Cena Política | Análise

Igor Maciel: O melhor negócio do Brasil para quem quer ganhar dinheiro fácil

Dinheiro vira prefeito, prefeito vira deputado, deputado vira mais dinheiro. E assim por diante enquanto a elástica paciência do eleitor suportar.

Por Igor Maciel Publicado em 10/04/2025 às 20:00 | Atualizado em 11/04/2025 às 6:40

Atenção, você que pensa em empreender, quer ter um negócio lucrativo, que entrega a você facilidades, influência e um fluxo de caixa contínuo garantido. Nesse negócio há isenção de impostos sobre renda, patrimônio e serviços garantidos por lei. É isso mesmo que você leu. Fluxo financeiro contínuo, dinheiro entrando sem esforço e isenção tributária para não ter que pagar imposto a ninguém.

Mas não pare a leitura ainda, porque a oportunidade que você vai conhecer aqui é única no mundo. Imagine receber uma bela fatia de um mercado que movimenta, por ano, um volume de recursos da ordem de R$ 1,3 bilhão, dividido por vinte e poucos CNPJs apenas. Um clube fechado e exclusivo de beneficiados com acesso a esse dinheiro e do qual você pode fazer parte sem precisar produzir absolutamente nada, sem riscos e com garantia de que, faça chuva ou faça sol, o dinheiro estará na sua conta.

Sem contar que, a cada dois anos, todos têm direito a uma fatia extra, de cerca de R$ 5 bilhões, a serem divididos para as janelas de oportunidade em que você poderá crescer e acumular ainda mais dinheiro. Tudo isso, repito, sem pagar imposto e sem prestar contas a ninguém.

Esse empreendimento existe, ele já é realidade no Brasil, e é chamado por aqui de “Partido Político”.

O partido

O melhor e mais robusto negócio desse país não está na indústria, nem nos serviços ou no agro, mas nas instituições partidárias criadas para dar guarida aos políticos do país. Não é preciso produzir nada, não é preciso oferecer nenhum serviço à população, basta existir. E é daí que se entende porque há tanta briga para comandar essas siglas.

Nos últimos dias tivemos briga em Pernambuco pelo MDB (e haverá mais). Disputas recentes e traumáticas aconteceram no União Brasil nacional. No PT, do presidente Lula, tudo leva a crer que haverá um bate-chapa sangrento pelo poder.

As batalhas não devem parar por aí, já que estamos no período importante em que as siglas começam a vislumbrar o dinheiro que receberão para a eleição de 2026. É o momento de assumir protagonismos internos.

PT

O PT é um caso interessante. Rui Falcão, que já foi presidente da sigla e parece ter desembarcado há poucos dias da União Soviética, enfrentará o preferido de Lula, o “pecador quase capitalista” Edinho Silva.

Em todos os casos, em todas as brigas por comando partidário, há discursos sobre ética, o futuro das bandeiras ideológicas internas, estrutura política básica e resultados eleitorais, do jeito que há no PT.

Mas, se o leitor quer a verdade e nada além da verdade, a briga real acontece por dinheiro. E acontece também por poder, que garante mais dinheiro, num ciclo sem fim de punhos cerrados, demagogia inflamada e bolsos bem abastecidos.

Ciclo

Na eleição de 2024, por exemplo, o PT que Rui Falcão quer “salvar dos liberais capitalistas de centro”, embolsou quase R$ 620 milhões apenas para gastar com as campanhas.

O dinheiro, do pagador de impostos, foi usado para eleger prefeitos que vão dar base ao partido na busca por deputados. Quem consegue mais deputados, leva uma fatia maior do fundo partidário e eleitoral ao longo dos anos. E aí terá mais dinheiro para eleger mais nomes do partido e alcançar uma fatia ainda maior.

É o melhor negócio do mundo, sustentado pelo suor dos brasileiros. Falcão nem pensa em mudar isso. Só quer assinar os cheques mesmo.

PL

Essa é a lógica com todos os partidos. O PL de Bolsonaro, inclusive, é o que recebe a maior fatia do Brasil desse dinheiro. Em 2024, a sigla bolsonarista recebeu mais de R$ 800 milhões para suas campanhas.

O ciclo no PL é o mesmo de todos os outros partidos: dinheiro vira prefeito, prefeito vira deputado, deputado vira mais dinheiro. E assim por diante enquanto a incrivelmente elástica paciência do eleitor suportar.

Nos próximos meses, vários desses partidos irão ter disputas internas de olho nas eleições de 2026. O período de mudanças nos partidos em que existe essa possibilidade é o ano anterior à eleição geral, antes de se definirem os valores do próximo Fundo Eleitoral. Alguns, nesses próximos meses, trocarão de presidente pacificamente, outros terão batalhas prolongadas, haverá críticas e elogios de lado a lado.

Segure

Os discursos dos novos presidentes serão de “fortalecimento” e “defesa da representação democrática que os partidos simbolizam”.

A conversa de “partido forte” tem um componente malandro que une a promessa de mais dinheiro para todos, mais poder de influência para conseguir cargos públicos e um tom de paixão política com demagogia avançada.

Mas, caro leitor, segure sua ingenuidade com toda a força que for possível já que o dinheiro que você paga para que os partidos se sustentem não há mais como segurar. Ninguém é inocente no ambiente. E a única força que importa é a de quem comanda esse negócio bilionário.

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