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Desigualdade racial persiste: profissionais negros ganham até 34% menos que brancos em cargos de chefia, aponta IBGE

Desigualdade salarial permanece em todas as ocupações, e negros seguem sub-representados em cargos de chefia mesmo com escolaridade equivalente

Por Agência Brasil Publicado em 03/12/2025 às 13:36

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A disparidade salarial entre trabalhadores brancos e negros continua marcando o mercado de trabalho brasileiro, mesmo em posições de alta qualificação.

Dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que pessoas pretas ou pardas que ocupam cargos de direção e gerência ganham, em média, 34% menos que os brancos na mesma função.

Enquanto diretores e gerentes brancos recebem R$ 9.831, profissionais negros recebem R$ 6.446 – uma diferença de R$ 3.385.

O levantamento considera trabalhadores com 14 anos ou mais e mostra que a desigualdade, embora menor que os 39% registrados em 2012, segue estrutural: em 2023, o percentual era de 33%.

O instituto usa as categorias “pretos” e “pardos”, mas, conforme o Estatuto da Igualdade Racial, ambas compõem a população negra — grupo que representa 55,5% dos brasileiros, segundo o Censo 2022.

Disparidades em todos os grupos ocupacionais

A pesquisa analisou dez grandes grupos de ocupação e constatou que, em todos, os brancos ganham mais. As maiores diferenças aparecem entre:

  • Diretores e gerentes: R$ 3.385 a mais para brancos
  • Profissionais das ciências e intelectuais: diferença de R$ 2.220
  • Agropecuária e pesca: R$ 1.627
  • Técnicos e nível médio: R$ 1.238

A menor distância salarial aparece entre forças armadas e segurança, onde brancos recebem R$ 934 a mais.

Mesmo nos setores de menor remuneração, como “ocupações elementares”, a desigualdade persiste – brancos ganham R$ 262 a mais.

Negros seguem sub-representados em cargos de liderança

Além da diferença salarial, o estudo evidencia a desigual distribuição dos postos de trabalho. Apenas 8,6% dos trabalhadores negros estão em cargos de direção e gerência, ante 17,7% dos brancos.

Na base da pirâmide, a lógica se inverte: 20,3% dos negros atuam em ocupações elementares, quase o dobro dos brancos (10,9%).

Diferença permanece mesmo com diploma

O IBGE mostra que, mesmo entre pessoas com ensino superior, o rendimento não se iguala.

Brancos com diploma ganham R$ 43,20 por hora. Negros com o mesmo nível de escolaridade recebem R$ 29,90. A diferença é de 44,6%, a pior entre todos os níveis de instrução.

Segundo o pesquisador João Hallak Neto, a desigualdade persiste porque a escolaridade não garante inserção igualitária. 

“Não importa apenas a graduação, mas como a pessoa consegue se inserir no mercado. Há diferenças na progressão da carreira e no tipo de ocupação exercida”, afirma.

Renda média e informalidade aprofundam o abismo

Na média geral dos dez grupos ocupacionais, um trabalhador branco ganha R$ 4.119, enquanto pretos e pardos recebem R$ 2.484 – 65,9% a menos.

A desigualdade também aparece na informalidade:

  • Pretos e pardos: 45,6%
  • Brancos: 34%
  • Média nacional: 40,6%

A combinação de salários menores, menor presença em cargos de chefia e maior exposição à informalidade reforça o quadro estrutural de desigualdade racial, que persiste mesmo após avanços educacionais das últimas décadas.

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