MDB vai às urnas dividido entre as candidaturas a presidente de Fernando Dueire e Raul Henry.

A onda de desentendimentos internos nos partidos políticos que vem sendo observada em Pernambuco nos últimos tempos, com políticos da mesma legenda defendendo posições díspares, atingiu em cheio o MDB, partido onde a figura do ex-governador e senador Jarbas Vasconcelos – um dos maiores prefeitos do Recife e governadores que Pernambuco já teve – ainda permeia a mente de todos que com ele conviveram e trabalharam ao longo do tempo.

Estão na luta pela presidência do partido, em convenção marcada para o início do segundo semestre, o senador Fernando Dueire, que tem o apoio do deputado estadual Jarbas Filho, tido como o herdeiro político do pai - Dueire foi escolhido pelo próprio Jarbas para ser secretário de infraestrutura do estado e seu suplente no Senado na eleição de 2018 - e o ex-deputado federal Raul Henry, amigo do ex-governador desde a juventude e que pleiteia a reeleição como atual presidente estadual da legenda.

Passo em falso de Raul?

Esta sexta-feira, a disputa, que estava restrita aos bastidores, veio à tona depois que a assessoria de imprensa de Jarbas distribuiu nota em que ele se posiciona a favor do grupo partidário liderado por Fernando Dueire e Jarbas Filho para assumir o comando emedebista. A ação de Jarbas deveu-se a um discurso que Raul Henry fez no Congresso Municipal do PSB em que, citando o “o MDB de Jarbas”, afirmou: “tem gente querendo que o MDB vá para o outro lado, mas o MDB vai ficar aqui, porque aqui é o nosso lugar. Aqui é o lado certo da história”.

A declaração aconteceu na mesma semana em que Fernando Dueire deixou claro que pretende se candidatar à reeleição no Senado e que recebera do MDB nacional o compromisso de apoiar a legenda que lhe garantisse a disputa pelo cargo. A declaração de Raul seguiu-se a ação de partidários seus – o que chegou ao conhecimento de Jarbas – que ligaram para lideranças partidárias na capital e no interior pedindo para assinarem lista de apoiamento à candidatura a reeleição do ex-deputado.

Freio de arrumação

Foi nesse contexto, como apurou este blog com diversas fontes, que o pronunciamento de Jarbas foi feito como um freio de arrumação no momento em que as conversas sobre 2026 ainda estão no início. Raul, no entanto, reagiu fortemente e soltou uma nota afirmando que “as condições de saúde de Jarbas o impossibilitam de fazer avaliação dos fatos políticos”e acusando indiretamente Dueire e Jarbas Filho de exploração da imagem do ex-governador.

Em resposta, Jarbas Filho rebateu: “quem usurpa e se aproveita do meu pai é Raul Henry e não é de hoje”. O bate-boca teve grande repercussão nos meios políticos mas a nota de Raul foi a que mais causou comentários indignados nos bastidores políticos e entre os jarbistas mais próximos do ex-governador.

Desentendimentos vêm de longe

Toda essa querela foi gerada da noite para o dia? Não, ela vem, como os emedebistas comentam, desde a campanha de Jarbas para o Senado em que “a turma do debate”, como citava o próprio Raul nos bastidores, passou a ter mais influência no jogo político do que a “a turma do MDB”, como se falava na época no Centro Debate, o escritório político do ex-governador. Os dois grupos eram protagonizados pelo próprio Raul, na sede do MDB do qual já era presidente, e no Debate pelo próprio Jarbas, Fernando Dueire - que viria a ser o suplente em 2018 e que acabou senador quando Jarbas renunciou ao mandato, -e Jarbas Filho.

A partir daí não foram mais possíveis grandes consensos e estava selada a divisão que permeia até hoje. Fernando Dueire, que assessorou Jarbas desde que ele deixou o Governo do Estado, se aproximou da direção nacional emedebista e Raul foi perdendo o protagonismo que tinha quando era deputado federal. Hoje dos 12 prefeitos eleitos pelo MDB, 10 estão com Dueire e Jarbas Filho e dois – um deles o prefeito de Vitória de Santo Antão, Paulo Roberto Arruda – se alinha com Raul. Do mesmo grupo faz parte a deputada federal Iza Arruda, filha do prefeito.

Fernando assume candidatura a presidente

Ainda é cedo para prognósticos mas uma liderança emedebista pedindo anonimato deu seu palpite: “Raul com a nota que deu sobre Jarbas perdeu muitos pontos e vai ter dificuldade para se recuperar”. Fernando Dueire, por outro lado, que estava calado, virou candidatíssimo a presidente. A este blog ele informou que deseja assumir a presidência “para que o MDB volte a ser um partido plural que ouve a todos e não onde um decide o que os outros devem fazer”.

Segundo ele, “é preciso defender o legado do partido que sempre foi na linha de Jarbas, de ouvir muito antes de decidir”. Nesse sentido a fala de Raul no Congresso do PSB foi tida como pessoal mas colocada em um contexto partidário. Dueire diz que nada está definido sobre 2026 “ por isso ninguém pode propagar uma decisão que não foi tomada. Não há lado pré-determinado. A minha posição é a que for a melhor para o MDB”. Nos corredores do Debate, ele vinha se queixando esta semana dos inúmeros telefonemas que estava recebendo de lideranças do interior perguntando se o partido tinha resolvido apoiar João Campos, e citando a fala de Raul no encontro socialista.
Foi aí que o caldo entornou.