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Ex-secretário da Receita critica governo Lula após derrota na MP dos Impostos e vê desequilíbrio fiscal inevitável

Em entrevista ao "Passando a Limpo", ex-secretário da Receita Federal criticou populismo na política tributária e alerta para desequilíbrio das contas

Por Pedro Beija Publicado em 09/10/2025 às 18:37

A derrota do governo Lula na Medida Provisória (MP) dos Impostos, na última quarta-feira (8), acendeu novamente o debate sobre a fragilidade fiscal do país e a dificuldade do Planalto em aprovar medidas de aumento de arrecadação no Congresso.

Em meio ao impasse, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a culpar a pressão de grupos econômicos — a quem chamou de "pessoal da Faria Lima" — pela desorganização do orçamento.

Mas para o ex-secretário da Receita Federal e ex-secretário da Fazenda de Pernambuco, Everardo Maciel, o problema vai muito além das resistências do mercado. Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta quinta-feira (9), Maciel afirmou que falta ao governo — e também ao Congresso — compromisso real com o equilíbrio das contas públicas.

"Isso é demagogia completa, populismo eleitoral. A política tributária, que deveria ser técnica, virou um instrumento puramente eleitoral, às vezes beirando o ridículo", criticou.

“Não há inocentes” na crise fiscal

Para Maciel, tanto o Executivo quanto o Legislativo compartilham responsabilidades pela deterioração fiscal. Ele lembrou que as despesas do governo só podem ser financiadas por tributos ou pela emissão de dívida, e que insistir no aumento da carga tributária ou no endividamento significa apenas transferir a conta para as próximas gerações.

"Todos estão errados nessa história. Não existe convicção nem comprometimento com o equilíbrio fiscal. Quando o gasto pressiona a receita, ou se aumenta a carga tributária ou se transfere a conta para os netos", disse.

O ex-secretário também apontou que medidas como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e o crescimento do Bolsa Família têm sido tratadas de maneira populista.

"No Brasil, se comemora aumento de beneficiário do Bolsa Família. Mas o programa não deveria reduzir a pobreza? Isso só amplia a dependência da assistência social a qualquer custo, até gerando indisposição para o trabalho", afirmou.

Sobre a perda de R$ 17 bilhões com a derrota da MP, Maciel recordou que o próprio governo do PT criou desonerações e isenções que hoje pressionam as contas.

"Quem pariu Mateus que embale. Quem criou essas desonerações foi o governo Lula, assim como as isenções para o setor agropecuário e imobiliário. Todas foram feitas com objetivos eleitorais", declarou.

Reação a Haddad e promessa de Lula

Após Haddad responsabilizar “forças políticas ligadas à Faria Lima” pelo resultado da votação, Maciel ironizou as declarações do atual ministro da Fazenda.

"Quando alguém fala ‘pessoal da Faria Lima’, cria-se um rótulo que não quer dizer nada. Quem concedeu as isenções foi o governo Lula, em 2004. Dá a impressão de um batedor de carteira que grita ‘pega ladrão’ para disfarçar", disse.

O economista também tratou com ceticismo a promessa do presidente de entregar o governo com as contas equilibradas em 2026.

"Isso não daria o Prêmio Nobel de Economia. Iniciaria um processo de beatificação, porque seria um milagre. O chamado arcabouço fiscal é patético, ninguém leva a sério", disparou.

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