A velocidade do miolo de pote que ameaça Lula e seu lento governo
Não é que as pessoas deixaram de ser bobas. Não. As pessoas ainda são ingênuas e consomem miolo de pote como se fosse ampla verdade científica.

A vida passou, o mundo mudou, Lula insiste em agir da mesma forma de antes, no mesmo ritmo de antes. E se tudo der errado a culpa vai ser de todos, menos dele. Igual a antes. As narrativas lulistas ficaram famosas no passado. Era comum se dizer que até nos momentos mais difíceis o presidente era capaz de transformar um limão em limonada com dez minutos de conversa. Não funciona mais assim.
Miolo de pote
E não é que as pessoas deixaram de ser bobas. Não. As pessoas, no geral, continuam sendo ingênuas e consumindo miolo de pote como se fosse verdade científica incontestável. Mas é que elas estão mais rápidas na absorção desse conteúdo, bombardeadas por informações verdadeiras, ou não, que inundam suas vidas.
Até o gato, com sua agilidade, precisa ser mais rápido, ou fica sem comida (não confundir com “gatuno”, embora o princípio seja o mesmo).
Sem reflexo
Na realidade, neste governo que Lula começou exatamente 20 anos depois do primeiro, o presidente está demorando muito a perceber o momento de criar suas narrativas. Com a anistia, por exemplo. A gestão petista está rendida politicamente há semanas.
Bolsonaro (PL) fez duas manifestações, os deputados bolsonaristas fizeram todo o barulho possível e Lula seguiu esperando que não houvesse maioria no Congresso para tocar a questão à frente. Ele sempre prefere jogar parado neste mandato.
Será?
Não é fácil, devem ter pensado os petistas, é uma PEC, precisa de maioria absoluta na Câmara, 257 assinaturas. A maior parte da população é contrária à proposta segundo as pesquisas divulgadas. E o presidente da Câmara não vai querer brigar com o Supremo Tribunal Federal.
Tudo isso é verdade. Mas nada disso era garantia, e Lula achou que era. Por isso, acreditou que não precisava ainda assumir uma narrativa sobre as condenações ou sobre a dosimetria das penas aplicadas às pessoas envolvidas nos ataques de 8/1.
Dentro e fora
Os recados foram sendo dados de dentro e de fora. Até o ministro da Defesa, José Múcio, numa entrevista semanas atrás, declarou que via um problema na dosimetria aplicada até aquele momento.
Múcio afirmou que “garantir liberdade aos inocentes e aos que tiveram menor envolvimento nos atos extremistas é forma de pacificar o país”. Mas ficou nisso e, internamente, no PT, houve até quem o criticasse.
Depois foi Hugo Motta (Republicanos). O novo presidente da Câmara assumiu deixando claro que não iria brigar com o STF, resistiu o quanto podia, mas sempre repetindo que era preciso o governo tomar alguma posição em relação aos presos, porque havia uma pressão muito grande dos deputados. Foi ignorado.
Receita
Há menos de uma semana Motta resolveu dar até a receita: e se o próprio governo perdoasse parte dos condenados, mostrando que considera o castigo até agora já suficiente para os que se envolveram no quebra-quebra. Outra parte, os que as investigações mostraram que eram os “cabeças” da violência e que investiram diretamente contra o patrimônio, cumpririam pena normalmente e serviriam de exemplo.
Agora vai
A medida esvaziaria o discurso dos deputados que querem a anistia apenas para salvar o ex-presidente Jair Bolsonaro. O governo Lula assumiria a direção da narrativa, como benevolente, e daria argumento para que a PEC fosse rejeitada no Congresso.
Lula e seus auxiliares ficaram pensando. Conjecturaram enquanto o tempo corria veloz nos grupos de zap bolsonaristas, tomando parte de todo o vácuo sempre deixado pelo governo. E, enquanto eles pensavam, perderam o bonde.
O PL conseguiu as 257 assinaturas necessárias pela urgência da tramitação. Motta ficou sem ter como atrasar mais o processo e o texto da “anistia” deverá ser apreciado pela Câmara.
Atropelado
A maior parte da população é contra, o Brasil tem vários outros problemas mais urgentes que deveriam estar sendo tratados. Mas todo mundo vai parar agora para assistir os parlamentares tentando salvar Bolsonaro enquanto fingem que estão preocupados com os presos do 8 de janeiro.
E tudo porque Lula, famoso por criar e sustentar narrativas insustentáveis, convencendo a população sobre qualquer coisa, perdeu o tempo de tomar iniciativa, leu mal o campo e, ao invés de aparecer pro gol, levou uma bolada. Mais uma.
Ninguém espera que Lula volte a ter agilidade para enganar ninguém, mas se ele não for capaz de reagir à velocidade com que a oposição se move, é o Brasil que para e os problemas verdadeiros da população que ficam em segundo plano. Toda ação tem consequência. E falta de ação também é agir.