O PT que dormia no sofá do PSB parece estar querendo seu próprio espaço
Enquanto essas reflexões circulavam só por aqui ou entre discursos antipetistas, poderiam dizer que era só implicância. Agora, não mais. E isso é bom.

A relação subserviente que o PT manteve com o PSB de Pernambuco e do Recife na última década e meia não é novidade para ninguém. Nesta coluna, em várias ocasiões, usou-se a expressão “dormindo no sofá socialista” para ilustrar a situação dos petistas locais em relação aos aliados.
Não é, nem nunca foi, motivo para zombaria, mas para a reflexão de um partido que já esteve protagonista da política do Recife, com toda a chance de ampliar esse alcance para Pernambuco, mas estancou no caminho. E chama atenção que o impeditivo para que o PT crescesse não foi a oposição, mas a satisfação estranha de servir a um aliado em troca de um sofá para dormir ao invés de conquistar e manter seu próprio espaço.
Do PT
Enquanto essa reflexão circulava apenas por aqui ou entre discursos antipetistas em debates eleitorais, poderiam dizer que era só implicância ou interesse de campanha. Mas agora é um integrante do próprio PT de Pernambuco que admite a necessidade de o partido se afirmar melhor por aqui, principalmente no Recife.
E ele disse isso em entrevista à Rádio Jornal, no programa Passando a Limpo, com toda a clareza necessária e o pragmatismo correto para se construir algo que ultrapasse o proselitismo barato.
Recuperação
Pedro Alcântara (PT) anunciou que é candidato ao comando do diretório municipal do partido na capital pernambucana, que atualmente vive embarcado no projeto do PSB em troca de benefícios que, em todos esses anos, nunca foram capazes de devolver qualquer brilho à sigla.
“A gente tem batido muito na tecla da recuperação da força do PT em Recife. Isso passa pela afirmação da autonomia do partido. Isso passa pelo resgate do legado que a gente tem aqui em Recife”, declarou.
Passado
Pouca gente lembra, mas o PT foi protagonista da política recifense durante o governo de João Paulo (PT) como prefeito. O então gestor municipal conseguiu criar uma parceria com o governo federal de Lula, na época, e soube conduzir a cidade mesmo tendo o governador Jarbas Vasconcelos (MDB), entre 2000 e 2006, como adversário.
Na verdade, Jarbas e João Paulo chegaram a criar parcerias importantes, deixando a rivalidade de lado, para beneficiar a capital. Algo difícil de imaginar hoje.
Aliança
Na entrevista, Pedro Alcântara lembrou dessa época e acabou fazendo uma comparação entre as mortes por deslizamentos de barreiras naquela época e hoje, nos governos do PSB.
“Na época do governo João Paulo, em oito anos, houve pouquíssima incidência de mortes em acidentes com barreiras. Mas de 2021 até aqui, em quatro anos, já foram mais de 50 mortes”, declarou, para complementar: “Se tiver que fazer aliança, continuar em aliança, fazer, continuar. Agora, é o que eu tenho dito, para se aliar não é preciso se apagar”.
Umbigo
Alcântara foi lançado para disputar a presidência do partido na capital dentro de um movimento com nomes tradicionais do PT, como João Paulo, Fernando Ferro e Humberto Costa, mas também de jovens como a vereadora do Recife Kari Santos (PT).
Se ele vai ter sucesso e se, com a eleição, o PT municipal vai conseguir trilhar um caminho próprio, coletivo, ao invés de ficar dependendo do sofá socialista, é outra questão.
Mas, ao que parece, finalmente alguém acordou para algo além do umbigo no PT local. E isso merece registro.