Giro Metropolitano: Ainda há esperança para o turismo no Litoral Norte de Pernambuco?
Apesar do potencial, o Litoral Norte sofre com o abandono; Empresários e líderes locais se mobilizam para recuperar o turismo na região

Clique aqui e escute a matéria
O Litoral Norte de Pernambuco, com suas praias históricas e belezas naturais, já foi um dos destinos mais desejados do estado. De Maria Farinha à Ilha de Itamaracá, passando por Carne de Vaca, a região combina manguezais, águas calmas e sítios históricos como o Forte Orange. Mas hoje, o retrato é outro: abandono, falta de estrutura e distanciamento do poder público afastam turistas e frearam o desenvolvimento.
Em debate no videocast Giro Metropolitano, da Rádio Jornal, os empresários Antônio Júnior, presidente do Trade Litoral Norte PE, e Roberto Lima, diretor da associação e dono do restaurante Fogão do Céu, analisaram os principais problemas que colocam em xeque o futuro turístico da região.
O maior desafio: infraestrutura
De acordo com os convidados, o abandono de rodovias, a ausência de saneamento e a degradação das áreas de lazer estão no centro da crise turística. “Sem infraestrutura, nada acontece. Falta saneamento básico, acesso, manutenção. As praias estão sendo engolidas pelo mar”, alertou Roberto. Segundo ele, em Olinda restam apenas duas praias com faixa de banho utilizável, enquanto Paulista sofre com erosão e falta de obras de contenção.
Um dos maiores entraves citados é a Rodovia Costa Dourada, via estratégica de acesso que permanece em péssimas condições.
Estigma e insegurança: o peso da desinformação
Outro ponto levantado no debate é o estigma da insegurança associado à presença de presídios, especialmente em Itamaracá. Para Antônio, esse discurso tem sido usado de forma equivocada. “Sempre houve presídio na ilha, desde os anos 80. O que mudou foi o olhar do governo, que saiu do Norte e se voltou para o Sul”, afirmou.
Enquanto isso, o Litoral Sul vive um momento de crescimento acelerado. Dados da Empetur apontam que Porto de Galinhas registrou alta de 30,6% no fluxo de turistas no primeiro semestre de 2025, em comparação com 2023. Fernando de Noronha cresceu 28,3% no mesmo período.
Dificuldade de acesso afasta visitantes
Além das estradas, o tempo de deslocamento entre a capital e os pontos turísticos do Litoral Norte é outro impeditivo. “Um turista que chega no Aeroporto do Recife leva menos de uma hora para chegar em Porto de Galinhas. Para Itamaracá, pode levar mais de duas horas e meia, se não houver engarrafamento”, destacou Roberto.
Uma alternativa proposta pelo Trade é a requalificação do aeródromo Coroa Do Avião, em Igarassu. Construído após a desativação do Aeroclube de Boa Viagem, o local possui uma pista de 1.200 metros, que poderia ser ampliada para receber voos comerciais. “Bastaria estender a pista em 300 metros para mudar completamente o acesso ao Litoral Norte”, sugeriu Roberto.
Paralelamente, discute-se a criação de um novo aeroporto em Goiana, voltado à logística industrial do polo automotivo da região. Para o Trade, investir na estrutura já existente em Igarassu seria mais viável e estratégico para o turismo.
Trade Litoral Norte: um movimento por transformação
O Trade Litoral Norte PE surgiu como uma resposta da sociedade civil organizada. Reunindo empresários, comunidades e representantes públicos, a associação busca reposicionar a região no mapa turístico do estado.
Segundo Antônio Júnior, a entidade tem 14 membros na diretoria, todos com ligação direta à região. “Somos um grupo plural, que escuta e agrega. Nosso objetivo é desenvolver, não excluir”, afirmou.
Uma das ações mais simbólicas da associação foi a elaboração de uma carta-compromisso, entregue a todos os pré-candidatos ao Governo do Estado em 2022.
A atual governadora Raquel Lyra foi uma das signatárias, e parte das obras em andamento nas rodovias da região, como a PE-01 e a PE-15, constavam nesse plano.
“O que está sendo feito hoje é fruto da carta. Está no plano de governo da governadora. Estamos acompanhando de perto”, destacou Roberto.
Potencial natural e histórico desperdiçado
Os empresários apontam que, apesar das dificuldades, o Litoral Norte ainda possui um imenso potencial turístico. Além das praias e rios, a região guarda um patrimônio histórico valioso e paisagens únicas, como o pôr do sol no Rio Timbó.
“Historicamente, o Litoral Norte é riquíssimo. Temos o maior número de embarcações do estado. Temos o pôr do sol mais bonito. Temos história, cultura e natureza. Mas faltam investimentos”, reforçou Roberto.
Antônio compartilha da mesma visão otimista: “Eu acredito muito no Litoral Norte. Temos espaço para crescer com hotéis, pousadas, bares e restaurantes. A região pode se tornar o principal destino turístico de Pernambuco”.
Atenção, qualificação e promoção
Nos últimos meses, o Trade comemora pequenas vitórias. “Já conseguimos romper a bolha. Hoje, vemos Itamaracá e Igarassu aparecendo nas redes do Ministério do Turismo”, destacou Antônio. A presença digital é um passo importante, mas longe de ser suficiente.
Um desafio apontado é a falta de mão de obra qualificada, causada, em parte, pela baixa demanda turística atual. “Quem tem comércio sofre. Ainda não há demanda suficiente para justificar treinamentos. Mas estamos nos preparando”, diz Roberto.
Para os membros do Trade, o desenvolvimento turístico precisa, acima de tudo, beneficiar os moradores locais. “Turismo só é bom se for bom para quem mora na região”, resume Roberto.
Com um plano estratégico voltado para 2030, a associação pretende tornar o Litoral Norte um destino turístico sustentável, profissional e autossuficiente.
“O ponto de partida é a infraestrutura. Sem ela, nada acontece. Precisamos de saneamento, acesso, serviços públicos e promoção do destino”, resume Roberto.
Confira ao Episódio do Videocast completo