Megaoperação no Rio: debate sobre 'bandido bom é bandido morto' volta à pauta e especialistas alertam para risco à democracia e soberania
Socióloga refuta tese da matança como política pública, questiona "Consórcio da Paz" e alerta utilização da segurança em plataformas eleitorais
            A recente megaoperação policial que ocorreu no Rio de Janeiro reacendeu um debate polêmico e recorrente no país: a tese de que "bandido bom é bandido morto". A socióloga e coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Edna Jatobá, atualmente no Rio de Janeiro, insiste que essa tese deve ser refutada.
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O tema ganhou destaque após uma reunião de governadores na cidade. Segundo relatos, os líderes estaduais aproveitaram a operação "mata-mata" para levantar uma bandeira que denominaram "Consórcio da Paz".
Jatobá, contudo, questiona a lógica por trás dessa iniciativa: "Como é que pode ser um consórcio pela paz se o produto é a morte?". Ela argumenta que a morte anunciada não pode ser política pública e que tal abordagem nunca foi eficaz para reduzir a violência.
O Brasil opera sob um estado democrático de direito, regido por uma Constituição que garante a ampla defesa, e não prevê pena de morte. Permitir a execução extrajudicial de pessoas que não tiveram acesso à defesa ou a julgamento não resultou em uma sociedade mais segura ou menos violenta.
Além disso, a especialista aponta para a seletividade dessa tese. É necessário refletir: "Para quem é bandido bom, bandido morto? Quando o bandido é de que cor? Quando o bandido vem de onde?". Ela sugere o contraste entre os criminosos comuns e aqueles envolvidos em crimes fiscais ou negação de imposto, questionando se o tratamento seria o mesmo.
Segurança, eleições e a ameaça à soberania
A preocupação com o modelo de segurança adotado estende-se ao cenário eleitoral. Observa-se a possibilidade de que o tema da segurança pública seja capturado por plataformas eleitorais. Há indícios de que as próximas campanhas eleitorais — para deputado, senador, governador e presidente — verão muitos candidatos defendendo abertamente a "matança de bandidos".
Segundo Jatobá, os governantes têm o mandato para garantir direitos e vidas, e construir políticas públicas que ajudem a viver com dignidade. Contudo, o cenário eleitoral estimula discursos exacerbados e "saídas" que são vendidas "sem nenhum pudor". Tal tendência, se persistir, pode levar a um Brasil "cada vez mais violento".
A socióloga também manifesta desconfiança em relação aos resultados de pesquisas de opinião. Uma pesquisa recente da Atlas Intel indicou que 87,6% dos moradores de favelas do Rio aprovavam a megaoperação policial. Jatobá, que acompanhava a situação no local, expressou ceticismo, afirmando que o clima nos territórios era de "medo absoluto," "revolta," e "insegurança".
Para combater o crime, é crucial agir com inteligência e dentro da lei. Em vez de focar apenas na matança, deveriam ser priorizadas ações para desfinanciar grupos criminosos e identificar suas interseções com pessoas criminosas dentro do aparato público, seja de segurança ou fiscal. Relatos de decaptações, tortura e amputações observados no IML do Rio de Janeiro demonstram a necessidade de perícia independente e rigorosa apuração para responsabilizar o Estado.
Outro ponto levantado é a proposta dos governadores de enquadrar traficantes como terroristas. Embora o Governo Lula resista a essa pressão, há um risco geopolítico grave associado a essa mudança legal. Classificar traficantes como terroristas poderia permitir que governos estrangeiros, como o dos Estados Unidos (mencionando-se o governo Donald Trump), usassem o pretexto do narcoterrorismo para realizar operações em território brasileiro, comprometendo a soberania nacional, um cenário já vislumbrado na Venezuela.
Edna Jatobá reforça que a esperança por políticas mais consistentes e duradouras precisa estar alinhada com as expectativas de eleição. A sociedade deve ter participação ativa e observar cuidadosamente as ideias e planos dos candidatos para diminuir a violência.
*Texto gerado com auxílio de IA a partir de conteúdo autoral da Rádio Jornal com edição de jornalista profissional