Definições das federações para 2026 impactam alianças de João Campos e Raquel Lyra em Pernambuco
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem até seis meses antes da eleição para validar federações; Até o momento, três federações estão formalizadas
Clique aqui e escute a matéria
As federações partidárias, criadas para unir siglas para atuarem como um único bloco nas disputas eleitorais, voltaram ao centro das articulações nacionais após União Brasil e Progressistas (PP) protocolarem, na quinta-feira (4), o pedido de registro da federação União Progressista no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O tribunal tem até seis meses antes da eleição de 2026, marcada para 4 de outubro, para validar a união dos partidos, que já havia sido sacramentada politicamente em agosto, mas enfrentava divergências nacionais que atrasaram a formalização. Se confirmada, a União Progressista será a maior força partidária do país.
As articulações mostram que, a menos de um ano das urnas, as federações partidárias deixaram de ser apenas instrumentos formais e passaram a influenciar diretamente candidaturas, alianças e o posicionamento das principais lideranças estaduais.
Em Pernambuco, onde as grandes federações têm atores competitivos, o impacto será decisivo para a configuração das chapas, à medida em que se aproxima uma eventual disputa entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife João Campos (PSB). Entenda as composições a seguir.
Federação União Progressista: União Brasil e Progressistas
A federação União Progressista, caso aprovada pelo TSE, reunirá 108 deputados federais, 12 senadores, 1.335 prefeitos e sete governadores, configurando a mais robusta estrutura política e financeira entre os partidos brasileiros.
Em Pernambuco, porém, a consolidação da federação esbarra em disputas internas. O comando local ficará com Eduardo da Fonte (PP), aliado da governadora Raquel Lyra (PSD) e pré-candidato ao Senado. Do outro lado está Miguel Coelho, presidente estadual do União Brasil e ex-prefeito de Petrolina, que também deseja a vaga ao Senado e já declarou apoio ao prefeito do Recife, João Campos.
A disputa federal adiciona ainda mais tensão ao arranjo. No plano nacional, o presidente do PP, Ciro Nogueira, defende apoio à candidatura presidencial do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Já o comando do União Brasil, sob Antonio Rueda, trabalha por uma candidatura própria do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Em Pernambuco, Eduardo da Fonte afirma não apoiar atualmente o governo Lula, apesar de já ter dividido palanque com o presidente. Miguel Coelho, que já declarou voto em Bolsonaro em 2022 e tem histórico familiar de apoio ao ex-presidente, tenta se viabilizar na chapa de João Campos, aliado de Lula, o que torna sua pretensão ao Senado ainda mais complexa.
Federação Renovação Solidária: Solidariedade e PRD
Outro bloco que passa a disputar espaço no rearranjo político é a recém-aprovada federação Renovação Solidária, formada por Solidariedade e PRD, oficializada pelo TSE na quinta-feira (4). Somados, os partidos reúnem um governador, 140 prefeitos, 10 deputados federais, 54 estaduais e mais de 2,6 mil vereadores.
Em Pernambuco, a federação será liderada por Marília Arraes (Solidariedade), que ambiciona disputar o Senado apoiando Lula e, preferencialmente, integrando a chapa de João Campos. O PRD, por sua vez, é comandado por Josafá Almeida, prefeito de São Caetano, que ao assumir o partido, em maio passado, retirou a sigla da base de Raquel Lyra e aproximou-se do PSB.
Contudo, o destino de Marília no Solidariedade pode estar ameaçado, uma vez que ela tem recebido convites de outros partidos, especialmente o PDT, onde a troca do comando estadual abriu espaço para negociações diretas com a direção nacional. Uma eventual aproximação entre PDT e PSB pode manter a ex-deputada no campo de João Campos, caso deixe a federação.
A decisão impactará também a irmã da ex-deputada, Maria Arraes, hoje na Câmara Federal pelo Solidariedade. Se Marília optar por concorrer à Câmara, Maria teria que buscar outro partido para evitar divisão de votos na legenda, sendo o PT um dos caminhos possíveis.
