.