Sobre o oxigênio que encarece os governos e a situação de Lula para 2026
No governo, o oxigênio é a popularidade, e quanto menor for mais esforço de articulação política é necessário para que a gestão mantenha-se viva.

Em abril, depois de um longo tempo nadando em direção a luz da superfície, o governo Lula conseguiu colocar boca e nariz para fora da água e respirou apressadamente. O ar entrou num pulmão dolorido, pressionado desde o início do ano pelos problemas de comunicação que haviam gerado a “crise do PIX”. Governos, da mesma forma que acontece com o corpo humano, precisam de oxigenação chegando pelo sangue para sustentar o cérebro.
Quanto menos oxigênio, mais lenta a pessoa fica e mais energia ela gasta para fazer até o básico que é manter-se vivo. No governo, o oxigênio é a popularidade, e quanto menor for a popularidade mais esforço de articulação política é necessário para que a gestão mantenha-se viva. Mais atenção partidária e mais cargos precisam ser disponibilizados. Mais emendas precisam ser distribuídas. Governar se torna muito mais caro.
Caldo
A gestão Lula estava em recuperação de popularidade no mês de abril e já havia comemoração sobre a eficácia da comunicação do governo que poderia, num futuro próximo, baratear as relações com outras instituições políticas.
Mas não durou muito. Veio o escândalo do INSS e, por mais que a gestão petista tenha se esforçado para reforçar a ideia de que Lula está combatendo um esquema da época de Bolsonaro, acabou pagando o preço.
O Pulso Brasil deste mês de maio, levantamento feito pelo Ipespe comandado pelo cientista político Antonio Lavareda, aponta que o fôlego durou pouco tempo e o governo “levou outro caldo”. A percepção sobre a economia, por exemplo, que vinha melhorando e já tinha 38% dos entrevistados enxergando um rumo acertado em sua condução retroagiu para 35%.
Aprovação
Ao responderem uma pergunta direta sobre aprovar ou não o presidente Lula (PT), 54% dos entrevistados disseram reprovar a gestão. É o mesmo patamar negativo de março, que estava melhorando em abril, mas sofreu um revés significativo após o episódio do INSS no qual um ministro chegou a perder o emprego. Até a aprovação, que já estava num patamar muito baixo, chegou a oscilar negativamente também. Era 41% e caiu para 40%.
Para baixo
O efeito do escândalo do INSS na pesquisa está bem fundamentado em outra questão levantada pelo Ipespe. Quando perguntados sobre quais notícias ouviu falar, relacionadas ao Governo Lula nas últimas semanas na TV, nos jornais, no rádio, na internet e nas redes sociais, a mais citada foi a do INSS, por 33% dos entrevistados. A viagem do presidente à China, considerada mais positiva, veio em segundo lugar, mas com apenas 11% das menções.
Preço
Quanto mais demora para recuperar um patamar razoável de popularidade, maior é a pressão exercida por agentes políticos sobre o governo.
Depois da crise do INSS, por exemplo, aumentou muito a insistência de Davi Alcolumbre (UB) para que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, seja demitido. O motivo é que eles eram aliados e Silveira não teria cumprido acordos com o atual presidente do Senado. Lula gosta muito de Silveira e tem feito de tudo para segurá-lo no cargo mas, encurralado, se nada mudar, tende a ceder.
E isto é apenas um exemplo do que acontece com gestores impopulares.
Favorito
Agora, isso impede Lula de ser candidato à reeleição? Não. Atualmente ele ainda é o grande favorito. Com 40% de aprovação, o petista ainda tem um percentual maior do que todos os outros possíveis candidato apresentados até agora.
Contribui muito o fato de Bolsonaro (PL) estar inelegível. Contribui também a insistência do ex-presidente em lançar alguém de sua família, a quem emprestará votos, mas que também receberão sua rejeição. Bolsonaro interdita a direita do mesmo jeito que Lula fez com a esquerda em 2018. Isso ajuda o petista.
Para além de tudo, Lula é o incumbente, o sujeito sentado na cadeira e com a caneta na mão. O Congresso está votando o fim da reeleição, mas a mudança só valerá em 2030. Em 2026 ele ainda será favorito.