STF busca reduzir riscos políticos ao julgar Bolsonaro em setembro, avalia cientista político
Cientista político afirma que STF age para evitar instabilidade nas eleições, mas alerta para possibilidade de tumultos provocados pela direita

O agendamento do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para o mês de setembro, período que inclui as comemorações do 7 de Setembro, é um cálculo político para reduzir tensões futuras. A avaliação é do cientista político Adriano Oliveira, entrevistado no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, desta terça-feira (19).
Polarização em torno do STF
Segundo o cientista político, as pesquisas que tem realizado mostram uma divisão clara na percepção da sociedade sobre a Corte e o ministro Alexandre de Moraes.
“Eleitores que se dizem propensos a votar em Lula demonstram maior afeto ao ministro e ao Supremo Tribunal Federal. Já aqueles que se identificam com o centro ou com o bolsonarismo, têm baixo afeto em relação ao STF e a Alexandre de Moraes”, afirmou.
Para ele, esse cenário evidencia um problema político: “Uma instituição que era para ser vista como impessoal e imparcial acaba sendo vista a partir de uma perspectiva política, servindo a um lado”.
Cálculo para 2026
Oliveira considera que o Supremo busca evitar que o julgamento interfira nas eleições presidenciais de 2026.
“O STF não quer fazer com que as eleições de 2026 sejam tão tumultuadas como foram as passadas. Se o julgamento ocorresse em março ou abril do ano que vem, certamente teríamos muitas manifestações em Brasília e em outras capitais”, disse.
Ele acrescentou ainda que o cenário internacional também pode influenciar. “Poderemos ter tumultos convocados pelo governo americano. Não sabemos até onde o presidente Trump irá apostar, se apenas pressionando Lula ou também as instituições”.
Impacto da prisão de Bolsonaro no bolsonarismo
Questionado sobre a possibilidade de uma eventual prisão de Bolsonaro gerar convulsão social, o professor minimizou o risco.
“Se o ex-presidente for condenado e preso, nada vai ocorrer além de manifestações nas redes sociais ou em frente ao local de detenção. Não haverá tumulto generalizado. O bolsonarismo não é o lulismo em termos de radicalização”, avaliou.
Ele ponderou, no entanto, que o movimento bolsonarista se fortalece a partir do conflito. “O lulismo ganha força pelo desempenho da economia. O bolsonarismo, pela ideologia e pelo confronto. Isso explica as pressões sobre as instituições e a aproximação de Eduardo Bolsonaro com setores do governo americano”.
Confira a entrevista na íntegra
STF e a defesa da democracia
Oliveira também rebateu críticas de que o Supremo estaria “pagando para ver” ao marcar sessões na semana do 7 de Setembro. Para ele, a postura da Corte foi necessária diante das ameaças às instituições.
“O STF agiu politicamente diante de uma condição atípica: pessoas que tentaram dar um golpe no Brasil. Foi preciso que Alexandre de Moraes tivesse condutas atípicas para garantir a democracia”, disse.
Na avaliação do cientista político, a direita perde tempo ao insistir no embate institucional. “O bolsonarismo erra estrategicamente porque vive do confronto. Deveria discutir temas como inflação de alimentos, gasto público, carga tributária e segurança. Ficar debatendo a democracia é perda de tempo”, concluiu.