Manifestação de Bolsonaro reuniu 12 mil pessoas na Avenida Paulista, diz monitor ligado à USP
Ex-presidente afirmou que, caso a direita bolsonarista conquiste maioria na Câmara e no Senado em 2026, será possível "mudar o destino do Brasil"

A manifestação "Justiça Já", organizada neste domingo, 29, na Avenida Paulista, pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) e pelo pastor Silas Malafaia, reuniu cerca de 12,4 mil pessoas, segundo estimativa do Monitor do Debate Político do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) - instituição ligada à Universidade de São Paulo - e da ONG More in Common. Este foi o menor número de participantes em atos, em São Paulo, desde que ele deixou o governo, no fim de 2022.
A contagem foi feita no pico do ato, às 15h40, com base em 34 imagens aéreas analisadas por inteligência artificial. Cinco imagens captadas por drone foram selecionadas para a contagem, abrangendo dois pontos de concentração na Paulista.
O monitor usou o método P2PNet (Point to Point Network), criado por pesquisadores da Universidade de Chequião, na China, em parceria com a Tencent. A margem de erro é de 1,5 mil pessoas para mais ou para menos.
Para comparação, na manifestação realizada em 6 de abril, em defesa da anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, também na Paulista, o monitor contou 44,9 mil pessoas.
Queda no público
O público vem caindo a cada manifestação. Em fevereiro de 2024, quando o ex-presidente esteve na mesma avenida pedindo anistia aos condenados do 8 de Janeiro, 185 mil pessoas passaram por lá, segundo o monitor da USP. Já no último dia 6 de abril foram 44,9 mil.
Sóstenes Cavalcante atribuiu o baixo comparecimento à proximidade das férias de julho e ao jogo do Flamengo contra o Bayern de Munique pela Copa do Mundo de Clubes.
Discursos e apoios
Durante o ato deste domingo, Bolsonaro afirmou que, caso a direita bolsonarista conquiste maioria na Câmara e no Senado em 2026, será possível "mudar o destino do Brasil".
"Inclusive, não interessa onde eu esteja, aqui ou no além. Quem estiver na liderança vai mandar mais que o presidente da República", disse ele.
Inelegível até 2030, o ex-presidente tem focado na eleição de aliados para o Legislativo, com vistas a avançar em pautas como pedidos de anistia e cassação de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Estiveram presentes os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Jorginho Mello (PL) de Santa Catarina, e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) conversou com a imprensa antes do início do ato e disse que a manifestação pede "não perseguição" a parlamentares da direita e a Bolsonaro.
Já o vice-prefeito de São Paulo, coronel Ricardo de Mello Araújo, disse que representava o prefeito Ricardo Nunes, que está em viagem oficial a Roma. À imprensa, ele defendeu que os atos golpistas de 8 de Janeiro não foram um golpe, e sim "depredação de patrimônio público".
Ele ainda afirmou que quer Bolsonaro candidato a presidente em 2026, com Tarcísio de Freitas concorrendo à reeleição.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, manifestou-se sobre sua entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em que disse que um candidato apoiado pelo ex-presidente em 2026 deve brigar com o STF pelo indulto aos golpistas, se necessário, incluindo até "o uso da força".
Ao Estadão, Flávio afirmou que "não é algo que eu defendia, ou que eu trabalharia a favor disso". "Foi uma análise de cenário que pode acabar acontecendo se o próprio Supremo não reverter essas bizarrices jurídicas capitaneadas por Alexandre de Moraes."
O senador se refere ao julgamento de Bolsonaro e de outros membros de sua cúpula de governo pelo ministro do STF, sob a acusação de tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Durante interrogatório no dia 10 de junho, o ex-presidente admitiu ter mostrado uma minuta ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, mas negou ter tentado golpe de Estado. Assumiu também ter recebido sugestões para decretar estado de sítio no País.