'Governo Lula está reagindo, mas não sabemos se vai continuar', avalia Antônio Lavareda sobre pesquisas recentes
Cientista político analisou os números de aprovação e reprovação obtidos por Lula nas pesquisas Datafolha e Quaest divulgadas na última semana

As pesquisas eleitorais divulgadas na última semana pelos institutos Quaest e Datafolha mostraram um resultado semelhante obtido pelo presidente Lula (PT), mas com nuances diferentes: os dois relatórios apontaram que a reprovação do petista está superior à aprovação, mas no resultado da Folha de São Paulo esse índice negativo diminuiu em relação ao questionário anterior, enquanto no levantamento encomendado pela Genial Investimentos o número subiu vertiginosamente.
Na pesquisa Datafolha, Lula somou 38% de reprovação — três por cento a menos que a última pesquisa do instituto, realizada em fevereiro. Já a aprovação foi de 29%, uma alta de cinco pontos. A distância entre a aprovação e a reprovação ficou em 9 pontos percentuais.
Na Quaest, a reprovação de Lula bateu recorde e chegou a 56%, uma alta de 7 pontos em relação à pesquisa anterior, feita no mês de janeiro. Já a aprovação caiu seis pontos, e se fixou em 41 por cento. A distância entre os dois índices, portanto, é de 15 pontos.
Para o cientista político Antônio Lavareda, as pesquisas foram realizadas em momentos diferentes, o que explicaria os resultados divergentes. Segundo ele, o intervalo de tempo existente entre um levantamento e outro pode interferir na interpretação dos números.
“A Quaest não havia realizado pesquisa em fevereiro, realizou apenas em meados de janeiro. Depois fez uma pesquisa em 30 de março, olhou os dois momentos e concluiu que havia uma queda na avaliação do governo. Não levou em conta que entre janeiro e março havia fevereiro”, avaliou o especialista durante entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta segunda-feira (7).
Fazendo uma analogia a uma avaliação médica, Lavareda explicou que esse intervalo mais amplo observado no histórico da pesquisa Genial/Quaest poderia resultar num “diagnóstico equivocado”.
“O próprio jornal Folha de São Paulo atenuou o resultado da medição e falou numa ‘leve melhora’, mas está errado. O movimento foi vigoroso. O ‘ótimo e bom’ foi de 24 para 29. O ‘ruim e péssimo’ era 41 e recuou para 38. O saldo [de diferença entre os índices] sai de 17 para 9, é um movimento combinado de oito pontos. Em qualquer governo, isso seria comemorado. Provavelmente o governo Lula deve ter comemorado”, apontou o cientista político.
Entre os fatores que poderiam ter colaborado para essa melhora na avaliação do governo apontada pelo Datafolha, estaria a redução no número de notícias negativas sobre as ações do governo, aliada a medidas governamentais anunciadas pela gestão do petista, como o projeto de isenção do Imposto de Renda para contribuintes que recebem até R$ 5 mil, o crédito consignado para empregados celetistas, e a melhora na articulação política com o Congresso vista na viagem para o Japão e para o Vietnã.
Por outro lado, a inflação dos alimentos ainda é muito presente, o que pode ter elevado o índice de reprovação. Contudo, o cientista político entende que esse é um tema sobre o qual “o governo pouco pode fazer” — embora tenha anunciado medidas tarifárias com o objetivo de tentar baratear alguns itens da alimentação.
“O noticiário está mostrando que o preço do chocolate da Páscoa tá bem superior ao que foi no ano passado. O preço do cacau subiu 200%. Tem alguma coisa a ver com o governo? Não. E sim com uma crise na Costa do Marfim, outro produtor de cacau importante no mundo. E esses preços de gêneros alimentícios, inclusive, como de outras commodities, são preços internacionais, globalizados”, apontou.
“Em suma, governo Lula reagindo do final de março para início de abril, e o que temos é essa recuperação. Se ela vai continuar ou não, não podemos saber”, completou Lavareda.
“Lula não está morto”
O cientista político também apontou que Lula, enquanto presidente em exercício, teria as chamadas “vantagens do incumbente”, fatores que, em tese, ajudam um candidato que está em mandato a conquistar uma eleição.
“A taxa de reeleição no mundo é muito elevada. No Brasil, nós sabemos que a taxa de reeleição também é elevada. Dos três presidentes que tentaram a reeleição, só Bolsonaro não conseguiu, e chegou muito perto. Então é verdade, Lula não está morto e a mesma pesquisa Datafolha mostra que Lula lidera no primeiro turno e no segundo turno”, aponto o especialista.
Lavareda completou afirmando não achar adequada a presença de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais como candidato à presidência da República em 2026, uma vez que está inelegível.
Segundo ele, a inclusão do nome de Jair entre os possíveis candidatos nesses questionários pode influenciar o resultado das intenções de voto, ainda que existam cenários em que ele não é considerado entre as opções.
“Você supor que Bolsonaro pode escapar de condenação na Justiça no processo da suposta trama golpista já é implausível. E depois disso, a inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral, aí já é a raia do absurdo. A possibilidade de ocorrer isso é praticamente nenhuma. Então, não é adequado, no meu entendimento, você colocar alternativas irreais para os respondentes de uma pesquisa de opinião pública, no caso uma pesquisa eleitoral”, opinou.
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