Cena Política | Análise

Igor Maciel: Entre as cadeiradas e as propostas para a eleição de 2026

Talvez tenhamos candidatos preocupados em desconstruir algum cantor, ator, coach, egresso do Big Brother ou coisa do tipo, que vai ameaçar a eleição.

Por Igor Maciel Publicado em 14/04/2025 às 20:00 | Atualizado em 15/04/2025 às 6:45

A política brasileira, seja à esquerda ou à direita, cada vez mais se assemelha à figura de um desesperado vendedor que, a despeito de o público não querer mais seu produto e não estar interessado em ouvir qualquer argumento, atira-se à frente dos transeuntes, interrompe sua passagem a cada dois anos, oferecendo facilidades para dificuldades que não fazem parte da rotina, enquanto a vida real e difícil do povo segue sem solução.

Pesquisas quantitativas e qualitativas publicadas recentemente atestam esse fenômeno com um público cada vez maior. A Quaest, por exemplo, mostrou que ao menos 33% dos eleitores brasileiros estão descrentes com a política. Eles não querem mais votar na esquerda e nem na direita.

Mas essa é a grande oportunidade da História para o centro? Não. Não é tão simples.

Sertanejo

Nestes 33% da população, em sua maioria, estão mulheres e pessoas com renda intermediária. Eles não recebem benefícios do governo, porque não são considerados pobres, mas também não tem uma vida minimamente confortável do ponto de vista financeiro. Precisam correr atrás para fechar as contas do mês, sofrem com a violência e com o preço alto nos mercados.

Principalmente, são pessoas que não se veem representadas no atual governo e nem acreditam que a direita seja capaz de mudar algo, porque “são todos iguais”. Esse público não acredita em mudança com os políticos e são suscetíveis a algum outsider. São atraídos por figuras como Pablo Marçal ou por cantores de música sertaneja em busca de holofotes.

Nesse caso, não tem espaço para o centro. Ao menos não para um centro com algum juízo e respeito a valores democráticos e republicanos.

Ultrapassado e equivocado

Em outro levantamento, este qualitativo, do projeto Plaza Pública, eleitores que não se identificam nem com Lula (PT) e nem com Bolsonaro (PL), mesmo já tendo votado neles, dizem que nenhum dos dois se mostrou capaz de resolver os problemas do país nos últimos anos.

Lula, segundo eles, representa uma pauta identitária e um discurso politicamente correto que “cansou”. Em relação a Bolsonaro, a grande maioria diz ser contra os posicionamentos dele em relação ao 8 de janeiro e a insistência por “anistia”. Em resumo, Lula é “ultrapassado” e Bolsonaro “equivocado”.

O fato de esses eleitores terem votado nos dois e se decepcionado, considerando que eles são tratados como “únicas opções” nos últimos anos, transfere a decepção para a política em si. Daí o campo aberto para um outsider e não para o centro.

Outsider

Significa que um outsider será o grande favorito à eleição de 2026? Não necessariamente. Esse tipo de candidato costuma derreter ao longo da campanha, mas dá trabalho antes e isso prejudica as discussões.

E não, não diga que “Bolsonaro foi um outsider eleito em 2018”. Esse termo só vale para quem não tem três décadas de mandatos legislativos e entradas em 10 partidos ao longo da vida. Depois de ter sido vereador do Rio de Janeiro nos anos 1980, o ex-presidente já não era novato.

Outsider foi Pablo Marçal, que se enfiou numa disputa pela maior cidade do país, embolou todo o processo, transformou “cadeirada” em “assunto importante” e depois derreteu.

Dá trabalho

Significa, de verdade, que em 2026 ao invés de termos uma campanha repleta de propostas para resolver os problemas imensos desse país imenso, é bem possível que fiquemos assistindo, como ficaram assistindo os paulistanos em 2024, toda a força das propagandas preocupadas em desconstruir algum outsider cantor, ator, coach, egresso do Big Brother ou coisa do tipo, que vai ameaçar a eleição de quem está alí para oferecer algum projeto sério.

Se nada mudar, teremos novas “cadeiradas”, quando esperarmos propostas para o futuro. Não é um bom cenário.

Confira o podcast Cena Política

Compartilhe