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Relação Brasil-China avança, mas investimentos exigem mais eficiência do governo, avalia professor em Pequim

Especialista afirma que relação bilateral nunca esteve tão boa quanto agora, mas que Brasil precisa corrigir distorções para atrair mais recursos

Por JC Publicado em 15/05/2025 às 12:19

Em meio à crescente disputa comercial entre Estados Unidos e China, a recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao gigante asiático foi vista como estratégica para o fortalecimento da parceria entre os dois países.

Para Marcus Vinícius de Freitas, professor da Universidade de Relações Exteriores da China, a viagem consolidou o bom momento do relacionamento bilateral, mas evidenciou também as dificuldades estruturais do Brasil em transformar oportunidades em investimentos de maior escala.

Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, Freitas apontou que a rivalidade entre Estados Unidos e China abre espaço para o Brasil se posicionar como fornecedor alternativo de produtos antes exportados pelos americanos.

“Nós somos um substituto razoável para a demanda de produtos americanos e, por outro lado, isso gera para nós algumas complicações com relação aos Estados Unidos, que pode sempre colocar a nossa pauta comercial num jogo de negociação”, afirmou.

Para o professor, a relação entre Brasil e China “nunca esteve tão bem”, especialmente após o período de distanciamento ideológico durante o governo Bolsonaro. “O Brasil tem sido considerado pela China um parceiro importante. Existe aí um interesse muito grande em ampliar o relacionamento bilateral”, completou.

Reprodução
O professor Marcus Vinícius Freitas - Reprodução

Investimentos chineses

Questionado sobre o volume de investimentos anunciados durante a visita — cerca de R$ 27 bilhões — Freitas rebateu a percepção de que o valor seria baixo. Segundo ele, o problema está na visão inflacionada dos custos no Brasil.

“Os números no Brasil não correspondem a uma realidade. Eles são extremamente inflados. Isso se deve a ineficiências, a um marco legal complicadíssimo, à atuação do Ministério Público que atrapalha muitas vezes as obras públicas e à falta de projetos”, argumentou.

O professor destacou que a China precisa avaliar com cautela como seus recursos serão aplicados no exterior. “O que o Brasil precisa fazer, e eu sempre comento isso, é realmente construir um capitalismo nacional com empresas brasileiras que cresçam, que criem e que inovem”, pontuou.

Freitas ressaltou ainda a diferença de retorno sobre investimentos. “Os múltiplos que você tem aqui na China são muito maiores do que aqueles que são oferecidos pelo Brasil. A renda per capita chinesa hoje em dia é maior que a brasileira. Qualquer investimento na China dá um maior retorno do que no Brasil”, afirmou.

Falta de poupança e obstáculos ao desenvolvimento

O especialista apontou a falta de poupança interna como um dos grandes entraves ao crescimento econômico brasileiro. “Toda vez que a gente fala dessa necessidade de atrair investimentos estrangeiros, isso significa, em primeiro lugar, que está faltando poupança nacional. E a falta de poupança nacional, em razão da corrupção, do peso do Estado e de uma série de coisas, é que é o grande entrave”, disse.

Apesar das dificuldades, Freitas acredita que o nível de investimentos chineses no Brasil tende a crescer, desde que o país ofereça projetos viáveis e transparentes. “Existe um ditado chinês que diz assim: construa a estrada e fique rico. O problema é que, no Brasil, muitas vezes as pessoas querem ficar ricas construindo a estrada, e não depois dela”, afirmou.

Gafe diplomática na regulação das redes sociais

Sobre o pedido do governo brasileiro para que a China auxilie na regulamentação das redes sociais no Brasil, Freitas avaliou que a solicitação foi mal conduzida. Para ele, o episódio revelou uma falta de compreensão sobre a estrutura de governança chinesa.

“A viagem estava indo muito bem até aquele momento. O presidente Lula maculou toda a imagem da China com relação a essa ideia de que os chineses estão controlando tudo o tempo inteiro, o que já não é uma realidade na China há muito tempo”, analisou.

Freitas explicou que o pedido deveria ter sido feito diretamente à empresa responsável, como o TikTok, e não ao governo chinês. “O governo não intervém em empresas da maneira como a gente pensa. São duas classes bem separadas. A função do Estado é gerar a plataforma pela qual as coisas andem”, destacou.

O professor elogiou a resposta do presidente Xi Jinping, que classificou a regulação das redes sociais como um tema doméstico do Brasil. “A resposta do presidente Xi foi a mais coerente possível. O presidente Lula foi mal assessorado no momento da pergunta, no momento do protocolo e também no fato de ter dado uma resposta que não era necessária”, concluiu.


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