Federação Brasil da Esperança; PT, PCdoB e PV
A federação formada por PT, PCdoB e PV desde 2022 foi construída para fortalecer a candidatura de Lula contra Jair Bolsonaro no pleito daquele ano. O bloco controla atualmente quatro governos estaduais e 80 cadeiras na Câmara dos Deputados.
Internamente, contudo, discute sua renovação: parte do PT defende o fim da federação, enquanto outra ala trabalha por sua continuidade e até pela ampliação do grupo para sustentar a reeleição do presidente.
No cenário pernambucano, a federação reflete o racha do PT local. Parte da executiva estadual mantém alinhamento com a governadora Raquel Lyra, ao passo que o diretório do Recife integra majoritariamente a base do prefeito João Campos — divisão que também se expressa no PV. O PCdoB, por sua vez, permanece unificado no apoio ao prefeito.
Apesar das diferenças regionais, o bloco fecha questão na defesa da reeleição de Lula.
Federação PSOL-Rede
Outra federação formada em 2022 e que vinga para 2026 é a federação formada por PSOL e Rede. Os dois partidos se uniram com o objetivo de ampliar a representação dos partidos e fortalecer o campo da esquerda no país.
Na primeira eleição, em 2022, a federação elegeu 14 deputados federais, sendo 12 do PSOL e 2 da Rede, além de 28 deputados estaduais (22 do PSOL e 6 da Rede). Em 2024, a federação fez quatro prefeituras, todas da Rede, mas nenhuma em capitais.
Em Pernambuco, a federação faz oposição à governadora Raquel Lyra, enquanto no Recife faz uma "oposição independente" ao prefeito João Campos, como relatou a vereadora Jô Cavalcanti, em entrevista ao videocast Cena Política. Por outro lado, há nomes da Rede, como o deputado federal Túlio Gadelha, que são próximos da governadora Raquel Lyra.
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, a federação está representada pela deputada estadual Dani Portela. No entanto, com as especulações que ligam Dani ao PT, a federação prepara uma chapa para tentar manter a cadeira no Legislativo.
Possíveis federações para 2026
As costuras por novas federações seguem ao longo de 2025, em virtude de rupturas e possibilidades eleitorais, mas impasses ainda travam as definições.
PSB-Cidadania
Entre as possíveis uniões está a negociação entre PSB e Cidadania para uma federação. No início de 2025, o Cidadania decidiu pela dissolução da federação que formava com o PSDB desde 2022, e optou por negociar com o PSB, que hoje é presidido nacionalmente por João Campos.
Cidadania e PSB chegaram a oficializar o acordo em agosto, em Brasília. No entanto, o impasse em torno do comando nacional do Cidadania e o acordo com o PSDB (vigente até 2026) travou a federação entre os partidos.
PSDB-Podemos
Com o fim da federação PSDB-Cidadania, os tucanos partiram para negociar novos acordos para voltar a figurar em uma federação.
A conversa mais aprofundada foi com o Podemos, chegando a anunciar uma fusão em junho, mas, até o momento, não há qualquer definição para 2026, com alguns deputados já apontando que o PSDB caminhará sozinho no próximo ano.
MDB-Republicanos
Outra negociação em andamento que pode resultar em uma federação é a discussão entre MDB e Republicanos.
Em caso de concretização, uma federação MDB-Republicanos seria a maior bancada do Senado e a terceira da Câmara dos Deputados, contendo 15 senadores e 88 deputados federais. Entre os nomes fortes da eventual federação, está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em Pernambuco, uma federação entre MDB e Republicanos pode reforçar ainda mais uma candidatura de João Campos ao Governo do Estado.
No entanto, apenas o Republicanos possui paz interna no estado. O partido conta com o ministro Silvio Costa Filho na presidência estadual, que é candidato ao Senado em uma eventual chapa liderada por João Campos, com apoio do presidente Lula.
Já o MDB, comandado em Pernambuco por Raul Henry, vive uma crise interna que se arrasta ao longo de 2025. Raul é secretário de Articulação Política da Prefeitura do Recife, e já posicionou o partido ao lado de João Campos, apesar da resistência de setores do partido, como o deputado estadual Jarbas Filho e o senador Fernando Dueire.
Saiba como assistir aos Videocasts do JC