Guerreiro aos 77

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 15/04/2016 às 6:30
guerreiro FOTO:

O designer carioca José Carlos Guerreiro, que assina a grife de joias que leva seu sobrenome, voltou ao Recife depois de 30 anos, para cantar na festa do restaurante Mingus, a convite do restaurateur da casa, Nicola Sultanum, que tem em comum com o convidado um anel de caveira. Guerreiro - que no passado pintou retratos de socialites cariocas, como Carmen Mayrink da Veiga, e desfilou para a Rhodia - descobriu-se cantor depois dos 60 anos. Mas a música, assim como essa terra, tem passagens anteriores na história dele: o pai, Randoval Montenegro, era pernambucano e "do grupo de Carmen Miranda". Leva assinatura dele o samba-exaltação "Eu gosto da minha terra", composta depois de Carmen se revelar portuguesa, como estratégia da gravadora Victor para contornar a notícia que caiu drástica aos brasileiros. Desde que se lançou à experiência de cantar, já dividiu o microfone profissionalmente com Paulo Ricardo e Luiz Carlos Miele, falecido no ano passado.

Foi também depois dos 60 anos que o designer retomou a marca de joias criada em 1970. Antes hippie chic, a grife define-se agora apenas por seu nome forte. "Não queria fazer o anel que todo mundo tem", disse ele, em almoço com o Social1 explicando por que não assume um estilo determinado. Não quer ter sua vitrine igual às outras nem pretende delimitar. Ousou ao utilizar couro, dar destaque à prata... e na prata aplicar diamante, e então não quer pôr limites à fábrica da criação e das possibilidades. A prata, por exemplo, lhe dá liberdade: menos pesada do que o ouro, gera peças mais volumosas e complexas, como o anel de encaixe; e, mais barata, reduz-se o preço e torna-se mais acessível à compra. Democratizar as peças é algo por que o designer tem simpatia. Aliás, tem grande apego pela democracia, uma vez testemunhado a falta dela, na ditadura militar.

Aos 77 e que nem na juventude, com acessórios no pescoço, nos dedos e pulsos, e camisa mostrando o peitoral - "Um tipo cafajeste. Não sou de modinha..." -, Guerreiro devia ser, lá nos anos 60, um menino do Rio daquele da música de Caetano Veloso. "Era bonito, talentoso e carioca", costuma dizer ao genro paulista, brincando, para justificar o que a vida, num fluxo do destino, lhe proporcionou - despretensiosamente, como quem tem uma estrela na testa, contracenou com Leila Diniz, na filme mexicano gravado no Rio Juego peligroso, e cantou com Liza Minelli. A canção? Fly me to the moon, de Frank Sinatra. Guerreiro, aliás, iria até a lua, se a ela o fluxo da vida lhe conduzisse.

Na foto, com Reiville Serra, franqueada da Guerreiro Joias no Recife.

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