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Eleição de 2026 caminha para um comparativo das gestões da governadora Raquel Lyra e do prefeito João Campos

Nos meios políticos não há quem duvide de que a eleição será feita em cima do comparativo da gestão de Raquel, no estado, e de João na Prefeitura

Por TEREZINHA NUNES Publicado em 23/11/2025 às 9:50 | Atualizado em 23/11/2025 às 9:55

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Esta semana foi marcada por uma nova etapa no caminho da eleição do ano que vem. O prefeito João Campos, que andava fugindo de um compromisso claro com a disputa do governo do estado, ao mesmo tempo que deixava para o seu vice e sucessor Victor Marques a presença mais frequente em eventos, vistoria e inauguração de obras – como se estivesse passando o bastão – compareceu para entrevistas em emissoras de rádio nas quais se defendeu de ataques que vem recebendo na Câmara e na Assembleia por obras inacabadas, incluindo a recuperação da Ponte Giratória e do Hospital da Criança, e, pela primeira vez, usou mão de alguns petardos dirigidos à sua adversária, a governadora.

Indagado sobre o fato de Raquel ter muitos prefeitos ao seu lado afirmou que apoio de prefeito é “zero definidor” de resultado eleitoral e sobre o fato de ter muitos pré-candidatos ao Senado quando, do lado da governadora ainda não há disputa pelas vagas disponíveis, respondeu com estocada: “é muito melhor ter muita gente do que estar em falta”. O que teria levado o prefeito a se jogar tão claramente na disputa? Comenta-se nos corredores da Assembleia que, convencido de que a eleição de 2026 vai ser um comparativo da sua gestão com a da governadora e, sentindo a pressão oposicionista na própria Alepe e nas redes sociais, João começou a cuidar de sua própria defesa.

Quem é melhor?

Nos meios políticos do estado não há mais quem duvide de que a eleição para governador será feita em cima do comparativo da gestão de Raquel Lyra, no estado, e de João Campos na Prefeitura do Recife. Mas a própria governadora que, também na semana passada.

falou mais de política do que costuma fazer em função novo embate com a oposição na Assembleia Legislativa pelo adiamento da votação de um novo empréstimo, cuidou de delimitar seu próprio campo. Sabedora de que a comparação com o prefeito é certa ela, para se precaver, ampliou mais seu leque de oportunidades e sugeriu que se comparasse o seu trabalho com as das gestões anteriores (não disse mas ficou claro que estava se referindo ao PSB).

A cientista política pernambucana Priscila Lapa acredita que “a eleição de 2026 terá muito claramente o viés de avaliação de performance de gestões com forte apelo à comparação com gestões passadas do PSB e os legados que ficaram dessas gestões, porque é uma importante base para ativar no eleitor esse viés de comparação, onde a governadora, aparentemente, teria a vantagem de ser aquela que rompeu com as gestões que não estavam sendo favoráveis, ao mesmo na percepção majoritária do eleitor”.

João Campos se diferenciou

Mas faz uma ressalva, a de que o prefeito João Campos “conseguiu consolidar ao longo dos anos a imagem de um gestor arrojado, herdeiro de um legado, mas que soube dar o seu próprio tom aos processos. Assim é inevitável que essa capacidade seja colocada no centro do debate no sentido de se discutir se ele conseguiria ampliar para o estado, sem repetir os erros do passado cometidos pelo PSB”.

Não há dúvida de que as duas equipes do Governo e da Prefeitura já começaram a trabalhar com este viés. Na Alepe, após críticas dos deputados de oposição ao que chamam de lentidão da governadora – usam este discurso inclusive para se defender dos atrasos na aprovação de empréstimos – a base do Governo reagiu cobrando diretamente de João Campos, após cinco anos de gestão, a finalização da obra da orla de Boa Viagem, da recuperação da Ponte Giratória, do Hospital da Criança e do Parque Eduardo Campos, todas com a conclusão adiada diversas vezes.

Ataque e contenção

Essa providência, inclusive, levou os deputados do PSB a se retraírem mais na tribuna para não terem que responder a provocações e aumentar ainda mais a repercussão negativa sobre essas obras. Isso tem levado, inclusive, o presidente da Alepe, deputado Álvaro Porto, a assumir a liderança da oposição na casa fazendo ele mesmo discursos inflamados como o lido esta semana sobre a área de segurança. O discurso foi duro mas o deputado não se livrou dos comparativos. O deputado Joel da Harpa, que é da PM, retrucou a fala do presidente dizendo que“ tudo que Raquel está fazendo na segurança dando total condição aos policiais para trabalhar, o PSB prometeu durante 16 anos e não fez”.

 “A partir de agora quem criticar de um lado ou do outro se prepare para ouvir cobranças também”, comentou com este blog um deputado de linha independente no legislativo. No caso da Prefeitura, o próprio João Campos foi às rádios dizer que a obra da Ponte Giratória ainda não terminou porque quando o trabalho começou a ser feito se concluiu que a ponte ameaçava cair de tão deteriorada e foi necessária uma intervenção mais ampla. À respeito do Hospital da Criança afirmou que será inaugurado no primeiro semestre do ano que vem e que a ampliação do projeto original foi responsável pelo atraso. Não falou da orla e nem do Parque Eduardo Campos.

Comparativo não é suficiente

Sobre as gestões de Raquel Lyra e João Campos muito se fala em números de pesquisas de avaliação e intenção de votos. Neste aspecto o prefeito já esteve melhor mas vem perdendo alguns pontos enquanto a governadora, que estava muito abaixo, avança. Analistas de pesquisas dizem que a esta altura vale mais a percepção que o eleitor tem dos administradores do que intenção de voto. Sobre avaliação, João Campos já chegou perto dos 80% na campanha da reeleição, mas também tem reduzido este patamar para um nível mais próximo da governadora que chegou à casa dos 60% de aprovação.

Só o comparativo de gestões é suficiente em um debate eleitoral que se presume vá ser radicalizado, principalmente nos discursos? Priscila Lapa afirma que a avaliação de uma administração é um grande impulsionador da escolha do eleitor, desde sempre”. No ano que vem ela diz que também vai ser discutido não só no estado mas nacionalmente – a eleição de presidente é casada com a de governador e senador – quem é o ator político responsável por determinada demanda da população.

- “Por exemplo – continua ela - o presidente da Republica é claramente responsabilizado pelo estado da economia. Para o cargo de governador esse processo de responsabilização se torna mais difuso. Mas a pauta da segurança se tornou, ao longo dos anos, um pilar importante para o eleitor avaliar a capacidade do governador”. Não à-toa que a governadora Raquel Lyra colocou os laranjinhas nas ruas, tem tornado as solenidades de formação de PMs e Policiais Civis em grandes atos com a presença dos formandos e seus familiares e que esta segunda-feira perfilou na frente do Palácio dezenas de viaturas novas, helicópteros, drones e até fuzis durante entrega de novos equipamentos aos policiais.

Como forma de comparativo, dois dias depois o presidente da Alepe fez seu discurso atacando o trabalho na segurança e foi elogiado pela oposição mas duramente rebatido pelos governistas. E a disputa está apenas começando.

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